Ex-capelão da polícia argentina é condenado à prisão perpétua
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Agências internacionais
LA PLATA - A Justiça argentina condenou à prisão perpétua por genocídio o padre católico Christian Von Wernich, o primeiro religioso sentenciado por crimes contra a Humanidade cometidos durante a ditadura militar.
O padre católico Christian Von Wernich era capelão da polícia de Buenos Aires entre 1976 e 1983. Ativistas acusavam o padre de ir a centros de detenção clandestinos para pressionar as vítimas de tortura a falar. Na acusação, o governo Néstor Kirchner se uniu a organizações não-governamentais e a famílias de desaparecidos.
Von Wernich foi responsabilizado por participação em homicídios, casos de tortura e seqüestros.
" O testemunho falso é o demônio porque nele está a malícia, não a verdade "
O ex-capelão foi acusado de co-autoria nos homicídios de Domingo Moncalvillo, Cecilia Idiart, María Magdalena Mainer, Pablo Mainer, Liliana Galarza e Nilda Salomone, seqüestrados pela repressão. A promotoria resolveu não acusá-lo de participação no assassinato de María del Carmen Morettini, o que gerou protestos.
A advogada da queixa conjunta, Myriam Bregman, disse que "Von Wernich foi autor e peça-chave do genocídio promovido pela ditadura". O religioso é acusado ainda de torturar o falecido jornalista Jacobo Timerman, fundador e diretor do jornal "La Opinión".
Os sobreviventes e familiares das vítimas contaram, no tribunal, que o ex-capelão ouvia as confissões, nos centros de tortura, e passava informações aos repressores.
O julgamento, mostrado ao vivo pelas principais emissoras de televisão do país, durou mais de três meses.
Do lado de fora do tribunal, centenas de pessoas gritavam e comemoravam a decisão do juri.
- É um dia histórico, um dia maravilhoso...é algo que nunca imaginávamos que fosse acontecer - disse Tatu Almeyda, integrante das Mães da Praça de Maio - algumas delas mães das vítimas.
" É um dia histórico, um dia maravilhoso "
O veredicto unânime dos três juízes foi lido pelo presidente do Tribunal Federal de La Plata (57 quilômetros ao sul de Buenos Aires), Carlos Rozanski, diante de Von Wernich, que ouviu a sentença com o rosto contraído.
O veredito foi exibido também num telão em frente ao tribunal. Tanto dentro da corte como fora dela, houve uma explosão de vozes, com manifestantes comemorando a decisão. A Igreja Católica se manteve em silêncio durante o julgamento.
Von Wernich fez uma espécie de homilia, com citações bíblicas, fez um apelo à reconciliação nacional e se disse vítima de falsos testemunhos:
- O testemunho falso é o demônio porque nele está a malícia, não a verdade - disse. - Se queremos chegar à verdade, o façamos com paz.
O governo da Argentina e organizações de direitos humanos destacaram a "decisão histórica" que condenou à prisão perpétua o sacerdote. O secretário de Direitos Humanos da Argentina, Eduardo Luis Duhalde, considerou que se trata de "uma decisão histórica" e disse que agora espera "que todos os responsáveis" por crimes cometidos durante o regime sejam punidos.
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