Etanol é bandeira eleitoral nos EUA
Questionamento brasileiro toca em pontos que fazem parte do debate em torno da sucessão à Casa Branca
Jamil Chade
O questionamento encaminhado pelo governo brasileiro à Organização Mundial do Comércio (OMC) em relação aos subsídios agrícolas dos Estados Unidos ataca a produção de etanol a partir do milho e toca em pontos sensíveis politicamente naquele país. Os pré-candidatos às eleições presidenciais incluem a promoção do etanol como parte de seus programas para ocupar a Casa Branca.
Coincidentemente, a votação para escolher o candidato do Partido Democrata nas próximas eleições começa em Iowa, maior produtor de milho do país. Não por acaso, para seduzir o setor rural, o senador Barack Obama insiste que os Estados Unidos precisam passar a produzir 60 bilhões de galões de etanol até 2030.
John Edwards promete mais: exigir que todos os novos carros sejam equipados com motores flexfuel e elevar produção de etanol para 65 bilhões de galões até 2025. Além disso, acena com um fundo de US$ 13 bilhões por ano para incentivar energias renováveis. Outros pré-candidatos, como Hillary Clinton e John McCain, não deixaram de elogiar o etanol nos últimos meses.
Mas, numa reportagem que está causando polêmica entre os especialistas em comércio exterior e o setor rural, a revista americana Rolling Stones saiu de sua linha editorial para tratar do futuro dos subsídios e acusar os defensores do etanol nos Estados Unidos de ser o lobby dos produtores em busca de novos financiamentos.
Em sua edição de julho, a revista acusa os produtores de milho de terem recebido US$ 51 bilhões em subsídios entre 1995 e 2005. O valor seria duas vezes maior que o trigo recebeu e quatro vezes mais elevado que os subsídios à soja.
A revista ainda denuncia a empresa Archer Daniels Midland (ADM), gigante na produção do etanol, de receber enormes subsídios e “agradar” políticos com contribuições importantes para suas campanhas eleitorais. Em 1992, a ADM teria destinado US$ 1 milhão à campanha do senador do Kansas Bob Dole. Três anos mais tarde, o Instituto Cato estimou que a empresa havia se tornado a maior recebedora de subsídios nos Estados Unidos. De 2000 para cá, a empresa destinou US$ 3,7 milhões a diferentes campanhas políticas.
A reportagem também acusa o setor do etanol nos Estados Unidos de receber cerca de 200 incentivos fiscais de diferentes níveis do governo, em um valor de US$ 5,5 bilhões.
O Estado de São Paulo (para assinantes)
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