quarta-feira, 9 de maio de 2007

Para filósofo, Sarkozy usou discurso stalinista


MARCOS STRECKER ENVIADO ESPECIAL DA FOLHA DE SÃO PAULO A PORTO ALEGRE

(Photo: Sean Kernan)

Para o filósofo mais polêmico da França, Bernard-Henri Lévy, Nicolas Sarkozy venceu a eleição do último domingo porque teve a sensibilidade tática de fazer uma campanha à direita das suas próprias posições. E o grande mérito da candidata socialista derrotada, Ségolène Royal, foi ter quebrado um tabu da esquerda francesa: conseguiu aproximar os socialistas do centro e da centro-direita, abandonando a ligação histórica com a extrema esquerda. "Mesmo perdendo, ela foi vitoriosa por causa disso", declarou Lévy ontem na capital gaúcha.

Lévy, que votou em Royal, comentou o resultado das eleições francesas em Porto Alegre, onde esteve ontem como um dos convidados do ciclo Fronteiras do Pensamento, que ocorre na UFRGS, onde iria proferir na noite de ontem uma conferência sobre seu último livro, "American Vertigo".

Para ele, que critica o antiamericanismo europeu, o resultado das eleições vai exigir que a esquerda se reinvente.

A julgar pela reação do filósofo, de todo o debate eleitoral, o tema que mais irritou a esquerda foi a declaração de Sarkozy sobre a "superação" de Maio de 68. Sarkozy havia declarado em discurso que o país precisava "virar a página" de Maio de 68.

"Ele disse que era preciso liquidar a herança de Maio de 68. Usou a palavra liquidar, que é uma expressão muito forte", declarou Lévy. "Foi um discurso stalinista, uma reação stalinista. Não se liquida um processo histórico. Os stalinistas sempre estiveram errados", afirmou, enfático. "Maio de 68 deixou marcas profundas na sociedade francesa, a esse respeito o novo Presidente já fracassou.

"Mas o intelectual modera o tom ao falar das manifestações de rua anti-Sarkozy e dos mais de mil veículos incendiados no país desde a vitória do conservador. "Os conflitos aconteceriam com Sarkozy ou Ségolène. E vão continuar porque o modelo republicano francês está falido. Sim, há vandalismo e essas ações precisam ser combatidas, mas há um enorme desemprego nessas periferias, e o problema do discurso contra a barbárie é que ele oculta os problemas sociais", afirmou.

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