quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Educação no PISA 2006: destaques do Brasil a considerar


A melhora do Brasil em matemática é destacada no relatório do Pisa. Foram 13 pontos de diferença com relação a 2003; só México, Indonésia e Grécia avançaram mais. Quem elevou a nota do País foram os estudantes que estavam nos piores níveis de aprendizagem e que melhoraram desde 2003. “São eles que tinham mais espaço para crescer e isso é importante que tenha acontecido”, diz o especialista em avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Francisco Soares.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, João Lucas Marques Barbosa, o resultado pode estar relacionado à proliferação das olimpíadas de matemática pelo País. Há três anos, foi criada uma competição nacional para estudantes de escolas públicas. “Esses eventos descobrem talentos e mudam a idéia de que matemática é um bicho-papão, principalmente entre as crianças mais pobres”, diz Barbosa. Para ele, efeitos maiores serão sentidos em cerca de dez anos.

Em leitura, ocorreu o oposto que em matemática. Os melhores alunos do País aumentaram suas notas em 23 pontos, enquanto os que já eram ruins caíram em mais de 30 pontos. O exame de leitura da OCDE analisa não só a habilidade de ler e escrever, mas também de interpretar textos, usar a escrita em situações cotidianas, opinar. Uma das questões falava sobre grafite e o estudante deveria dizer o que achava do texto, comentar seu estilo e analisar.

“Nosso resultado é um reflexo da falta do professor-leitor”, diz a professora da rede pública do Rio e doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) Zóia Preste. Segundo números do Ministério da Educação (MEC), só 26% das escolas brasileiras têm bibliotecas.

O Pisa foi aplicado em todos os países entre março e novembro do ano passado. Foram duas horas de prova, com mais de 40% das questões dissertativas. Além das provas, os adolescentes respondem a questionários socioeconômicos e os diretores descrevem a estrutura da escola. Os países podem optar por participar com todos os seus alunos ou, como o Brasil, utilizar uma amostra do total. Segundo a OCDE, os 400 mil que fizeram o exame representam 20 milhões de alunos no mundo.

Pela primeira vez, o Pisa fechou um ciclo, o que fortalece as informações estatísticas e permite comparações. Isso porque a cada ano o exame foca em uma das áreas - em 2000, o foco foi leitura; em 2003, matemática; e, em 2006, em ciências. O exame de 2009 voltará a enfatizar leitura, o que significa que haverá mais perguntas e que os resultados serão mais detalhados nessa área.

EXEMPLO

“O Brasil é um exemplo para outros países, porque vem melhorando seus resultados”, disse ao Estado Andreas Schleicher, que é diretor da divisão de indicadores e análise da diretoria de educação da OCDE. “Trata-se de um dos poucos países que apresentou avanços nas provas de leitura e matemática.”

Para ele, o governo brasileiro foi “corajoso” ao se juntar ao rol de países avaliados pelo Pisa. “Os brasileiros estão sendo comparados lado a lado com vários países mais desenvolvidos”, diz. “Em vez de dizer que se trata de uma avaliação injusta, ser comparado com o Japão, por exemplo, o Brasil adotou um a postura pragmática ao afirmar - ‘ora, estamos competindo globalmente’.”

Schleicher elogiou o fato de o governo ter criado um sistema nacional de avaliação e os esforços para matricular um maior número de crianças nas escolas.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Sergei Soares também foi otimista. “Só o fato de não ter caído já é um bom resultado, porque o Brasil incluiu um número muito grande de alunos nos últimos anos”, diz. Hoje, o País tem quase 100% dos alunos de 7 a 14 anos na escola.

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