segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Vôo acima de um ninho de tucanos


Dividido, PSDB cogita adiar decisão sobre a CPMF


Negociação com o governo opõe base e

cúpula do partido

Em meio à confusão,

líderes tentam ‘restaurar’ a unidade

Tasso e Virgílio equilibram-se entre o governo e a unidade da bancada tucana

O PSDB marcou para as 19h desta terça-feira (6) uma reunião de sua Executiva Nacional. Em tese, o encontro serviria para que o partido decidisse, finalmente, se votará contra ou a favor da emenda da CPMF, pendente de apreciação no Senado. Diálogos reservados travados no final de semana, porém, consolidaram o risco de o partido optar por uma terceira hipótese: a de decidir não decidir. Para ganhar tempo, o tucanato faria uma contraproposta à proposta formulada pelo governo.

Há escassas duas semanas da realização do Congresso partidário em que pretende aprovar um novo ideário e renovar a sua direção nacional, o PSDB vive uma crise de identidade. A grossa maioria dos deputados e senadores tucanos deseja reforçar a linha de oposição a Lula. Em sentido inverso, parte da cúpula da legenda esforça-se para fechar um acordo com o governo. No centro da arenga, estão os interesses dos governadores tucanos, em especial José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas).

Um diálogo mantido na última quinta-feira (1) entre Guido Mantega e o senador Arthur Virgílio (AM) ilustra a encalacrada em que se meteu o PSDB. O ministro da Fazenda acabara de expor ao grão-tucanato a proposta do governo para granjear votos a favor da emenda da CPMF. O líder tucano no Senado cobrou o detalhamento da proposição. Queria números. Mantega mostrou-se receptivo: “Entendo, vocês querem segurança para negociar.” E Virgílio: “Não, precisamos de segurança para não apanhar da bancada”.

A despeito dos risos que se seguiram à observação de Virgílio, não são negligenciáveis os riscos de que o PSDB saia desunido das negociações com o governo. Na Câmara, o partido votou em peso contra a CPMF. De uma bancada de 57 tucanos, o único a dissentir foi Manoel Salviano (PSDB-CE). No Senado, entre oito e nove dos 13 tucanos pendem para a rejeição à CPMF.

A iminência de uma conflagração do partido levou o senador Sérgio Guerra (PE), escalado para presidir o PSDB a partir de 23 de novembro, a adotar posição mais cautelosa que a de Virgílio e a de Tasso Jereissati, atual presidente do PSDB. Para Guerra, a prioridade é a unidade do partido, não o acordo com o governo. Neste domingo (4), em diálogo reservado, Guerra disse: “Ainda que a gente chegue a um acordo muito bom com o governo, se esse acordo levar à divisão do partido, será um acordo péssimo para o PSDB.”

Sérgio Guerra diz, em privado, que não se sente “obrigado” a tomar uma decisão nesta terça-feira. Afirma que quem deve preocupar-se com o tempo é o governo, não o tucanato. Deflagrou uma articulação para preparar a reunião da Executiva. Acha que não se deve chegar a um encontro de tamanha importância sem uma série de diálogos prévios que unifiquem o discurso do partido.

O próprio Arthur Virgílio, também em reserva, impõe uma condicionante à negociação com o governo: “Nosso limite é a nossa unidade”, diz ele. “Não vamos permitir que o partido saia dividido dessa negociação.” Virgílio procurou o deputado Antonio Palocci (PT-SP), para reforçar algo que já dissera a Mantega. “Vocês precisam nos ajudar a ajudar o governo”, disse o líder tucano ao ex-ministro da Fazenda de Lula.

Virgílio procurou deixar claro a Palocci que o governo precisa adensar a sua proposta com números expressivos. Do contrário, a cúpula tucana não teria nem argumentos nem razões objetivas para se contrapor à contrariedade de seus deputados e da maioria de seus senadores. Mantega prometeu para esta segunda-feira (5) o detalhamento da proposição oficial. Se o governo vier com o que Virgílio chama de “números de fancaria”, a tendência do PSDB seria a de encerrar a negociação. Se os números forem “consistentes”, o tucanato tenderia a formular uma contraproposta. O que retardaria a definição da bancada.

De todos os líderes tucanos, Tasso Jereissati é o que defende de maneira mais entusiástica a formalização de um acordo com o governo. Nos subterrâneos, deputados do PSDB insinuam que o presidente da legenda estaria acomodando interesses paroquiais acima das conveniências partidárias. Por esse raciocínio, os pendores governistas de Tasso estariam escorados no desejo do senador de arrancar de Lula a viabilização de uma ZPE (Zona de Processamento de Exportações) no Ceará.

As suspeitas dos deputados tucanos são tonificadas pela movimentação de Romero Jucá (PMDB-RR). Líder de Lula no Senado, Jucá empenha-se pela edição de uma medida provisória que atenda aos interesses de Tasso. Aprovada há quatro meses pelo Senado, a lei das ZPEs teve alguns de seus artigos vetados por Lula. Havia o compromisso do governo de editar uma MP restabelecendo nacos da lei que contemplariam interesses contrariados, entre eles os de Tasso. Algo que deve ocorrer nos próximos dias.

A mera vontade de Tasso não basta, porém, para converter em concórdia a contrariedade da maioria dos congressistas tucanos. Para desanuviar a legenda, governadores como Serra e Aécio terão de sair a campo. Segundo o raciocínio esgrimido privadamente por Sérgio Guerra e Arthur Virgílio, o posicionamento a ser adotado pelo PSDB na votação da CPMF, seja ele qual for, terá de ser referendado pela ampla maioria da legenda. Ou seja, quem quiser virar a opinião dos congressistas contrários à CPMF vai ter de arregaçar as mangas.

Serra e Aécio estão em campo. Não lograram, por ora, convencer nem mesmo a integralidade dos tucanos paulistas e mineiros. Daí o risco de que o partido opte por ganhar tempo, decidindo não decidir nesta terça-feira.

Escrito por Josias de Souza

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