quinta-feira, 24 de maio de 2007

Reflexões pessoais sobre o governo Sarkozy, as eleições legislativas e a esquerda



Poucos minutos após ter sido consagrado vencedor das eleições na França, Nicolas Sarkozy se lançava na batalha das eleições legislativas, previstas para o 10 e 17 de junho.
Tendo conseguido unificar seu campo integrando uma boa parte dos votos da extrema-direita e uma parte dos eleitores do centro, o habilidoso presidente saiu a campo para abocanhar uma parte da própria esquerda e assegurar assim uma maioria esmagadora de parlamentares da direita na Assembléia Nacional. Depois de incluir alguns trânsfugas do Partido Socialista no seu gabinete de direita, de proclamar uma vontade “conciliatória” e acima das clivagens esquerdo-direita tradicionais na França, sua retórica tem incorporado pedaços da temática do centrista Bayrou e da esquerda social-democrata.

O homem que durante os últimos quatro anos esforçou-se em fornecer uma plataforma dos sonhos a direita francesa, baseada na liberalização do mercado, a redução dos impostos para os mais ricos, um controle maior da imigração e da repressão policial, a revisão do código do trabalho, das normas para demissões, do pagamento das horas-extras; reaparece transmutado no defensor da ecologia, da “consertação” entre patrões e assalariados, da superação das divergências pelo diálogo...



A sua audácia chega ao ponto de propor ao conjunto das organizações ecologistas um “Grenelle” do meio-ambiente, uma referência a negociação de maio de 1968, quando tinha prometido acabar com a herança do mesmo maio 68. Saudado pelos seus pares como o líder que cumpriria com suas convicções liberais e tendo afirmado que preservaria a supremacia do automóvel, as centrais nucleares, os fornos de incineração de lixo e demais ojerizas dos ambientalistas, sua conversão deixa perplexo.

Em verdade, todos seus gestos e atos depois das presidenciais visam exclusivamente a aplicar um estelionato eleitoral e durará o tempo da primavera e verão francês. Assim agindo, alem de mostrar uma habilidade na manobra, deixa aparecer seu verdadeiro caráter de arrivista político cuja única ambição é o poder e os privilégios aferentes. Quando se compara Sarkozy a Bonaparte é bom esclarecer: não se trata de Napoleão o audaz conquistador da Europa dos monarcas e de seu revolucionário código civil. Nosso pequeno Nicolas é emulo do Charle Louis Bonaparte (1808-1837), sobrino arrivista e aventureiro do herói, que pelo golpe de estado (1848) assumiu todos os poderes na França para servir-se, ele e seus amigos, dos cofres públicos ao mesmo tempo em que dissolvia toda e qualquer representação política democrática em beneficio da dominação absoluta dele próprio.
Napoleão III

Porem se efetivamente assistiremos a uma grande vitória da direita no escrutino legislativo a responsabilidade é também, por certa parte, na atitude dos dirigentes da esquerda e da extrema-esquerda que priorizaram suas divergências, suas aspirações a liderança e suas ambiciones futuras, ao combate para propulsar os 47% obtidos por Ségolène Royal numa vitória no parlamento. O resultado é que a esquerda esta em debandada e isto ira afeta-la por vários anos.

Sarkozy podrá obter uma grande vitória política e uma maioria estável no parlamento mas ainda deverá transformar isto em vitória social do liberalismo e na França isto não se fará pacificamente.
Como disse o jornal Le Canard Enchaîné desta semana: “Ele corre, ele corre o Sarko, passou por aqui passou por lá etc. Age como si fosse ficar dois qüinqüênios. Mas se corre tão rápido neste momento é que não ignora que depois do verão arrisca ser alcançado pelas suas promessas e as realidades”.

Luis Favre

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