sexta-feira, 19 de outubro de 2007

França: Greve pára transporte

Correio Braziliense

Paralisação recorde deixa principais cidades sem metrô, ônibus e trens. Objetivo é forçar o presidente a desistir de eliminar o regime de aposentadoria especial de algumas categorias


Napoleão Sabóia
Correspondente

Paris — Deslanchada na noite de quarta-feira, com interrupções pontuais na circulação de trens, ônibus e metrô, a greve geral dos transportes coletivos promovida na França por todas as centrais sindicais atingiu ontem seu ponto culminante. A taxa de adesão à greve bateu recorde nos transportes, com mais de 75% dos motoristas de trens cruzando os braços, de acordo com a diretoria da SNCF (a companhia estatal que administra a rede ferroviária francesa).

Em Paris e nas demais grandes cidades franceses, ocorreram mais de 60 manifestações contra a reforma nos regimes especiais de aposentadoria, na qual se incluem certas categorias de funcionários, como os dos transportes, do gás e da energia elétrica, além da Opéra de Paris, Commedie Française, e dos cartórios. A mudança sugerida pelo governo prevê que as categorias se igualem aos empregados dos setores público e privado e sejam submetidas a um prazo de 40 anos de contribuição. Hoje, são 37,5 anos.

Além do tempo de contribuição menor, os trabalhadores dos transportes, gás e energia também contam com outros benefícios pela execução de tarefas “atípicas e penosas”. Mas essa noção é tida como superada, pois as velhas locomotivas movidas a óleo diesel e carvão foram aposentadas. “O que se deseja com a reforma é colocar o conjunto dos assalariados franceses num plano de igualdade, conforme o princípio da eqüidade em relação ao gozo dos direitos de aposentadoria”, explicou o ministro do Trabalho, Xavier Bertrand.

Na capital, segundo a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), cerca de 25 mil pessoas foram às ruas para criticar a reforma. “O movimento é forte, com uma alta porcentagem de grevistas. O governo precisa levar isso em conta”, afirmou o secretário-geral do movimento Force Ouvrière (Força Operária), Jean-Claude Mailly. Em um fato excepcional, oito sindicatos dos transportes, seis sindicatos da RATP (a rede do metrô parisiense) e as cinco federações da Energia convocaram a greve.

Rotina alterada
Mesmo com o anúncio antecipado do movimento, muita gente ficou na mão e não conseguiu chegar ao trabalho. Os parisienses saíram mais cedo de casa e deram um grande lucro ao sistema Vélib, de aluguel de bicicletas a preços módicos. Quem não costumava usar carro durante a semana teve de tirar o automóvel da garagem. Somente 46 TGV (trens de alta velocidade) circulavam na rede ferroviária nacional ontem. Em tempos normais, são cerca de 700. Na capital, apenas uma linha de metrô permaneceu ativa.

As paralisações devem continuar hoje. A reforma do sistema de aposentadorias especiais idealizada por Sarkozy envolve 500 mil funcionários e 1,1 milhão de aposentados. Para o governo, essa decisão é essencial no sentido de salvar o sistema previdenciário.


O que se deseja com a reforma é colocar o conjunto dos assalariados franceses num plano de igualdade

Xavier Bertrand, ministro do Trabalho francês



O número
25 mil
pessoas foram às ruas de Paris ontem pedir o engavetamento da reforma previdenciária

A revolução do presidente

O francês Nicolas Sarkozy promete uma revolução nas leis trabalhistas

  • O chefe de Estado francês ressaltou que a equiparação desses regimes às regras de previdência do funcionalismo público — que, por sua vez, se ajustaram às do setor privado — é uma questão de igualdade, depois de os governos que fizeram as reformas da Previdência em 1993 e 2003 evitaram tocar nesse assunto.

  • O governo calcula que terá de gastar neste ano quase 5 bilhões de euros com os regimes especiais de aposentadoria. A situação vai piorar por razão demográfica.

