César Felício
Valor
Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
Jilmar Tatto defende que legenda dispute a hegemonia dentro do governo: "O PT é um gigante adormecido" |
Deputado de primeiro mandato mais conhecido fora do PT pelo poder de sua família na Capela do Socorro, uma região muito pobre da periferia de São Paulo, Jilmar Tatto ascende dentro do partido na disputa pela presidência da sigla, fazendo da defesa da candidatura própria petista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma de suas principais bandeiras. |
"O PT é um gigante adormecido, que precisa disputar a hegemonia dentro do governo, para deslocá-lo do centro para a esquerda. Para isso é preciso uma direção forte, que dê opinião sobre 2010. O candidato tem que ser escolhido de forma combinada com o presidente, dentro das fileiras do partido, sem relação de vassalagem e de correia de transmissão", afirma Tatto. |
O deputado lembra a eleição para a presidência da Câmara de seu aliado interno, Arlindo Chinaglia, como um exemplo de afirmação do partido contra a vontade do presidente e da direção nacional. "O governo não queria o Chinaglia, queria a eleição do Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O partido conseguiu se articular internamente e mostrar para o presidente que o melhor era o que o PT queria. Este processo pode se repetir", diz. |
Há três cenários de maior probabilidade hoje na eleição interna do PT, que deve ocorrer no dia 2 de dezembro: a vitória do atual presidente Ricardo Berzoini, do antigo Campo Majoritário, ainda no primeiro turno, por estreita margem, ou a realização de um segundo turno, contra Tatto ou o deputado federal José Eduardo Martins Cardozo, do grupo Mensagem. |
Os candidatos que representam a esquerda petista, como o dirigente Valter Pomar, por exemplo, têm menos chances porque não fizeram alianças nesta eleição com os setores centristas da sigla. Cardozo reúne um grupo composto pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, e pela corrente de esquerda Democracia Socialista, de Raul Pont, segunda colocada no processo interno em 2001 e 2005. Tatto é impulsionado pelo apoio do Movimento PT, liderado pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e por lideranças petistas de expressão local. Berzoini conta com o apoio de cerca de 40% da bancada no Congresso. |
Radicalmente contrário a um candidato não-petista em 2010, Tatto toma cuidado em não se identificar com a defesa de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O presidente do Brasil a partir de 2011 não será Lula. Jamais se conversou dentro do partido sobre a hipótese de se mudar as regras já estabelecidas para o jogo da sucessão. Sou contra a discussão disso", afirma. |
Ex-secretário municipal de Transportes no governo Marta Suplicy, Tatto é a favor da candidatura da atual ministra do Turismo para a Prefeitura de São Paulo no próximo ano. Segundo Tatto, o PT deve jogar suas melhores cartas em 2008 para reforçar a tese da candidatura própria. "O PT tem que entrar em 2008 com seus melhores nomes e o Diretório Nacional deve chamá-los à responsabilidade e conduzir as sucessões municipais a partir daí. A eleição do próximo ano não pode ficar ao sabor das lideranças locais e das situações regionais. Tem que jogar um papel para 2010, ainda que não determinante", diz. |
Atual terceiro vice-presidente da sigla, eleito em 2005, Tatto destacou-se nos dois últimos anos por ser um defensor aberto da política econômica desenvolvida pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e pelo atual, Guido Mantega. No seu processo de campanha, o deputado pouco fala de questões econômicas e descarrega sua ênfase em bandeiras políticas: tornar o Diretório Nacional, onde as correntes minoritárias estão melhor representadas, o órgão mais importante de deliberação do partido e reivindicar mais espaço para o PT no governo Lula, ou, como diz, "disputar hegemonia". |
O deputado se sente incomodado quando apontado como novidade na eleição interna petista. "Há dez anos ocupo cargos de direção dentro da sigla. Dentro do PT sempre tive voz, ainda que até hoje a minha corrente própria (PT de Lutas e Massas) seja muito pequena", diz. |
Em 2006, Tatto conseguiu ser o quarto deputado federal mais votado de São Paulo entre os eleitos do partido, atrás de João Paulo Cunha, Arlindo Chinaglia e Antonio Palocci. A passagem pela Secretaria de Transportes, onde trabalhou na implementação do programa de bilhete único, foi fundamental no resultado. Durante a campanha eleitoral, contudo, Tatto foi alvo de denúncias. |
O parlamentar foi acusado de envolvimento com a máfia do transporte clandestino em São Paulo, que tem vinculações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), pela autoria de uma concessão de transporte para a cooperativa Cooper Pam, supostamente ligada à organização criminosa. |
"Fui uma vítima neste processo todo, sofri ameaças de morte. Meus contratos com as cooperativas foram aprovados no Tribunal de Contas. Como ia saber que alguém lá tinha problemas com a Justiça? O Ministério Público não acatou a denúncia da Polícia Civil e o procurador-geral da República arquivou o caso depois que virei deputado. O assunto morreu, zerou", afirma.
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