segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Problemas no Bloco de Ciro: PDT procura porta de saída

Paulo de Tarso Lyra
Valor



Nelson Perez/Valor
Cristovam: "Falamos que somos um bloco de esquerda para nos contrapor ao PT, que esqueceu suas bandeiras. Mas qual a revolução que nós pregamos"?

O PDT está disposto a romper a aliança política com o bloquinho de esquerda, composto pelo próprio partido, o PSB e o PCdoB. Apesar do presidente da legenda, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, continuar participando das viagens com os demais presidentes partidários para apresentar o bloco nos Estados, é crescente a insatisfação de deputados e senadores com o formato da união. O líder do bloco na Câmara, Paulo Pereira da Silva (SP), não esconde a pressão dos deputados do PDT, que reclamam de "falta de autonomia parlamentar". A voz mais dissonante, contudo, é a do presidenciável e senador Cristovam Buarque (DF). Para ele, o bloquinho está minado por dentro. "Não temos um bloco político, temos uma reunião com interesses meramente eleitorais", criticou.


Os dois descontentes somam-se ao líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ), que nunca foi um entusiasta da união. Integrantes dos demais partidos viam nisso um ciúme proveniente da intimidade de Miro com o PT. Aos petistas, interessa um bloquinho raquítico para enfraquecer a aliança que apóia a candidatura de Ciro Gomes à Presidência em 2010.


Mas Cristovam não sofre qualquer influência petista. Pelo contrário - a raiz dos ataques dele é justamente a falta de diferenciação entre o bloco de partidos e o governo Lula/PT. "O que nos difere das demais forças que estão aí? A união não foi uma questão programática ou ideológica, foi uma decisão meramente tática", declarou Cristovam. "Falamos que somos um bloco de esquerda para nos contrapor ao PT, que esqueceu suas bandeiras. Mas qual a revolução que nós pregamos"? questionou ele.


Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), confirmou ao Valor que os deputados da legenda estão desconfortáveis. Como bloco, as decisões precisam ser colegiadas, as votações encaminhadas em conjunto. Em ano eleitoral, como será de 2008, essa falta de independência incomoda os deputados, que precisam mostrar trabalho para suas bases eleitorais. "Muitos entendem a importância do bloco. Mas acham que os partidos, isoladamente, têm melhores condições de ocupar o plenário".


Enquanto a crise não estoura por dentro, as três legendas tentam manter a rotina de viagens pelo país, para tentar passar uma imagem de normalidades. O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo (SP), reconhece que setores do PDT trabalham ostensivamente contra a parceria, mas lembrou que a legenda foi uma das primeiras a apoiar Aldo Rebelo (PCdoB-SP) na disputa contra Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara, em fevereiro deste ano.


Para cada um dos descontentes, Rabelo tem uma avaliação. No caso do Miro, é a proximidade com o PT. No caso de Cristovam, seria o desejo de ser candidato a presidente em 2010, rivalizando com Ciro. Renato lembra que o próprio Planalto via com estranhamento a união no início. "O governo não se sentiu à vontade ao ver uma reunião de partidos de esquerda contra o PT. Hoje, a maior preocupação deles é com a criação da nossa central, a União Geral dos Trabalhadores (UGT)", destacou Rabelo.


Se não bastasse todo esse caldeirão interno, ainda há as eleições municipais de 2008. O bloco de esquerda surgiu porque os partidos que o compõem acreditavam que a base aliada deveria apoiar a candidatura única de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à reeleição para a presidência da Câmara. O PT discordou, lançou Arlindo Chinaglia (SP) numa aliança com o PMDB e rachou a esquerda brasileira.


Mas essa unidade defendida lá atrás terá que ser costurada a duras penas daqui para frente. Em pelo menos três das principais capitais brasileiras - Rio, São Paulo e Porto Alegre - todos os partidos do bloco têm nomes fortes e viáveis eleitoralmente para concorrer a prefeito. Em São Paulo, existem pelo menos três pré-candidatos: Paulinho (PDT), Luiza Erundina (PSB) e Aldo Rebelo (PCdoB). No Rio, outros três: Paulo Ramos (PDT), Jandira Feghali (PCdoB) e Carlos Lessa (PSB). E Porto Alegre, outros três: Beto Albuquerque (PSB), Manuela D'Ávila (PCdoB) e Vieira da Cunha (PDT).


"É bom que todos nós tenhamos candidatos. Mas teremos que decantar isso internamente", alertou o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES). O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral (RJ) acha prematura qualquer definição no momento, já que não existe ainda a certeza de quais candidaturas poderão se viabilizar. "Não temos dúvidas de que teremos dificuldades durante o processo eleitoral. Mas teremos de avaliar quem estará em melhores condições no ano que vem, ou quem agrega mais apoio político, pensando em disputas que se decidam apenas no segundo turno", ponderou Amaral.


Vencidas todas essas turbulências, haverá ainda 2010. Lula adota uma postura ambígua em relação ao grupo. Alguns acham que ele boicota a união, para não vitaminar a candidatura Ciro Gomes. Outros acreditam o contrário: ciente das divisões internas e sem vontade de dar força demais ao PT, Lula incentivaria a parceria dos partidos de esquerda porque sempre soube "reinar sobre tendências e facções".


Outra questão permanece em aberto: Ciro é o candidato natural do bloquinho? Ele diz que não há nada oficial, mas se comporta como tal, em viagens, palestras e debates por todo país. Em 2006, por uma questão de lealdade a Lula, não foi candidato a presidente. Mas Cristovam Buarque foi, inclusive, como oposição. "Eu acho legítimo o Ciro se lançar. Eu ainda não me lancei. Mas estou debatendo propostas de país", respondeu Cristovam. "Não vamos lançar o Ciro de qualquer jeito. Quando chegar o momento certo, vamos ver quem tem mais força", completou Renato Casagrande (PSB-ES).

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