quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Uma saga familiar de êxito

'A gente não tem apego ao tijolo'

O clã Szajman fala sobre a lógica que conduz os negócios da família

Abram Szajman passou o bastão para os filhos Cláudio e André há 13 anos, quando eles ainda eram garotos. Com 25 anos e 23 anos, eles assumiram o comando de um grupo que faturava R$ 500 milhões. Hoje, aos 36 anos, André não gosta de usar terno e gravata e cuida do negócio de entretenimento do grupo, a gravadora Trama. Cláudio, 38 anos, divide seu tempo entre Nova York (onde vivem a mulher e os dois filhos) e o escritório da VR em São Paulo. Ele é o único do clã Szajman que ainda faz parte do corpo de executivos do grupo. Abram dedica a maior parte de seu tempo à Federação do Comércio. A seguir, alguns trechos da entrevista com o trio.

O TRABALHO

ABRAM SZAJMAN

CLÁUDIO SZAJMAN

Cláudio: 'Meu pai tem 40 anos de história ligados a outras coisas fora dos negócios da família. Desculpa, eu cresci sem ver meu pai em casa. A sua vida inteira foi trabalho. Grande parte do seu tempo hoje não é dedicado às nossas empresas. Eu sei o quanto isso te suga.'

Abram: 'Enquanto me quiserem, vou continuar na Federação do Comércio (ele preside a Fecomércio há 23 anos). Já tentei sair e não me deixaram. Minha rotina é aqui e lá. Aqui, eu vejo o macro, o dia-a-dia eu não vejo mais. Eu vejo só o caixa.'

INVESTIMENTOS

Estado: Vocês podem repetir uma experiência de compra de parte de empresas, como foi no Real ou no Mappin?

Abram: 'Pode!'

Cláudio: A gente não comenta. A cabeça do capitalista, que meu pai tanto fala, é retorno sobre investimento. Nós, do ponto de vista ativo, vamos operar companhias que estejam dentro de ambientes que a gente acha que conhece um pouco mais porque isso gerará um diferencial competitivo . A partir daí, os investimentos são tipicamente financeiros, passivos.'

Abram: 'A gente fala muito de tecnologia, mas isso não quer dizer que a gente não possa investir em uma mineradora, para explorar minério. Se aparecer um negócio bom.'

Cláudio: 'Isso é opinião dele, não condiz com a realidade. Talvez através de um fundo. A gente não tem apego a tijolo.'

André: 'Nós, por exemplo, estamos investindo em pequenas centrais hidrelétricas através de um fundo de private equity (fundo de participação em empresas). São investimentos razoáveis.'

André Szajman

Abram: 'O dinheiro da venda vai para a holding. Como a gente vai dividir o dinheiro, eu vou resolver. Não dependíamos desses recursos para fazer investimentos. Somos portadores de recursos de longa data.'

Cláudio: 'Vamos crescer a partir dos negócios que a gente tem.'

André: 'A gente já está meio cansado de empresas do zero.'

A SUCESSÃO

André: 'Meu pai nunca teve medo. Quando eu e o Cláudio assumimos a empresa, em 1994, eu tinha 23 anos e ele, 25. A gente chegou e falou: pode tirar os executivos, a gente assume e não vai acontecer nada. A empresa já faturava R$ 500 milhões nessa época'

Cláudio: 'Lembro como se fosse hoje. A gente trouxe um consultor para cá, fez um plano de meia dúzia de páginas e levou pro meu pai. E não é que ele acreditou na gente? Ele deu liberdade pra gente atuar, que é uma coisa muito da cabeça dele, muito particular. Eu não teria essa coragem.'

Abram: 'Eu resolvi meu problema de herança. Hoje eu tenho uma parte pequena da empresa.'

André: 'Mas ele põe muita tinta na caneta.'



