sábado, 10 de novembro de 2007

FMI faz alerta para riscos na área de crédito

FERNANDO CANZIAN
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL - FOLHA DE SÃO PAULO

O diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional), o indiano Anoop Singh, afirmou ontem que Brasil e região devem se preocupar com aumentos indiscriminados na concessão de crédito, pois isso traria riscos ao sistema financeiro.
"O crescimento rápido do crédito merece acompanhamento de perto das autoridades. Na América Latina, o crédito tende a aumentar rapidamente, elevando os riscos envolvidos", disse Singh.
"Os BCs devem acompanhar com cuidado para ter certeza de que os bancos não estão diminuindo seus padrões de análise de concessão de crédito", completou. Singh participou, em São Paulo, do lançamento de relatório do FMI sobre os países americanos e da região do Caribe em seminário na Fundação Getúlio Vargas.
Nos últimos cinco anos, o volume de concessão de crédito como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil aumentou de 21% para 33%, com dezenas de novas modalidades no mercado e estratégias agressivas dos bancos para atrair clientes.
No mesmo evento, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que o volume de crédito total na economia brasileira ainda "permanece bem aquém das de outras regiões, inclusive de emergentes. E evidencia espaço para expansão", disse.
"A relação de crédito total sobre o produto expandiu, mas é muito inferior a de países como Malásia, Tailândia, e Coréia [do Sul]", afirmou Meirelles. "Crescente parcela da população está tendo acesso ao crédito. Mas ainda estamos em um patamar substancialmente inferior àqueles países que já estão enfrentando um limite, como é o caso dos EUA."

Outros riscos
Além do eventual risco com a concessão de créditos, o relatório do FMI assinala que Brasil e região podem sofrer impactos negativos de uma desaceleração maior da economia norte-americana e da queda nos preços das commodities (grãos, minérios, etc.).
Em resposta a essas considerações, o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que o Brasil estaria preparado, com saldo comercial e reservas, até para uma eventual "recessão típica" nos EUA, que poderia durar entre 12 a 18 meses.
Sobre as commodities, Barbosa afirmou que haveria uma queda nas exportações e nos ganhos comerciais, mas que o país seria beneficiado, por outro lado, por pressões menores sobre a inflação.
Barbosa manteve a previsão da Fazenda de crescimento de 4,7% neste ano e de 5% em 2008 (o FMI prevê 4,4% e 4%, respectivamente).
"Crescer 5% no ano que vem é um desafio que temos. E existem condições para isso", disse Barbosa. Segundo ele, o governo espera um crescimento de 6,5% na demanda doméstica em 2008. Para chegar aos 5% de crescimento seria descontado 1,5 ponto percentual relativo à demanda que será atendida pelas importações.
Apesar dos alertas, Singh fez vários elogios ao Brasil. Disse que o país "é líder" de uma "nova era" na América Latina, que inclui "estabilidade macroeconômica e inflação baixa".
O funcionário do Fundo afirmou ainda que, apesar de crescentes, os gastos públicos no Brasil "estão melhor contidos" do que em outros países. "O superávit fiscal [economia para pagar juros] também é mais robusto que em outros países."

Gastos sociais
Barbosa, da Fazenda, defendeu a política de aumento dos gastos públicos direcionados a programas sociais e à Previdência. Segundo ele, essas despesas já equivalem a 42% do PIB. "O governo sabe que precisa manter o controle do gasto. Mas, no caso dos gastos sociais, o que houve foi uma redistribuição da renda do setor privado" [em direção aos mais pobres].
Já sobre a demora em os resultados macroeconômicos serem revertidos em queda da desigualdade social, Singh afirmou: "A história nos deu a lição de que leva tempo para mudar esse quadro. Mas há evidências de que o país entrou em uma nova fase, e que essa tendência [de redução das desigualdades] deve se autoalimentar".

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