| CLEBER TOLEDO 37 anos, jornalista e blogueiro Com site de política, forasteiro de São Paulo gerou polêmicas e boicotes no alto escalão da capital do Tocantins :Rodrigo Martins, Palmas Um blog foi o suficiente para colocar a vida política da pequena cidade de Palmas em ebulição. Na capital do Tocantins, com 200 mil habitantes, o “ti-ti-ti” entre vereadores, deputados, prefeito e governador nunca mais foi o mesmo depois que um forasteiro “lá de São Paulo” colocou seu site no ar. Denúncias contra a administração pública e notícias sobre bastidores do poder geraram polêmicas, boicotes e até uma matéria no Jornal Nacional, da Globo.
Por trás do barulho está o jornalista Cleber Toledo, de 37 anos, morador de Palmas há quatro. Ele toca o blog www.clebertoledo.com.br há cerca de dois anos, onde publica notícias sobre política. Nesse meio tempo, instituiu o jornalismo online no Estado, coisa que não existia, comprou briga com o governo local - e sofreu represálias por isso -, além de conquistar cerca de 20 mil leitores diários.
“Me perguntam como um cara que veio há quatro anos de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, conseguiu se estabelecer tão rápido na cidade”, contou em seu QG, que fica próximo ao palácio do governo. “Mas o fato é que consegui transformar a internet em uma atividade lucrativa e com audiência, coisa que muitos duvidavam.”
Na política tocantinense, o site de Cleber é um dos mais acessados. Deputados, vereadores e gente dos governos municipal e estadual batem cartão por lá. “Quem é político e quer se manter informado acessa”, diz o presidente da Câmara Municipal de Palmas, Carlos Braga (PMDB). “O conteúdo não é motivo só para conversas, mas para declarações dos parlamentares na tribuna da Câmara.”
Para o secretário de Comunicação do Estado, Sebastião Vieira de Melo, a importância do site aumenta cada vez mais. “Sobretudo por se tratar de um veículo que atinge milhares de leitores.”
Mas por que um blogueiro independente e desconhecido nas bandas do norte ganhou tanta popularidade? O que ele tem que os jornais locais não têm? A primeira resposta: instantaneidade. “No início, meu blog era sobre bastidores políticos”, diz Cleber. “Mas começaram a pedir notícias minuto-a-minuto. Aqui não tinha nada assim. Então, coloquei notícias.”
Foi assim que o blog deslanchou. No começo, em 2005, era só o Cleber e o seu “micro que travava a cada duas horas.” Na época, ele trabalhava no maior jornal local, o Jornal do Tocantins, e dava aulas na Universidade Luterana do Brasil. Antes de se jogar de vez na web, em 2004, já havia tido uma experiência com blogs, abandonada.
“Essa experiência me fez querer trabalhar na web”, diz. “Em 2005, lancei o meu site. Ele começou a ganhar audiência. Bati nas portas dos anunciantes e, quando vi, já ganhava o mesmo que recebia no jornal e na faculdade. Larguei os empregos e fui me dedicar só ao site.”
Hoje, apesar de manter o nome Cleber Toledo e ter a aparência de um blog, a página tem dez empregados, entre jornalistas e pessoal administrativo. “Cobrimos a assembléia, o governo, a prefeitura. E publicamos ao longo do dia. Aí está o diferencial. As pessoas não estavam acostumadas a notícias locais na web. Isso está mudando.”
A mídia tradicional já sentiu o “efeito Cleber Toledo”. No Jornal do Tocantins, por exemplo, as notícias exclusivas sobre política estão cada vez mais difíceis. “Ficamos impossibilitados de dar ‘furos’. Quando vemos, já está no site dele”, diz a editora de política do jornal, Andrea Reys. “Muitas vezes, ao entrevistar os políticos sobre um fato, eles nos perguntam: ‘Você já leu o Cleber Toledo? A notícia já está lá’.”
Porém, segundo Cleber, a instantaneidade não foi o único motivo do sucesso. Ele diz que o blog apareceu no momento ideal: uma convulsão política no Estado. “O Tocantins sempre foi governado por um mesmo grupo. Mas, em 2005, houve um rompimento, o que tornou a política mais interessante, com alternância no poder.”
O jornalista aproveitou o site para discutir o racha. “Entrevistava os envolvidos, perguntava sobre as perspectivas políticas.” E, assim, o blog ganhava acessos. “O meio político adora bastidores, notícias captadas em conversinhas políticas.”
Mas a prova veio mesmo nas eleições a governador do ano passado. Ele viajou pelo Estado por três meses para acompanhar os candidatos. “Conectava o notebook pela rede celular e transmitia, em texto, os comícios de qualquer lugar.”
Como era um dos únicos veículos a publicar online a campanha, o blog virou palco de disputa entre os candidatos. “Eles me telefonavam e diziam ‘Estou em tal lugar e discursei isso.’ Depois, ligava outro, que tinha acessado o site, e respondia ao candidato anterior. Assim, durante a campanha, cheguei a 60 mil acessos diários.”
A popularidade, porém, não trouxe só benefícios. Também retaliação. Segundo Cleber, uma das coisas mais comuns em parte da imprensa local é a parcialidade. “Cada jornal defente seu grupo político.” E, desde que estreou seu blog, Cleber é cobrado a dizer qual é a sua posição.
“Não estou de nenhum lado, sou imparcial”, diz. “Quando faço um texto crítico à respeito do político A, me acusam de estar do lado do B. O contrário também ocorre. Pelo período sem alternância de poder, as pessoas não estão acostumadas com a imparcialidade. E busco isso para manter o site.”
É mais ou menos isso, afirma Adriana Omena, coordenadora de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT). “Quem está acostumado a analisar a mídia vê que ele não é tão imparcial”, diz. “E, como os veículos locais, o Cleber publica muito o que é divulgado pelo governo. Não faz muitas reportagens próprias, mostrando o que os políticos querem esconder.”
Cleber diz que não. “Já fiz muitas denúncias”, afirma. Uma delas foi parar nos principais portais virtuais e até no Jornal Nacional, da Globo. “No início do ano, denunciei que havia uma liminar proibindo a divulgação dos gastos públicos durante as eleições e que o governo estaria envolvido. Depois do Jornal Nacional, a liminar foi cassada.”
Houve ainda denúncias contra abusos nas eleições, descaso de deputados, etc. “Isso os jornais daqui não dão. Já teve deputado que me ligou: ‘Há coisas que é melhor não publicar. Se os outros não dizem, por que você faz?’ Publico sim, sempre com documentos e testemunhas.”
Dessas denúncias, Cleber não saiu ileso. Segundo ele, em represália, o acesso ao site foi bloqueado nas secretarias do governo estadual. Fontes ouvidas pelo Link confirmam. Procurado, o Governo do Tocantins não confirmou nem desmentiu.
“Se o governo achava que, com isso, iria derrubar o meu acesso, não deu certo. O meu público tem PC em casa. E me mandavam e-mails: ‘Não acesso no serviço, mas vejo em casa.’ A rede é rebelde, revolucionária. Não tem como calar.” O bloqueio, diz ele, durou de outubro de 2006 a maio deste ano.
Hoje, Cleber conta que a relação com o governo foi reestabelecida. “Eles estão compreendendo meu trabalho”, diz. Há até um projeto de lei na Assembléia para torná-lo cidadão tocantinense. “A idéia foi apresentada em conjunto com um projeto semelhante para o presidente Lula. O do Lula já passou, é pessoa grata. O meu ainda vai demorar. Ainda sou persona não-grata para alguns grupos.” |
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