Campo Majoritário perde força em SP
Cristiane Agostine do jornal Valor (para assinantes)
Com um terço dos delegados do Congresso Nacional do PT, o diretório estadual de São Paulo sofreu um rearranjo na correlação de forças em sua base. A influência do antigo Campo Majoritário, tendência liderada por nomes como José Dirceu e Paulo Frateschi, diminuiu e, em contrapartida, o poder do grupo ligado à ministra Marta Suplicy aumentou.
A eleição realizada no Congresso estadual da sigla, no fim de semana, demonstrou que a direção paulista não tem mais o apoio maciço de quando foi constituída, em 2005, no auge das denúncias do suposto mensalão. Na época, o presidente estadual, Paulo Frateschi, foi reeleito com quase 60% dos votos. Na votação das teses partidárias, em 2005, o texto de seu grupo (o antigo Campo Majoritário) obteve 48% dos votos. Já na eleição do Congresso estadual deste fim de semana esse percentual diminuiu para 42,47%. Outra mudança foi registrada com a saída de um núcleo do antigo Campo, que formou a tese "Um novo rumo para o PT" e obteve 19,36% dos votos. Somadas aos apoiadores do "PT de Lutas e Massas", estas duas teses - dos chamados "martistas" - tiveram 32% dos votos e buscam a aproximação com a tese "Mensagem ao Partido" . Juntas, as três têm o tamanho exato do "Construindo o novo Brasil", os antigos majoritários.
"Houve um reequilíbrio de forças e eles (dirigentes) vão ter que nos ouvir", analisou o deputado federal Paulo Teixeira, da "Mensagem ao Partido", que tem como expoente no plano nacional o ministro Tarso Genro (Justiça). "Eles ainda têm uma força maior, mas não são mais majoritários. Vai haver mais diálogo agora", disse. Integrante do grupo dissidente "Um novo rumo para o PT", o vereador João Antonio, secretário-geral do diretório paulista, reforça a idéia de maior equilíbrio de poder. "Sozinhos, não conseguem mais comandar o diretório como antes."
Na análise feita por dirigentes que compõem os três grupos em ascensão, a mudança reflete o descontentamento com as denúncias que envolveram o PT desde a crise do mensalão. Um divisor de águas foi a eleição de 2006. O grupo de São Paulo teve desempenho tímido no primeiro turno da campanha presidencial, envolveu o PT na compra de um dossiê contra políticos do PSDB e perdeu a eleição estadual no primeiro turno com a candidatura do senador Aloizio Mercandante.
"O desgaste com a direção não é recente: perdemos prefeituras importantes e responsabilizamos esse grupo pela crise que o PT viveu. É hora de superar essa fase", disse João Antônio. Ele cita como exemplo da diminuição de poder do núcleo dirigente a votação da data da próxima eleição interna: os ex-majoritários defendiam a troca só no próximo ano, mas a maioria aprovou a antecipação da eleição (710 votos a favor e 573 contra).
Para quem defende a tese do antigo Campo Majoritário, entretanto, a leitura feita do rearranjo de forças é oposta: "Nós crescemos em relação a 2005", analisou Luiz Turco, secretário de Organização do diretório paulista. "É ilusão dizer que diminuímos, que houve derrota", defendeu. Na conta feita pelo dirigente, seu grupo tem os 42,27 % dos votos da tese mais os 19,36% do grupo dissidente "Um novo rumo para o PT" e parte dos 9,68 % do "Mensagem ao partido".
Se os grupos divergem na divisão do poder, convergem na escolha do nome para disputar a capital paulista: Marta Suplicy. Em São Paulo, os dirigentes defendem que ela é o única capaz de unir o PT. "Se não for ela, teremos prévia. Mas isso não desgastará o partido", disse Paulo Teixeira. A provável mudança no comando dos diretórios influenciará diretamente na definição dos candidatos em 2008.
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