Indústria tem o maior uso de capacidade em 31 anos
Apesar da produção aquecida, sondagem da FGV não detecta pressões significativas por reajustes de preços neste trimestre
Márcia De Chiara - O Estado de São Paulo
Pelo segundo mês consecutivo, o uso da capacidade de produção da indústria de transformação atingiu níveis recordes. Em outubro, o indicador chegou a 87%, a maior marca em 31 anos, desde outubro de 1976 , quando havia atingido 89%, segundo a Pesquisa Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada ontem. Na comparação com setembro, o avanço foi de 0,9 ponto porcentual e de 2,8 pontos ante outubro de 2006.
Coincidência ou não, no início do mês passado, em Florianópolis (SC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou exatamente esse índice quando conclamou os empresários a investirem e produzirem mais, alertando para os efeitos do excesso de demanda sobre os preços.
Apesar de a capacidade de produção estar pressionada, a sondagem, que consultou no mês passado mais de mil empresas com faturamento total de R$ 553,6 bilhões por ano, mostra que não há um aumento na intenção de elevar preços neste trimestre em relação aos anteriores. Na média da indústria, 31% delas informaram que querem reajustar preços, ante 32% nos dois últimos trimestres.
“Se neste momento, que é o ápice de produção da indústria, não está ocorrendo pressão de preço generalizada, nada indica que a situação ficará crítica nos próximos meses”, disse o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo. Na sua avaliação, isso revela que o investimento está ocorrendo e o câmbio em baixa, que facilita a importação, contribui para segurar os preços. O quadro é favorável mesmo com o petróleo em alta.
Campelo disse que a pressão no uso da capacidade das fábricas não é generalizada e que a situação é crítica em três setores, dos 21 pesquisados. São eles: indústria mecânica, de material de transporte e de alimentos. A sondagem mostra que nesses setores há uma escassez maior de matérias-primas. De acordo com a sondagem, aumentou também o tempo que as fábricas levam para receber as matérias-primas, o que pode indicar o aquecimento da produção. Em outubro, 12% das empresas informaram um acréscimo nos prazos, ante 2% em outubro de 2006.
Com a produção aquecida, a indústria trabalha hoje, em média, com 2,5 turnos. Esse resultado está acima da média desde 2001, que é de 2,2 turnos, e do resultado em outubro de 2006, que foi 2,4 turnos. Os estoques de produtos acabados também estão mais enxutos. Segundo a sondagem, 10% da empresas informaram que seus estoques são insuficientes, ante 2% delas em outubro do ano passado.
Apesar da cautela do Banco Central (BC) ao interromper a queda da taxa básica de juros no mês passado, depois de um longo período de cortes na Selic, o otimismo da indústria no curto prazo não foi abalado. O Índice de Confiança da indústria atingiu em outubro 123,4 pontos, com um acréscimo de 14,7% em relação ao mesmo período de 2006. “Esse resultado é o recorde da série histórica iniciada em abril de 1995”, observou Campelo, ressaltando que o otimismo é sustentado pelo consumo doméstico e pelas exportações.
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