sábado, 3 de novembro de 2007

Nos Trilhos de Seqüencias Parisienses



No Eurostar, logo na saída de Waterloo Station, o alto-falante anuncia que, a partir de 14 de novembro, haverá uma nova estação em Saint-Pacras. É em Bloomsbury, o Quartier Latin de Londres. De lambuja, a viagem Paris-Londres ficará 20 minutos mais curta. Será que intelectuais e os ingleses em geral vão se aproximar mais dos franceses? Duvido, No way : a tchurma em Londres continua se espelhando muito mais nos EUA. Começou durante a Segunda Guerra e continua pelo século XXI adentro.
Um colega que me ajudou muito na Faculdade e se aposentou neste ano, um cavalheiro e um erudito, contou-me que na Guerra de Independência dos EUA houve uma reunião em Versalhes, onde Luís XVI assuntou, procurando saber se valia a pena ajudar militarmente os americanos. Parte de seus conselheiros achou que sim: era, indiretamente, a revanche dos franceses sobre a derrota sofrida na Guerra de Sete Anos (1756-1763) que resultou na perda do Canadá para os ingleses. Mas outros conselheiros acharam que não: para eles, os americanos, protestantes e anglo-saxões, ficariam sempre do lado dos ingleses nos conflitos na Europa e no mundo. A história provou que estes últimos tinham razão.
E o Commonwealth cresce, até para onde não se espera: Moçambique está incluído no guia da Universidade de Londres sobre os países das universidades do Commonwealth. A França também costuma incluir Cabo-Verde entre os países da francofonia.

No hotel em que fiquei em Bloomsbury (Tavistock Hotel, velhinho simpático, com ambientes de Agatha Christie; o problema são as tomadas; é igual no Ouro Verde, em Copacabana, ou no Everest, em Porto Alegre, onde gosto de ficar: nos hotéis velhinhos simpáticos as tomadas estão atrás dos armários: tem Wi-Fi, mas o notebook tem que ficar com você pendurado na beirada da cama, ligado numa tomada na outra ponta do quarto) – e no trem onde estou agora, lí toda quase toda a imprensa inglesa.

No Eurostar há muitas revistas e jornais de graça. Nos bares e café de Londres, muito mais que em Paris, há bastante jornais de graça. Nos lugares supostamente trendy (na onda), a imprensa tradicional dá de barato que entregar de graça é uma boa estratégia para travar a concorrência dos jornais gratuitos. Não acredito nisso. Sou adepto da doutrina do Le Monde: o leitor tem que pagar o jornal para sentir que ele é coisa sua. Há algum tempo, o Le Monde tinha um princípio que não sei se ainda continua em vigor: a publicidade do jornal nunca podia ultrapassar 50% do seu preço. Ou seja: o leitor tem que pagar ao menos a metade do custo do jornal que está lendo.

O Economist, sempre bem escrito, sempre interessante, cobre muito bem a China. No último número há uma reportagem sugestiva: a parte da massa salarial no PIB chinês está caindo firme. Escorregou de 53% em 1998 para 41% em 2005 e continuou caindo em 2006. Nos EUA, onde, como se sabe, o governo não é comunista, a massa salarial representou 56% do PIB em 2005. Conclusão do
Economist: o arrôcho salarial está comprometendo a evolução da economia chinesa e isso pode atrapalhar o resto do mundo: está faltando luta de classes no milagre chinês.

Luiz Felipe de Alencastro
Professor brasileiro que reside e trabalha em Paris, nascido em Itajaí, Santa Catarina, onde também aprendeu a nadar. Pratica um modo de reflexão ensinado por seu guru que atende pelo nome de Capivara ou "Carpíncho".

Nenhum comentário: