sábado, 10 de novembro de 2007

Risco maldito

* Celso Ming para O Estado de São Paulo

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, antevê um belo futuro para o Brasil enquanto potência energética: “Seremos grandes exportadores de petróleo.”

Para o presidente da Petrobrás,Sérgio Gabrielli, o petróleo e o gás recuperáveis das jazidas compreendidas nas novas fronteiras de petróleo, abaixo da camada de sal, puxarão as reservas,hoje entre 17 bilhões e 20 bilhões de barris, para algo entre 70 bilhões e 100bilhões de barris.

São apostas. É como contar com os ovos da galinha ao longo de certo tempo. Os ovos não estão lá,mas podem vir a estar,desde que tudo se comporte como imagina o dono do galinheiro.

Em todo o caso, há justificativas para as projeções da ministra e do presidente da Petrobrás. O que já se sabe é suficiente para produzir conseqüências econômicas – algumas imediatas. Uma delas é a de que,uma vez confirmadas perspectivas tão promissoras para o petróleo e o gás, num quadro de escassez global, crescerá o nível de interesse por sua exploração. Só isso deverá trazer enxurrada de capitais novos para o Brasil, além dos que já vinham sendo aguardados, só porque, dentro de alguns meses,a dívida do Brasil será promovida na tabela de qualificação de risco e terá o grau de investimento.

Ontem, o economista-chefe da corretora Hedging Griffo (Grupo Credit Suisse), Elsom Yassuda, quantificou a condição exportadora anunciada pela ministra Dilma Rousseff. Avaliou que, em alguns anos, o Brasil poderá faturar US$ 20 bilhões por ano (cerca da metade do superávit comercial deste ano) apenas com exportações de petróleo.

Se essas expectativas se confirmarem,será preciso ver como essas receitas não se tornarão “riqueza maldita”, como aconteceu em outras paragens.

Para ser mais específico, a forte entrada de recursos em moeda estrangeira leva o risco de causar exagerada valorização do real e, mais do que já possa estar ocorrendo, prejudicar a competitividade do produto brasileiro.

Um dos principais objetivos da anunciada criação de um fundo de riqueza soberana no Brasil é desviar do câmbio interno certo volume de recursos em moeda estrangeira e, assim, evitar novas valorizações do real.

Essa é a principal razão pela qual não faz sentido usar esses recursos nos investimentos em infra-estrutura no País, como algumas autoridades aventaram. Se tivessem essa finalidade, esses recursos teriam de ser convertidos em reais e, outra vez, produziriam impacto sobre o câmbio,justamente o que se quer evitar.

O ministro Guido Mantega afirmou que esse fundo será criado tão logo as reservas externas do Brasil atingirem US$ 180 bilhões.Como,em novembro,as reservas têm crescido acima de US$ 900 milhões por dia útil e ontem estavam em US$ 172,5 bilhões, conclui-se que, antes do fim do mês, esse nível poderá ser ultrapassado.

Não estão claras as fontes de recursos em reais com os quais o Tesouro ou o Banco Central comprarão os dólares que formarão o fundo. No Chile, na Noruega e na Rússia, essa transferência direta de receitas de exportação para fundos soberanos administrados no exterior é facilitada porque as receitas são obtidas por empresas públicas. No Brasil, a maior parte dessas receitas e os recursos de investimento são do setor privado.

CELSO MING

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