sábado, 20 de outubro de 2007

polêmica - Cabral responde à OAB: o governo não deseja o confronto, mas não vai recuar

Gustavo Paul - O Globo

RIO e BRASÍLIA - O governador Sérgio Cabral divulgou na noite deste sábado uma nota oficial para rebater as críticas feitas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), à atuação da polícia na Favela da Coréia.

- O governo do estado do Rio de Janeiro reitera que as ações da polícia são planejadas com inteligência, que não deseja o confronto, mas que ele é inevitável. O governo não vai recuar de sua obrigação de buscar e garantir a segurança da população.

Mais cedo, o presidente da OAB do Rio de Janeiro, Wadih Damous, reagira duramente à ironia feita pelo governador do Rio, Sérgio Cabral , às críticas à ação policial na favela da Coréia , ocorrida nesta semana. Em nota, Damous afirmou que a OAB ficou chocada com as imagens da caçada promovida por um helicóptero da polícia a dois fugitivos, aparentemente desarmados. A ação, aponta o texto, foi mais um episódio da guerra travada na cidade em nome do combate à criminalidade, que a sociedade carioca assistiu "já quase sem qualquer espanto" e resultou nas "costumeiras mortes de pessoas sem nomes e vitimou uma criança de 04 anos de idade e um policial". Os leitores do GLOBO ONLINE, em seus comentários, criticaram com veemência a posição da OAB .

" Não aceitamos, contra tudo e contra todos se for preciso, que o ser humano seja tratado como animal de abate "

"A OAB/RJ, assim como toda a sociedade, chocou-se com tamanha crueza. E mais ainda, indignou-se sim com a forma pela qual as forças policiais perseguiram aqueles dois jovens, que, pelas imagens, não exibiam armas, e ainda assim foram caçados e mortos sem qualquer direito de defesa", diz a nota, que não poupa a posição adotada pelo governador Sérgio Cabral.

"E a nossa indignação motivou críticas de vários setores, notadamente do governador do estado, criando a falsa idéia de que a criminalidade somente poderá ser combatida à margem do ordenamento legal e sem investimentos sociais capazes de oferecer alternativa de vida digna à juventude pobre criminalizada e sem horizontes", afirma o texto.

Na sexta-feira, Cabral disse que respeitava a opinião da OAB mas não poderia usar a diplomacia e a negociação para pedir aos traficantes a devolução de armamento pesado.

De acordo com o presidente da OAB, não é aceitável que um aparato policial-militar, "mais apropriado para a guerra do que para uma operação policial, faça incursões em comunidades carentes de cidadania e habitadas por milhares de pessoas, e não faça qualquer levantamento prévio de inteligência que possibilite identificar o cidadão de bem, o pequeno infrator e o criminoso que realmente possa trazer risco à sociedade". Segundo ele, a policia só poderia reagir com tamanha força e intensidade se fosse afrontada. "Fora desse contexto, o que se afigura é uma política de extermínio pura e simples, sem qualquer eufemismo", diz o texto.

Lembrando o passado de lutas da entidade contra a ditadura, o presidente da OAB reiterou o compromisso com as garantias individuais, a dignidade humana e os pilares da democracia . De acordo com Damous, o episódio da invasão da favela da Coréia violou todos esses princípios. "Não aceitamos, contra tudo e contra todos se for preciso, que o ser humano seja tratado como animal de abate, independente do pretexto que o Estado adote para assim agir".

Um comentário:

Sylvia disse...

Essas noticias sobre o combate ao tráfico são de tal hipocrísia, que às vezes dá vontade nem ler, pq afinal todo mundo sabe que no topo do narcotráfico estão os poderosos e lá na ponta, os coitados dos favelados, que fazem aquilo pq é a única coisa que lhes resta fazer. Por acaso alguém realmente quer acabar com o tráfico de drogas, se é o produto que mais gera lucro no mundo todo? Essas incursões da polícia na favela, matando mais inocentes que culpados, são realmente da ordem da mais pura perversidade. Certo que os pequenos traficantes são animais, bichos acuados que nem contam mais com a própria vida, mas pq será que tudo chegou a esse ponto? Por acaso algum político, seja deputado, vereador, prefeito ou governador subiu no morro alguma vez? Já cansei de falar isso e repito aqui mais uma vez: Marta Suplicy, quando prefeita de São Paulo, ia religiosamente 3 vezes por semana visitar as periferias de São Paulo e na época da reeleição, a violência tinha baixado tanto na capital, que Maluf nem usou o fatídico ROTA NA RUA, em sua candidatura e quando o maléfico Serra foi para o segundo turno, o ponto que ele pegou pra debater foi a saúde, de tal forma a violência não era o assunto de pauta no momento. Já disse mil vezes também, Marta Suplicy foi a primeira prefeita que colocou coleta de lixo nas favelas, já que para a elite paulistana era comum ver crianças convivendo com os ratos.