segunda-feira, 23 de abril de 2007

Receita para crescer mais está nas mulheres

The Economist
23/04/2007

publicado pelo jornal Valor

Os homens gostam de acreditar que comandam o mundo. Eles não estão se iludindo. Na política, os homens ainda dominam a maior parte dos governos e legislaturas. Na vida econômica, comandam a maioria das empresas e desempenham as funções mais bem pagas. E são as mulheres que, em esmagadora maioria, fazem a maior parte do trabalho não remunerado. É verdade que esse cenário está mudando: a participação da mulher na força de trabalho é muito maior que uma geração atrás, e a maioria dos universitários em alguns países já são mulheres. Apesar disso, este mundo ainda é masculino.


E perdulário. Se houvesse mais mulheres assalariadas, segundo uma série de estudos recentes, o mundo estaria mais bem de vida. O desperdício é certamente pior nos país pobres que nos ricos. Um relatório publicado na semana passada pela Comissão Econômico-Social da ONU para a Ásia e o Pacífico conclui que a discriminação sexual custa à região de US$ 42 bilhões a US$ 47 bilhões ao limitar as oportunidades de trabalho das mulheres. É comum haver um desnível de 30 a 40 pontos percentuais entre a participação de homens e mulheres na força de trabalho na região. O nível insatisfatório de educação das garotas custa outros US$ 16 bilhões a US$ 30 bilhões. E esses são só os custos econômicos, sem contar a violência contra a mulher e seu acesso a serviços de saúde.


Mas os países ricos também desvalorizam as mulheres. Basta ver o descompasso entre as taxas de emprego masculinas e femininas nos EUA, no Japão e na Europa Ocidental, como fez, em recente estudo, Kevin Daly, economista do Goldman Sachs (veja gráfico). Na Suécia, onde cerca de 70% das mulheres com idades entre 15 e 64 anos estão empregadas, a desigualdade é inferior a cinco pontos percentuais. Nos EUA e no Reino Unido o degrau é de 12 pontos. Na Itália, no Japão e na Espanha é superior a 20 pontos. Imagine, diz Daly, que a taxa de participação das mulheres estivesse no mesmo nível da dos homens; e imagine também que o PIB crescesse proporcionalmente ao nível de emprego. Nesse caso, o Produto Interno Bruto (PIB) americano seria 9% maior, 13% na zona do euro e 16% no Japão.


Pode haver algum exagero nessa suposição. Com a inclusão de tanta gente na força de trabalho, a produtividade média provavelmente cairia. Se lhes fosse dada a oportunidade de emprego, muitas mulheres optariam por trabalhar em regime de meio-período. Alguns homens com parceiras empregadas poderiam também optar por não trabalhar em tempo integral. Ainda assim, o crescimento do PIB seria substancial. Daly observa que, se produtividade da zona do euro fosse equiparada ao nível americano - uma idéia citada comumente -, o PIB da região teria crescido apenas 7% a mais.


O leitor pode objetar que examinar apenas o PIB exagera os benefícios. Com mais mulheres empregadas, parte do que elas hoje fazem sem remuneração - cuidar dos filhos, limpar a casa, preparar refeições - teria de ser comprado. Assim, algum trabalho seria contabilizado, e agregado ao PIB, simplesmente por ter sido prestado no mercado, e não no lar. Daly, concorda, mas só em parte. O gasto com cuidados infantis tende a ser baixo, e assim o fator compensador não é muito grande. Mesmo na Suécia, os cuidados pré-escolares consomem só 1,2% do PIB, pouco em relação ao ganho estimado.


Nada disso importaria muito se as baixas taxas de emprego feminino e a produção cessante fossem puramente uma questão de escolha. Daly diz que não são. Muitas mulheres gostariam de trabalhar, ou de trabalhar mais, se encontrassem creches a preços razoáveis para seus filhos. Assim, não é surpreende que subsídios para creches aumentem a probabilidade de uma mãe voltar a trabalhar. E, em muitos países, um segundo assalariado (geralmente a mulher) é, em média, mais tributado quando o casal declara renda. Na Suécia, uma exceção, as alíquotas tributárias médias são as mesmas; na Itália e Espanha, incidem sobre o segundo assalariado alíquotas 60% superiores às aplicada a seus parceiros. Alberto Alesina e Andrea Ichino, economistas italianos, sugeriram ir além de apenas igualar as alíquotas. Em virtude de a oferta de mão-de-obra feminina ser mais sensível a alíquotas tributárias que a masculina, a teoria sugere que as alíquotas aplicadas às mulheres deveriam ser menores - na Itália, segundo eles, até 32% inferiores. Leia mais no jornal Valor só para assinantes

(Tradução de Sergio Blum)

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