Remédios sob suspeita
Fabricantes tiram do mercado nos EUA medicamentos contra gripe para bebês
Gardiner Harris Do New York Times
Os principais fabricantes de medicamentos contra gripe e resfriado para crianças com menos de 2 anos anunciaram ontem que vão voluntariamente retirar seus produtos do mercado americano. O motivo alegado é o temor de que eles sejam usados de forma errada pelos pais. A retirada voluntária afeta somente as drogas que têm a faixa etária de 2 anos ou menos discriminada no rótulo.
A decisão aconteceu duas semanas depois de especialistas em segurança recomendarem à Administração de Remédios e Alimentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) que considerasse a proibição da venda de medicamentos para gripe e resfriado para crianças com menos de 6 anos de idade.
Na verdade, a própria associação comercial da indústria farmacêutica nos EUA (Consumer Healthcare Products Association) recomendou, há duas semanas, que esse tipo de remédio não deveria ser mais usado por bebês e crianças com menos de 2 anos. Porém, a despeito dessa recomendação, os laboratórios continuavam a vender as drogas.
Comitê vai fazer recomendações à FDA
Na semana que vem um comitê de especialistas independentes se reunirá para avaliar a segurança desse tipo de medicamento e oferecer recomendações para a FDA. Só no mercado americano existem cerca de 800 remédios de uso pediátrico contra gripe e resfriado (dentre eles alguns muito populares como Tylenol e Dimetapp). Em um ano, foram vendidas 41 milhões de unidades, somente nos EUA, sendo que um quinto desse total foi comercializado na forma de gotas, que são geralmente usadas em bebês.
A indústria farmacêutica disse que esses medicamentos são seguros e eficientes quando usados como o recomendado.
“A razão pela qual os fabricantes de numerosos remédios antigripais estão retirando seus produtos do mercado é ter havido raros casos de mau uso, relacionados à dosagem excessiva e identificados recentemente, particularmente em bebês.
E segurança é nossa maior prioridade”, disse Linda A. Suydam, presidente da associação da indústria, em nota.
Há poucas evidências de que medicamentos contra gripe e resfriado sejam eficazes para crianças pequenas, e há um medo crescente de que eles sejam perigosos. A associação da indústria informou que, de 1969 a 2006, pelo menos 45 crianças morreram depois de usar descongestionantes, e 60 morreram depois tomar anti-histamínicos. Muitas dessas crianças apresentaram problemas depois de os pais, equivocadamente, lhes terem dado doses muito elevadas, seja por que não atentaram para as dosagens de diferentes fabricantes, seja porque mediram erroneamente as quantidades.
Pediatras pediram proibição de drogas
Mas há um número crescente de registros indicando que mesmo a dosagem recomendada pode ser perigosa. O Centro de Controle de Envenenamentos do Hospital da Filadélfia registrou quatro casos de alucinações prolongadas em crianças de até 6 anos que haviam recebido dosagens corretas dos remédios.
Com não há quase nenhuma evidência de que os remédios são eficientes e preocupações crescentes de que eles podem ser inseguros, um grupo de pediatras pediu à FDA no início deste ano que considerasse a proibição do uso por crianças pequenas.
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