sábado, 19 de maio de 2007

'Ser judeu é ser um eterno outsider'

O escritor David Grossman, que é ateu e não se sente especialmente ligado à terra, diz que só em Israel não é um estrangeiro

Antonio Gonçalves Filho

Entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo

Uma série de ataques aéreos deflagrados esta semana por Israel em Gaza contra o grupo islâmico Hamas, que ameaçou responder com atentados suicidas, colocam novamente em cena a discussão sobre a possibilidade da coexistência pacífica entre judeus e palestinos. Uma das principais vozes a pregar uma solução pacífica para o conflito, o escritor israelense David Grossman, que perdeu um filho no ano passado, vítima de um míssil disparado pelo Hezbollah, concedeu a entrevista abaixo um dia antes do episódio de violência na Faixa de Gaza. Nela, o sensato Grossman, autor de Ver: Amor, ratifica sua posição: ele acredita numa solução negociada.

Kafka e Heinrich Böll são normalmente lembrados quando alguém se refere a seus livros. Quais são as marcas dessa influência que o senhor identifica em sua literatura?

Kafka, naturalmente, é uma referência para qualquer escritor moderno, mas não identifico traços dele em minha literatura. É só uma inspiração. Já Böll não foi apenas uma influência. Ele realmente me ensinou a contar uma história. Kafka teve o mérito de descobrir uma outra dimensão. Foi uma pessoa que ficou fora da vida para conhecê-la melhor, como se a visse de uma janela.

Num livro chamado I Am a Jew, publicado há dois anos, vários autores judeus tentam entender sua identidade, entre os quais o senhor, que define ser judeu como o estrangeiro absoluto, condenado à mais atroz solidão, como se fosse um personagem criado por Beckett. Ainda se sente assim?

Sinto-me tremendamente ligado à tradição judaica, apesar de ateu, e a toda essa corrente de escritores que falam de isolamento e solidão. Já não posso dizer o mesmo de Israel, que não sente compaixão pelo sofrimento alheio. Muitos israelenses parecem indiferentes à ocupação. Creio que temos de resgatar essa sensibilidade, essa capacidade de sentir o outro. Leia a entrevista na integra aqui

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