Desobstruindo canais
Coluna de Valdo Cruz - Folha online
Entre encontros públicos e reservados, Luiz Inácio Lula da Silva tem dedicado um espaço em sua agenda a receber parlamentares da oposição.
Engana-se quem pensa que seu alvo é apenas o PSDB. Quer ganhar também a simpatia de gente dos Democratas, o antigo PFL. Lula sabe que vai precisar dos votos oposicionistas, principalmente no Senado, caso queira evitar dissabores nas CPIs do Apagão Aéreo e aprovar medidas como a prorrogação da CPMF (imposto do cheque) e da DRU (mecanismo que libera o governo a gastar livremente 20% das receitas vinculadas da despesas específicas da União).
Recentemente, Lula recebeu numa agenda reservada em seu gabinete o senador Jaime Campos (DEM-MT). Filiado ao partido mais beligerante em relação ao governo Lula, Campos travou um diálogo com o presidente que lhe soou como música. Disse que não deixará de ser oposição, mas acrescentou que sabe andar com as "próprias pernas". Tradução: não seguirá totalmente a linha da cúpula partidária, podendo votar a favor de temas de interesse do Palácio do Planalto no Senado.A investida na seara dos Democratas não se restringe a Jaime Campos. O presidente recebeu o senador Romeu Tuma (DEM-SP) na segunda-feira, dia 23 de abril, e estava agendando audiência com outro senador democrata, Demóstenes Torres (GO), para terça-feira. Além deles, Lula deve buscar uma aproximação também com o senador Eliseu Resende (DEM-MG). Conta ainda com Edison Lobão (DEM-MA). Esse, porém, já joga com o governo por suas ligações com o ex-presidente José Sarney e não será surpresa se tomar o rumo de um partido governista em breve. O mesmo se especula sobre o senador Romeu Tuma.
Com esses movimentos, Lula espera minar o campo dos Democratas, partido que promete não lhe dar trégua. Ao mesmo tempo, seguirá no trabalho de boa vizinhança com o PSDB. Além dos contatos já feitos com o governador José Serra (PSDB-SP) e com o presidente dos tucanos, Tasso Jereissati, o presidente deseja estreitar relações com senadores como Arthur Virgílio (AM) e Eduardo Azeredo (MG).
Segundo assessores do presidente, o objetivo é "desobstruir canais" para buscar ter uma CPI do Apagão Aéreo funcionando de forma civilizada e aprovar medidas como a prorrogação da CPMF e da DRU, além dos projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação). O fato é que, com um cenário róseo na economia, a oposição, principalmente o DEM, apega-se cada vez mais à CPI do Apagão Aéreo para criar problemas ao presidente Lula. Só que o presidente decidiu atacar o campo inimigo, cooptando antigos adversários. Se der certo, o DEM ficará cada vez mais isolado. Afinal, o PSDB, com nomes fortes para disputar a sucessão de Lula, demonstra desde o início do segundo mandato que não deseja nesses dois primeiros anos adotar a política do confronto. Daí que a CPI do Apagão Aéreo no Senado será criada, mas com a ajuda de tucanos e alguns democratas pode não funcionar a todo vapor. A conferir.
Os canais do empresariado
Por falar em estratégias para desobstruir canais de comunicação, um jantar reuniu recentemente o novo ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro.
Logo depois de assumir o lugar de Luiz Fernando Furlan, Miguel Jorge deu declarações que não agradaram nem um pouco o setor empresarial. Suas palavras foram interpretadas mais ou menos assim: o empresariado precisa aprender a conviver com o câmbio baixo, as indústrias têm de ser modernizar e quem não souber se adaptar aos novos tempos não adianta buscar ajuda no ministério. Leia mais
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