sábado, 26 de maio de 2007

A revolta na USP

Crise em redudo do tucanato atinge prestígio do governador José Serra, ex-lider estudantil de 1964

ALAN RODRIGUES para Istoé



MONTAGEM SOBRE FOTOS DE ROBERTO CASTRO E CLAYTON DE SOUZA/AE


Era quase noite da terça-feira 15 de maio quando o telefone do governador José Serra tocou em seu gabinete. De um lado, Suely Vilela, reitora da Universidade de São Paulo (USP), que há 12 dias tentava negociar com cerca de 200 estudantes que ocupavam a reitoria. Do outro, o governador, que iniciou sua trajetória política como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1963/64 - e acompanhava a greve com lupa.

Entre as 17 reivindicações dos grevistas está a exigência de que o governo retire os cinco decretos que, na ótica deles, ferem a autonomia da universidade. Serra vinha criticando a tolerância da reitora com os grevistas. O diálogo foi rápido:- Governador, terminei uma reunião com alguns professores do Largo São Francisco e concluímos que não existe outra alternativa para retirar estudantes do prédio a não ser a judicial.- Tá certo.- O prazo da desocupação venceu ontem às 16h. Eles estão intransigentes.- Tá bom. Mantenha-me informado.

Na manhã seguinte, os advogados da USP entraram com o pedido de reintegração de posse do prédio na 13ª Vara da Fazenda Pública do Estado. Por volta das 17h do mesmo dia, um oficial de Justiça já notificava os grevistas, que se recusaram a assinar o documento. Não era a primeira vez que a Justiça paulista determinava a reintegração de uma instituição de ensino estadual. Há dois meses, os estudantes da Universidade de Campinas (Unicamp) foram obrigados a desocupar a reitoria sob ameaça do uso da força policial. Colocada diante de uma situação semelhante, a direção da USP resolveu repetir a lição da Unicamp. Desta vez, porém, o resultado foi inesperado: o governo encontrou uma patuléia de estudantes afinada com a ultra esquerda nacional, ligada ao PSTU e ao PCO, e disposta a resistir à PM.

Qualquer que seja o desfecho da situação, ela complicou a relação do governo Serra com seu ninho - o PSDB surgiu praticamente na USP. Os problemas começaram em dezembro, no apagar das luzes do governo Cláudio Lembo (DEM). No último dia de mandato, ele encaminhou à Assembléia Legislativa um projeto que reduzia verbas do ensino universitário. A decisão irritou o Conselho de Reitores das Universidades Paulistas (Cruesp), formado pelos administradores da USP, Unesp e Unicamp. Eles viram o dedo de Serra na trama.

A relação ficou pior com a criação da Secretaria de Ensino Superior - entregue ao médico José Aristodemo Pinoti - e a exigência de inclusão das universidades no Siafem, o sistema de gerenciamento financeiro que exige prestação diária de contas.

Sabe-se que Serra investiu nessas mudanças depois de tomar conhecimento do saldo das aplicações financeiras da USP: cerca de R$ 1 bilhão. Foi só anunciar o pedido de transparência pública que os reitores deram pulos de indignação e agitaram a bandeira da autonomia universitária.

"O corpo universitário não aceita ter sua contabilidade ao sabor dos ventos orçamentários do Estado e quer ver suas finanças longe da burocracia", defende Arquimedes Diógenes Ciloni, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Na verdade, ninguém - professores ou alunos - admite que o governo tenha o controle do orçamento anual da USP, de quase R$ 2 bilhões. "Não vamos tirar verbas, só queremos que as universidades prestem contas", diz Serra. "A prestação de contas não é nenhuma ofensa à autonomia", completa o filósofo José Arthur Gianotti, professor emérito da USP.

O açodamento de Serra pode lhe custar caro. "Foi uma tremenda falta de habilidade dos dois lados", admite um tucano de alta plumagem que pediu anonimato. Seus adversários dentro do PSDB comemoram.

Leia mais sobre o conflito entre Serra e os estudantes e professores da USP neste Blog (ver arquivo ao lado)

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