sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Nova fronteira do petróleo


Celso Ming - O Estado de São Paulo

celso.ming@grupoestado.com.br

A descoberta de um campo gigante de petróleo e gás na Bacia de Santos é um acontecimento cuja importância transcende as dimensões econômica e energética. O impacto político e estratégico está por ser avaliado.

Este foi apenas o primeiro campo encontrado abaixo da camada de sal, formação geológica de 300 a 500 metros de espessura e cerca de 200 quilômetros de largura, que se estende por 3 mil quilômetros ao longo da costa, de Santa Catarina ao sul da Bahia. Está situada na plataforma continental, entre 6,5 mil e 7 mil metros abaixo do nível do mar.

Até agora, a maior parte do petróleo encontrado no Brasil é pesada (17 graus API). A principal teoria dos geólogos da Petrobrás é a de que esse óleo migrou de depósitos situados abaixo da camada de sal para acima dela, por fissuras causadas por pressões geológicas. No caminho, incorporou detritos, razão por que é de qualidade inferior. A hipótese dos geólogos é a de que as jazidas mais abundantes e de melhor qualidade estão abaixo do sal porque não conseguiram escapar de lá.

Há dois anos, a Petrobrás começou a perfurar essas estruturas. Na Bacia de Santos (Campo de Tupi) e na do Espírito Santo (Campo de Golfinho), as duas áreas em que iniciou os trabalhos, deu bingo: petróleo e gás de ótima qualidade. Mas só agora a Petrobrás pôde concluir a cubagem da jazida encontrada na Bacia de Santos, que aumenta em cerca de 40% as reservas brasileiras, ultrapassando as do México.

A descoberta anunciada parece ser apenas o começo. Ficou comprovado o potencial abaixo da camada de sal. E isso abre nova fronteira para exploração.

Em razão da enorme profundidade, altas temperaturas e fortes pressões, a exploração desses poços exige tecnologia de ponta. As condições da geometria de perfuração requerem diâmetro inicial maior do que a de um poço convencional; brocas especiais dotadas de turbina que giram só na extremidade e não ao longo do eixo de 6 mil a 7 mil metros; e lubrificantes de altíssimo desempenho.

Como o diretor de Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, já explicou, seu custo de perfuração é cerca de três vezes mais alto do que o de um poço comum. Mas, diante do petróleo a US$ 100 por barril e diante das proporções da descoberta, esse aumento de custo pode ser considerado insignificante.

A nota oficial da Petrobrás emitida ontem afirma que o Campo de Tupi, somado aos já conhecidos, “coloca o Brasil entre os países com grandes reservas de petróleo e gás no mundo” (veja tabela).

Para dizer o mínimo, do ponto de vista econômico, a novidade vai atrair ainda mais interesse por petróleo e gás no Brasil. Mas o impacto maior pode ocorrer no campo estratégico e político. À medida que o Brasil for reconhecido como potência energética num quadro de escassez de petróleo, seu peso geopolítico deve crescer. E mudam, também, as condições de negociação com Venezuela, Argentina e Bolívia, os grandes produtores vizinhos de petróleo e gás.

Será inevitável que o presidente Lula tente tirar o máximo proveito interno das novas perspectivas. A conferir.


Confira

Visão estreita -
Ontem, o presidente do Fed, Ben Bernanke, criticou os analistas de Wall Street, incapazes de prever a crise das hipotecas podres: “É surpreendente e desapontador que investidores sofisticados (...) olharam para o rating do crédito e foi só o que fizeram.”

Outra estreiteza - Há outra crítica a fazer aos analistas financeiros, especialmente do Brasil. Há dois anos, atenta às recomendações dos geólogos, a Petrobrás perfura a camada de sal. Mas esses analistas não enxergam além dos fluxos de caixa, Ebitdas e outras rubricas contábeis. Não previram a nova aposta a fazer na Petrobrás.

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