quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Mídia e PSDB: Chamen a Mafalda!


"Trabalho difícil o de ombudsman da Folha. Hoje ele se queixa de não ver uma mísera linha sobre o mensalão do PSDB. Amanhã ele estará servido. Vão publicar que Aécio ficou irritado e que Mares Guia é um abusado."

Escrevi isto ontem e fui verificar hoje. A Folha traz uma matéria sobre Mares Guia e outra sobre a irritação de Aécio. Nenhuma palavra sobre a reunião de ontem da bancada dos senadores do PSDB e a decisão por eles tomada: silêncio sobre o mensalão tucano e Eduardo Azeredo.

Acontece que a decisão do PSDB não deveria, em princípio, concernir a atuação da mídia sobre o tema. Mais é aparentemente o que acontece.

Poderia se argüir para justificar os jornais de hoje que nada teve de relevante na reunião dos senadores do PSDB. Não parece ser está a opinião do jornalista Josias de Souza, da própria Folha, que no dia de ontem postou no seu blog o artigo que reproduzo aqui embaixo.

Você, leitor, julgará se a decisão tomada pelo PSDB não merece nenhum espaço nos jornais.

Hoje o ombudsman da Folha não publicará sua crítica diária. Os outros jornais não contam com está importante instituição. Eles devem pensar que tanto faz não ter ombudsman, visto que às orientações políticas dos jornais não se ajustam necessariamente ao ponto de vista de quem sela pelo equilíbrio e a objetividade do conteúdo jornalístico.

Quando penso na inanidade provocada pelas recomendações sobre o PSDB do ombudsman da Folha, me vem a memória um desenho da Mafalda.

A pequena personagem de Quino chegava com uma cadeirinha, subia nela e proclamava: de cima desta cadeira faço um apelo a paz mundial! Ato seguido descia e comentava: de qualquer jeito parece que minha cadeira, o Papa e a ONU têm o mesmo poder de convicção.

Vou dar uma cadeirinha para o ombudsman.

Luis Favre


PSDB reúne senadores e silencia sobre tucanoduto

Josias de Souza

O PSDB reuniu a bancada de senadores, nesta terça-feira (2), para discutir algo que o constrange. O nome do constrangimento é Eduardo Azeredo. Lero vai, lero vem, o partido o optou por enfrentar o inadmissível com o impensável. Decidiu silenciar.



"A gente vai aguardar a manifestação do procurador [Antonio Fernando de Souza] para se pronunciar”, disse Tasso Jeresissati (CE), presidente do PSDB. “Nós não sabemos qual o tipo de acusação, se é que tem, que vai ser feita ao senador."



O tucanato tem o direito de aguardar o quanto quiser. Só não fica bem chamar a platéia de boba. O partido sabe muito bem do que Azeredo é acusado. O que não sabe, por ora, é como explicar inexplicável.



Logo que as primeiras denúncias do tucanoduto vieram à tona, nas pegadas do mensalão petista, em 2005, o PSDB protegera-se atrás do conveniente escudo do caixa dois. Admitira-se, então, que os tucanos de Minas bicaram valerianas de má procedência. Mas alegara-se que não ocultavam verbas públicas sob as asas.



O inquérito da Polícia Federal demonstrou o contrário. Pelo duto dos tucanos correram pelo menos R$ 5 milhões do erário mineiro. Vieram, segundo a polícia das arcas públicas da Cemig, da Copasa, do Bemge e da Comig.



Há dois anos, acomodado pela conjuntura no banco da CPI dos Correios, Azeredo saíra-se com uma desculpa à Lula: dissera que não sabia das malfeitorias praticadas à sombra de suas penas em 1998. Alegara que toda a responsabilidade de Cláudio Mourão, ex-gestor financeiro de sua campanha.



Graças à PF, veio à luz um detalhe que espanca a tese do desconhecimento: Azeredo bicou, em 1998, um empréstimo de R$ 511 mil atribuído a Walfrido dos Mares Guia, hoje coordenador político de Lula. Coisa de pai para filho. Nem Azeredo tem a pretensão de pagar nem Mares Guia planeja cobrar.



Dias atrás, sentindo-se isolado, Azeredo piou fora do tom. Disse que parte das verbas de má origem que irrigou o tucanoduto foi borrifada também no caixa da cruzada presidencial de FHC. Segundo ele, havia em Minas, “comitês [da campanha nacional] bancados pela minha campanha.” Enquadrado, Azeredo silenciou.



De silêncio em silêncio, o PSDB vai produzindo um barulho estrondoso. Calou dois anos atrás. Cala de novo agora. Quando decidir falar, será tarde, muito tarde, tardíssimo. Alguns já sentem, irritados, o prejuízo que a privação voluntária da voz proporciona.



Nesta terça, perguntou-se a Jereissati se a convivência com um senador sob suspeição não causa contrangimento. E ele: "Todo episódio como esse, num partido que prima pela ética contra um senador, que eu acredito ser sério e honesto, constrange. Mas nós vamos esperar a acusação." Então, tá!

Escrito por Josias de Souza às 18h40 de ontem

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