Reflexões pessoais sobre o acordo PT - Baath da Síria
O presidente do PT e o secretário de relações internacionais do partido, assinaram no mês de maio um protocolo de acordo com o partido Baath da Síria.
Como disse a carta enviada ao Centro Simon Wiesenthal pelos companheiro Ricardo Berzoini e Valter Pomar “Ter um acordo de cooperação com um determinado partido, não significa necessariamente que o PT esteja de acordo, total ou parcial, com a ideologia, com a história e com as ações governamentais destes partidos.”
Isto é verdade e não significa, é claro, que possamos ignorar a ideologia, a história e as ações dos partidos com que estabelecemos acordos de cooperação.
Considerar o partido Baath da Síria como um partido democrático ou de esquerda ou ao menos uma organização antimperialista seria um equivoco que o PT não fez e seguramente não fará. Tenho dúvidas, inclusive, se o Baath é realmente um partido ou uma simples correia de transmissão do poder ditatorial da familia Assaf que governa esse país com mão de ferro, e de pai para filho, faz quase meio século.
Uma coisa é considerar como legitima a reivindicação da Síria de restituição dos territórios ocupados por Israel (como é o caso do Golán) e outra, diferente, endossar a política reacionária, ditatorial e anti-democrática do regime do Baath. O protocolo assinado não entra nestas questões, nem em qualquer acordo ou compromisso político, o que é saudável, porem é bom evitar declaracões confusas ou simpáticas para com um regime que faz muito tempo deixo de ser “progressista”. Os dirigentes petistas devem, na minha opinião, estar atentos para que ninguém possa associar nosso partido a essa ditadura, mesmo secular e com rotulo "socialista".
Pretender que o regime sírio é adversário da “política imperialista norte-americana” é só parcialmente verdadeiro e isto não faz deles, ipso facto, nossos amigos e aliados. Este raciocínio é reducionista e infantil, além de não condizer com a tradição do PT.
Vale lembrar que foi o regime de Assad e do Baath que em 1970 colaborou com Hussein da Jordania para massacrar a OLP e o povo Palestino (40 mil mortos), fechando suas fronteiras e obrigando os partidários de Arafat a se refugiar em condições mais que precárias no Líbano.
Convém insistir também que a rejeição da ocupação por Israel do sul do Líbano nunca significou apoio a ocupação da Beeka pelas tropas da Síria, cuja retirada do Líbano, junto com as de Israel, configurou um primeiro passo importante no caminho de negociações pacificas e de restituição da soberania nacional do povo libanês.
Nossa solidariedade para com o povo palestino e sua luta pela constituição de um Estado Palestino democrático e independente, que respeite a existência e a segurança do Estado de Israel; postura oficial do PT e manifestação inequívoca de nosso engajamento em favor dos oprimidos no oriente-médio, assim como repúdio a política dos governos de Israel que com apoio dos USA pratica uma linha belicista na região, nunca podem servir para avalizar nem grupos islâmicos radicais, nem regimes ditatoriais e partidos reacionários ou grupos terroristas. Faz bem ao PT reafirmar isto permanentemente.
Não estamos discutindo das necessárias e normais relações diplomáticas, comerciais, econômicas e culturais com os diversos governos da região por parte do governo brasileiro e que devem continuar e se aprofundar.
Não estou questionando contatos políticos com forças políticas das mais diversas no mundo e no médio-oriente, em particular, o que faz parte do pluralismo e tradição democrática do PT e que não exige assinatura de nenhum protocolo especifico. Não precisamos dar atestados "democráticos" a partidos com os quais nos reunimos de vez em quando e com os quais não temos nada em comum. E menos ainda a partidos como o Baath.
Se a democracia é um valor universal como consta da posição histórica do PT, ela tem que nortear também nossos compromissos políticos no plano internacional.
Luis Favre
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