sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Reservas do Brasil podem superar 70 bilhões


Francisco Góes, Rafael Rosas e Ana Paula Grabois
Valor


A Petrobras anunciou ontem a descoberta de uma nova província petrolífera, situada em mar a grandes profundidades, abaixo de uma camada de sal, capaz de colocar o Brasil, no futuro, entre os maiores países do mundo em termos de reservas de óleo e gás. O anúncio foi acompanhado pela aprovação de uma resolução no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) determinando a exclusão de 41 blocos que seriam leiloados na 9 Rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), nos dias 27 e 28 deste mês. Estes blocos estão na área de influência da nova fronteira exploratória e têm grande potencial de descobertas.


No campo de Tupi, na Bacia de Santos, que fica dentro da nova província petrolífera, a Petrobras estimou volume recuperável de óleo leve de alto valor comercial (28 graus API) entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris de petróleo e gás natural. Só esta descoberta poderá aumentar em mais de 50% as atuais reservas de petróleo e gás natural do país, que somam 14,4 bilhões de barris de óleo equivalente (Boe).


O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que quando toda a nova província petrolífera estiver sendo explorada, o Brasil deve ficar entre as oito ou nove maiores reservas do mundo. Hoje, a 8 posição no ranking de reservas mundiais de óleo e gás é da Venezuela, com 107 bilhões de barris de óleo equivalente. A Nigéria, 9 colocada, aparece com 69 bilhões de Boe. O Brasil ocupa a 24 posição, com 14,4 bilhões de Boe.


O diretor de exploração e produção da Petrobras, Guilherme Estrella, adiantou que a intenção da estatal é implantar um projeto-piloto de produção na área de Tupi, associado à produção de gás, de cerca de 100 mil barris/dia, a partir de 2010-2011. A Petrobras é a operadora do campo de Tupi, no qual tem participação de 65%. O restante está nas mãos da britânica BG, com 25%, e da Petrogal - Galp Energia, com 10%.


A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que a decisão do CNPE de retirar os 41 blocos da rodada da ANP se baseou no interesse nacional: "É a preservação dos interesses do país diante da descoberta de uma riqueza de proporções significativas", afirmou a ministra, após participar, na sede da Petrobras, no Rio, de reunião extraordinária do CNPE, que contou com a presença do presidente Lula. Dos 312 blocos previstos na rodada, sobram agora 271.


Dilma negou que a medida tenha viés estatizante e comparou a situação ao cancelamento das concessões rodoviárias que, depois de terem as condições modificadas, foram leiloadas. "O mesmo nos propomos a fazer para os blocos retirados da rodada", disse a ministra. A ação representa, segundo ela, a preservação da soberania do país, do desenvolvimento da indústria. O objetivo será analisar como irá se explorar a nova riqueza petrolífera. Dilma avaliou que a nova província petrolífera fará o país mudar de patamar, saindo de uma posição intermediária para o primeiro escalão na produção de petróleo, passando a exportador.


A resolução n 6 do CNPE, aprovada ontem, também determina ao Ministério de Minas e Energia e à ANP a adoção das providências necessárias para a conclusão da 8 Rodada de Licitações, que foi interrompida por decisões judiciais. Dos 284 blocos previstos, com foco em gás natural e óleo leve, só 38 foram arrematados devido a duas liminares judiciais. As liminares, derrubadas depois pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foram motivadas pela limitação imposta pela ANP no edital ao número de blocos que uma empresa operadora poderia arrematar.


O ministro de Minas e Energia. Nélson Hubner, presidente do CNPE, disse que a resolução do conselho determina rigorosa observação dos direitos adquiridos e atos jurídicos perfeitos, relativos às áreas concedidas ou arrematadas em leilões da ANP. A resolução também levará o Ministério de Minas e Energia a avaliar, a curto prazo, as mudanças necessárias no marco legal que contemplem "um novo paradigma de exploração e produção de petróleo e gás natural" em decorrência da nova província petrolífera.


A nova fronteira exploratória se estende por mais de 800 quilômetros, de Santa Catarina ao Espírito Santo, e tem até 200 quilômetros de largura. Inclui as bacias do Espírito Santo, Campos e Santos, em rochas denominadas pré-sal, espécie de "segundo subsolo" das bacias petrolíferas. Segundo a Petrobras, o pré-sal são rochas reservatórios que se encontram abaixo de extensa camada de sal. Os reservatórios situam-se em lâmina d´água que varia de 1,5 mil a 3 mil metros de profundidade. Para chegar até eles, é preciso furar ainda 3 mil a 4 mil metros de rocha.


Para atingir as camadas de pré-sal, entre 5 mil e 7 mil metros de profundidade, a Petrobras desenvolveu novos projetos de perfuração. Nos últimos dois anos, foram perfurados 15 poços, com investimentos de US$ 1 bilhão, que atingiram as camadas pré-sal. Do total, oito poços responderam de forma positiva em produção. Os reservatórios perfurados na Bacia de Santos são semelhantes aos da Bacia do Espírito Santo, o que, para a Petrobras, reforça a hipótese de extensão dos reservatórios na área.


Gabrielli disse que o plano de investimentos da empresa, que prevê aplicação de US$ 112 bilhões até 2012, não contempla investimentos no pré-sal. "Provavelmente o valor vai subir." O diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, disse que a entrada em operação do campo de Tupi, em camada de pré-sal na Bacia de Santos, prevista para acontecer em até seis anos, contribuirá para redução das importações de óleo leve e diesel feitas pela companhia.


Hoje, segundo o executivo, a Petrobras importa 300 mil barris diários de óleo leve. Gabrielli disse que das áreas com possibilidade de ocorrência de hidrocarbonetos na camada de pré-sal do litoral brasileiro, cerca de 25% estão atualmente sob concessão. Desses 25%, a Petrobras atua em 70% dos blocos, sozinha ou em parceria. Segundo Guilherme Estrella, a previsão é declarar a "comercialidade" de um primeiro campo na área do pré-sal, no Espírito Santo, em 2009. "Confirmando-se os testes na área de Parque das Baleias, vamos interligar o poço à plataforma já instalada no Espírito Santo.".


O diretor disse que a tecnologia de produção para operar neste tipo de campo está disponível, mas o custo é alto. "A tecnologia vai ser aplicada na redução de custos", disse Estrella. Ele salientou que os campos estão situados a 250 quilômetros da costa. Ele também informou que a Petrobras está em contato com empresas que detêm tecnologia para aproveitamento do gás dos campos no próprio local. Uma alternativa é instalar térmicas flutuantes que poderiam enviar energia para o continente por meio de cabos submarinos. (* Do Valor Online)

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