Com R$ 1 bi em caixa, os Szajmans agora vão se dedicar à tecnologia

Após venda para a Sodexho, a família vai apostar em cartões pré-pagos e aplicar o dinheiro em fundos ao redor do mundo

Patrícia Cançado e Ricardo Grinbaum

Nos anos 90, o Grupo VR chegou a ter uma frota de 100 carros blindados só para entregar vales de papel no Brasil inteiro. Há quase dez anos, porém, o VR vendeu a frota, digitalizou toda a papelada e criou a SmartNet, a empresa de tecnologia do grupo que captura e processa os pagamentos eletrônicos. No fim de setembro, a família Szajman abandonou de vez a era do vale-benefício ao vender o negócio para a francesa Sodexho por R$ 1 bilhão. Agora, o grupo quer espalhar o conceito dos cartões inteligentes e pré-pagos para outras áreas como transporte, saúde e varejo.

'Vamos atuar como a Intel. Ela não vende computador, mas a tecnologia que está por trás da máquina. Vamos ser como uma 'Intel inside' para empresas de vários ramos, já incluindo a própria Sodexho', afirma Cláudio Szajman, presidente do Grupo VR e filho do fundador, Abram.

O dinheiro da venda irá para a holding dos Szajmans, que além da SmartNet, controla o BancoVR, a gravadora Trama, uma incorporadora imobiliária e um fundo de investimentos em ativos no mundo inteiro. 'Como a gente vai dividir o dinheiro, eu vou resolver', diz Abram, o fundador.

Por enquanto, o que está definido é que a família não pretende inventar a roda, mas investir nos negócios que já possui. Nos próximos cinco anos, eles vão aplicar entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões na SmartNet. Em vez de gastar dinheiro na construção da rede - hoje com 100 mil terminais eletrônicos em 1200 cidades -, o grupo vai buscar novos mercados.

O foco são serviços onde o uso de cartão está se popularizando. A atuação na área da saúde é o que está mais claro para o grupo. 'Nesse mercado, a automação vai ajudar na identificação do usuário do sistema de saúde e na liberação de autorizações para consultas e exames', explica Cláudio.

A prestação de serviços para empresas de transporte e varejo também está no radar do grupo. Os Szajmans acreditam que poderão processar parte dos milhões de cartões dos usuários de transporte público do País. 'Hoje tem mais de 150 municípios saindo do papel e indo para o cartão. O pré-pago é uma solução fenomenal para a baixa renda', diz Cláudio. 'E a gente consegue ser viável economicamente, chulamente ganhar dinheiro com transações de R$ 1.'

Estima-se no mercado que a SmartNet fature por volta de R$ 100 milhões. Ela processa 500 milhões de transações por ano, um terço do volume da Redecard (empresa que concorre com a SmartNet em processamento de cartões de benefícios, porém mais focada em operações de débito e crédito). 'Eu vejo a SmartNet como uma empresa que está aproveitando uma oportunidade de mercado porque tem uma tecnologia apropriada. Mas nada impede que a Redecard ou a Visanet desenvolvam uma tecnologia mais simples', diz o analista do Unibanco, Carlos Macedo. 'Recentemente, a Redecard lançou uma tecnologia que permite pagar compras pelo celular. É um negócio que vai funcionar muito bem em deliveries e táxis.'

O grosso do dinheiro que entrou no caixa deve ir para o fundo de investimentos que administra aplicações da família há oito anos. Eles têm desde aplicações financeiras em diversos fundos até participações em empresas no Japão e Rússia e pequenas centrais hidrelétricas no Brasil. Quando perguntado se existe alguma chance de repetir a experiência do Banco Real, Abram, que se tornou o segundo maior sócio do banco de Aloysio Faria antes da venda para ABN Amro, não hesita: 'Pode. Se o investimento der retorno...' Abram não tem apego ao tijolo. Ele já viveu em um cortiço, começou a trabalhar como office-boy aos 13 anos na malharia de um tio, teve sua própria tecelagem com os Rabinovitch, uma corretora de valores e criou a VR, agora vendida por R$ 1 bilhão.

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