IPTV: internet está mais perto da TV do futuro do que a TV digital, dizem especialistas
Agnes Dantas, O Globo Online RIO - O cenário ideal para a televisão do futuro seria um telespectador livre para assistir a programação que quiser na hora em que decidir e em qualquer lugar - de preferência também no celular -, sem uma grade fixa a seguir e com direito a interagir com outros usuários que tenham gostos em comum. E mais: como acontece no YouTube, o telespectador também pode ser produtor de conteúdo audiovisual. ( Leia mais: sob influência da Web 2.0, TV do futuro deverá ter conteúdo definido pelo espectador )
Diante deste cenário, especialistas defendem: o Brasil está mais perto de alcançar este modelo de televisão do futuro pela chamada TV sobre internet - IPTV - e pelas ofertas de vídeos sob demanda (on demand) do que pela TV digital. ( Leia mais: dez questões mais comuns sobre TV digital ), já que o sinal de internet pode chegar na TV, no computador e até no celular.
- Os vídeos que o espectador encomenda hoje pelo pay-per-view da TV a cabo ou via satélite estão amarrados a uma grade fixa. Se você perder dez minutos, já era. E não dá para parar, nem voltar, nem retomar depois. Isso não é TV do futuro - afirmou Alan Sawyer, co-fundador da consultoria de tecnologias Two Solitudes, um dos especialistas que estiveram no congresso "TV 2.0", em São Paulo.
Contam a favor da internet o aumento constante no volume de acessos em banda larga no Brasil - já passa dos seis milhões de usuários - e o fato de o país manter a liderança em tempo gasto por mês com a internet - à frente de nove países, entre eles Estados Unidos e Japão. Já a TV digital, argumentam especialistas, inicia as transmissões em dezembro apenas em São Paulo e somente para quem comprar novos televisores ou conversores de sinal - sem a garantia de sinal de TV digital em outros estados antes de meados de 2008. E mobilidade? Ainda são poucos e caros os protótipos de celulares capazes de captar sinais de TV digital.
" Os vídeos que o espectador encomenda hoje pelo pay-per-view estão amarrados a uma grade fixa. Se perder dez minutos, já era. Isso não é TV do futuro (Alan Sawyer, da Two Solitudes) "
- Quando a gente fala em televisão pela internet (IPTV), estamos falando em entregar conteúdo televisivo através da estrutura que já existe na casa das pessoas, que é a rede de banda larga instalada. Os operadores precisam melhorar a qualidade da banda existente, é verdade, mas já estamos na casa deste usuário. Não estamos reinventando a roda - destacou Carlos Watanabe, da Brasil Telecom, que há um ano começou os testes com o serviço de IPTV, "Videon" , que já vende na tela do televisor vídeos sob demanda em Brasília.
Em defesa da IPTV, Watanabe cita um exemplo: no estado do Paraná, uma das áreas cobertas pela operadora, as empresas de cabo e satélite cobrem pouco mais de 20 cidades. A rede de padrão de até 8Mbps de velocidade da BrT atinge pouco mais de 200 municípios.
Já a gigante Warner Bros repete no Brasil a mesma estratégia internacional: usa o computador como canal de distribuição de conteúdo em vídeo (home video). O país é o único da América Latina em que é possível encomendar mais de 50 títulos em vídeo, inclusive lançamentos, via download para o computador com pagamento em reais. Desde julho a marca tem parceria com o portal Eonde ( www.eonde.com.br), conta Carlos Canhestro, diretor de operações Home Video da Warner Bros Brasil. O executivo anuncia novos planos e diz que a chegada da TV digital está confundindo o telespectador.
- Ainda nos primeiros três meses de 2008 devem ser lançados outros dois ou três portais como este de download legal de vídeos no Brasil. É o que eu acredito. Já a chegada da TV digital e dos DVDs de alta definição (HD DVD e Blu-Ray) agora em dezembro vão deixar o usuário muito confuso. O consumidor nem sabe o que vai comprar. Não é o melhor momento para definir uma estratégia agora. Toda a tecnologia precisa de um tempo de maturação, não adianta nada esta ansiedade toda. Já em 2008 vai ser diferente - afirma, com ar de suspense.
O celular também se transforma em um canal viável para a televisão sobre internet. A Claro acumula há dois meses experiência no assunto com o VídeoMaker, que oferece para download vídeos produzidos por usuários - que são remunerados por isso -, e que já possui IPTV com vídeos em streaming de emissoras como CNN e de canais como o Cartoon.
Na opinião de Galileu Vieira, gerente de novas tecnologias da Microsoft, tanto o computador quanto os celulares e os serviços que levam conteúdos da internet para a televisão têm chances de servir de central de ofertas para conteúdos de mais qualidade e interativos. O executivo citou o Windows Media Center, plataforma que chegou ao Brasil com o Windows Vista, em janeiro deste ano, e que é capaz de transformar o computador em uma central de entretenimento que distribui conteúdo digital (vídeos, músicas, fotologs, textos etc) para todos os equipamentos eletrônicos de uma casa via rede IP. E citou o exemplo do console de videogames da Microsoft, Xbox 360, que nos Estados Unidos será o terminal oficial de IPTV da operadora AT&T, por ser capaz de acessar a internet em alta velocidade, de gravar conteúdos e de realizar chamadas de VoIP, como o Skype.
- Por exemplo, nos Estados Unidos os usuários do Xbox Live (serviço online) usam o console para acessar conteúdo de TV sob demanda, ao mesmo tempo em que conversam com os amigos via VoIP, integrado com o Messenger (bate-papo). Pela internet podem comprar episódios de minisséries, alugar filmes e baixar jogos ou conteúdo televisivo em alta definição para assistir na TV plugada ao Xbox. Isso é TV do futuro - descreveu o especialista.
Vieira não confirmou se a Microsoft tem planos de oferecer Xbox Live no Brasil, mas lembrou que, caso haja planos, "ainda estamos dentro do prazo porque, em geral, este anúncio acontece de 12 a 14 meses após o lançamento oficial do console em um país": o Xbox 360 foi oficialmente lançado pela Microsoft em dezembro de 2006.
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