  • Sarkozy considera a lei aprovada pelo antigo governo de esquerda, que instituiu o limite das 35 horas semanais de trabalho, um erro. Ele promete dar às empresas mais flexibilidade nas leis trabalhistas e espaço à negociação com empregados.

  • Segundo o presidente, todos os subsídios sociais serão revisados para encorajar os beneficiados a buscar trabalho


  • Premiê vem ao Brasil

    Samy Adghirni
    Da equipe do Correio

    O primeiro-ministro da França, François Fillon, fará sua primeira visita oficial ao Brasil no dia 7 de dezembro. Segundo o Correio apurou, ele se reunirá com o presidente Lula no Palácio do Planalto e, em seguida, será homenageado com um almoço no Itamaraty. Depois de Brasília, Fillon deve ir a São Paulo, onde terá encontros empresariais. No dia 10 de dezembro, o premiê francês estará em Buenos Aires para a cerimônia de posse do novo presidente argentino.

    Entre os assuntos na agenda de Fillon em Brasília, destaque para a cooperação tecnológica bilateral. Segundo um diplomata brasileiro, a empresa francesa Areva está “no topo da fila” para construir a central nuclear de Angra III, no estado do Rio de Janeiro. Pesa a favor da França o fato de as centrais Angra I e II terem sido construídas pelo grupo Siemens, cuja filial de energia atômica hoje pertence à Areva. Serão discutidos ainda temas ligados à cooperação militar e à espinhosa gestão da fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa — incluindo o projeto, que se arrasta há quase 10 anos, de construção de uma ponte sobre o Rio Oiapoque, ligando o estado do Amapá à Guiana Francesa.

    Fillon também deve reiterar junto a Lula o pedido, já formulado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, para que o Brasil ajude a conseguir a libertação da senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt, mantida refém pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) desde 2002. Há quatro anos, uma operação fracassada dos serviços secretos franceses para libertar Betancourt a partir do território brasileiro causou um mal-estar diplomático entre Paris e Brasília.

    Cultura
    A visita de Fillon também terá uma dimensão cultural, já que o governo brasileiro está preparando o Ano da França no Brasil, em 2009 — nos moldes do Ano do Brasil na França, em 2005, que divulgou em todo o país, durante meses, diversos aspectos da cultura brasileira, com exposições, música, cinema. A realização dos eventos ficou acertada ainda durante o mandato de Jacques Chirac, antecessor de Sarkozy na Presidência.

    O primeiro-ministro francês é considerado um integrante da ala social do União por um Movimento Popular (UMP), partido conservador governista. Ex-senador e assessor político de Sarkozy, Fillon defendeu a reforma previdenciária no segundo mandato de Chirac.

    Também já foi ministro do Ensino Superior e Tecnologias da Informação no governo de Edouard Balladour, ministro dos Correios e Telecomunicações no governo de Alan Juppé, e ministro dos Assuntos Sociais e Educação Nacional de Jean-Pierre Raffarin.


    Separação confirmada

    Em comunicado oficial, o Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, anunciou no começo da tarde de ontem a separação do presidente Nicolas Sarkozy e sua mulher, Cecilia. A nota é curta, e ressalta que os dois não farão comentários sobre o caso. Os termos da demanda de divórcio que a primeira-dama apresentou ao juiz da Vara de Familia do Tribunal de Nanterre, na manhã de segunda-feira, foram redigidos há meses pelo jurista Georges Kiejman. Cecilia, que há dois meses não acompanhava o marido em viagens oficiais, foi vista nos últimos dias em lugares chiques de Paris. Almoçou com amigos em restaurantes da moda na Champs Elysées e esteve no ateliê do costureiro que prepara o vestido da festa e noivado de sua filha Jeanne-Marie, 20 anos. Seu antigo amante, o publicitário Robert Attias, desmentiu que estivesse a ponto de reatar a relação.

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