Reflexões pessoais após a eleição de Sarkozy presidente da França
6 de maio 2007
Sem surpresa e antecipada pelas pesquisas, a vitória de Nicolas Sarkozy por 53% dos votos mostra um claro agrupamento majoritário na França em favor da direita. Sarkozy conseguiu unir seu campo e atrair ao mesmo tempo os eleitores da extrema-direita, incorporando uma parte do discurso extremista ao seu próprio programa.
O novo presidente soube combinar seu programa abertamente liberal e várias das teses xenófobas defendidas pela Frente Nacional de Le Pen. Sua habilidade consistiu em se erigir no porta-voz da mudança, tendo sido ministro dos governos de direita desde a época de Balladur e recentemente durante os últimos cinco anos do reinado de Chirac.
O homem encarna um misto de Margareth Thatcher e Silvio Berlusconi, com acentuada inclinação ao populismo transalpino deste último. Como as eleições legislativas acontecem em apenas um mês, suas primeiras palavras foram para os que não votaram por ele, com o claro objetivo de cooptar uma parte do eleitorado da oposição em vistas a assegurar-se uma maioria no parlamento. Sua postura “camaleônica” não deve ocultar sua clara orientação de direita e sua vontade de desmantelar ainda mais o Estado de Bem-estar social em favor de um liberalismo à moda de Reagan.
Ségolène Royal obteve 47% dos votos (aproximadamente 17 milhões de sufrágios contra 19 milhões para Sarkozy). O resultado está longe de ser um desastre para ela. Ao contrário, ela surge como a líder popular do campo da esquerda, tendo-se sobreposto a diversos líderes de seu próprio partido e ao machismo destilado durante todo seu percurso. Porém, ela já enfrenta os ataques de vários dirigentes do PS que desencadearam um fogo fechado contra a candidata, apenas anunciados os resultados. Mesmo que esta atitude derrotista leve a aprofundar a derrota da esquerda, em momentos em que deveria ao contrario prevalecer a unidade para enfrentar o embate eleitoral de junho.
A França entra num período de turbulências, políticas e sociais. A “fratura social” que no passado fora denunciada pela própria direita, agora, provavelmente será aprofundada. Ela provocará novas crises sociais e deploráveis surtos de violência. A fratura política, fotografada nitidamente nesta eleição, não deixa espaço para convergências, nem consensos. Canalizar positivamente a oposição ao liberalismo exigirá da esquerda e de Ségolène Royal uma postura de amplitude em direção ao centro, elaboração de propostas factíveis de constituir uma alternativa crível contra a direita e firmeza no posicionamento partidário. Um desafio talvez maior que o de ter sido candidata à presidência da França.
Luis Favre
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