segunda-feira, 8 de outubro de 2007

EUA é que têm de destravar Doha, diz ex-embaixador Rubens Barbosa


Daniel Bramatti
Wilson Dias/Agência Brasil

O presidente Lula cobrou mais atenção à rodada Doha no Fórum Econômico Mundial



Criticados por não cortar seus subsídios agrícolas, os Estados Unidos procuram sair da defensiva nas negociações da chamada rodada Doha. Susan Schwab, representante dos EUA na Organização Mundial de Comércio, publicou na semana passada um artigo no jornal "Financial Times" no qual cobra dos países emergentes um "sim" ou "não" - simples assim - à proposta norte-americana de limitar aos subsídios para algo entre US$ 13 bilhões e US$ 16 bilhões por ano.

Foi o que bastou para que o influente "Wall Street Journal" publicasse um editorial intitulado "Doha or Die" (Doha ou morra), com novas cobranças para que os países em desenvolvimento aceitem abrir seus mercados industriais e de serviços.

Para Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, a movimentação faz parte de um jogo de cena diplomático para culpar os países emergentes pelo eventual fracasso das negociações de liberalização do comércio mundial, que já se arrastam há seis anos. "Eles não querem reduzir os subsídios, a verdade é essa", afirmou.

Leia a seguir trechos da entrevista do ex-embaixador a Terra Magazine:

Como o senhor analisa a atitude dos Estados Unidos de cobrar uma posição dos emergentes para destravar as negociações da Rodada Doha?
Nós é que temos de cobrar uma reação deles. A gente fica aqui no Brasil sempre reagindo às coisas que esse pessoal fala. Eles é que estão devendo uma posição. A rodada de Doha foi lançada com o objetivo de colocar a agricultura no centro das negociações. É uma rodada que se propunha a lançar uma agenda para o desenvolvimento, com o aumento do comércio na área agrícola e um tratamento diferenciado para os países em desenvolvimento. Agora a coisa se inverteu. Os Estados Unidos não têm condições de negociar esse acordo porque o Congresso norte-americano não dá autorização. Então ficam os países desenvolvidos cobrando coisas de nós sem dizer o que eles vão fazer na parte de subsídios e redução tarifária.

Enquanto a Susan Schwab cobra dos países em desenvolvimento uma posição na abertura do mercado de bens industriais, o Congresso dos EUA aprova uma nova legislação ampliando os subsídios agrícolas. Então fica difícil.

O senhor acha que é a preparação de um cenário para culpar os países agrícolas pelo eventual fracasso das negociações?
Claro, é parte da estratégia. Eles vão para os jornais e dizem que estão esperando um sim ou não dos emergentes. E eles, quando vão dizer sim ou não?

Terra Magazine

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