sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Demos e tucanos no mundo do faz de conta

A carta enviada ao jornal O Estado de São Paulo, da ex-secretária de educação do município de São Paulo na gestão Marta Suplicy, contém questionamentos graves sobre a situação das creches. A mídia deveria fazer seriamente seu trabalho e recusar a função de propagandista das cifras fantasiosas da administração DEM-PSDB.


Ao Estadão – Forum de Leitores

Sobre as várias matérias que saíram no estadão online sobre o déficit de creche comentado pelo atual Prefeito, gostaria de lembrar que a prefeita Marta Suplicy construiu 181 novas escolas exclusivamente com recursos do tesouro municipal, as vagas em creche foram ampliadas em 44,01% (35.923 novas vagas) e nas EMEIs 31,31% (65.905 novas vagas), uma ampliação de 75% em ed. Infantil em 4 anos. Ao contrário do que declara Kassab as vagas para ed. Infantil no município, segundo a prévia do Censo Educacional/MEC-2007, a partir dos dados fornecidos pela Secretaria Municipal, as matriculas diminuíram em torno de 10% em todos os níveis de ensino. Em 2004, havia 44.796 crianças nas creches, hoje sã0 35.981, cerca de 20% a menos de matriculas, em EMEI de 273 mil diminuiu para 264 mil e em EMEF de 556 mil para 516 mil.

Não fica claro em nenhuma das matérias onde estão as 149 mil crianças atendidas em creche, declaradas pelo Prefeito ou onde foram criadas as 80 mil novas vagas, segundo o Sec. de Educação! As vagas oferecidas via convênio e que não constam do CENSO/MEC precisariam ter duplicado nestes 3 anos, em 2004 eram atendidas cerca de 52 mil crianças via convênio com entidades. Não adianta dizer que as crianças foram para a EMEI ou para a EMEF, porque em todos os níveis o número de matriculas foi reduzido. Outra pergunta é como irá construir 500 creches em um ano, mesmo com o PPP!

Maria Aparecida Perez

Ex-Secretaria de Educação do Município de São Paulo

Elis Regina - Me Deixas Louca


Elis Regina em sua última apresentação na TV, cantando Me Deixas Louca.

Assim não dá

Entre os piores na educação
Brasil é o 52º de 57 países no ensino de ciências, mostra teste mundial com alunos de 15 anos


Demétrio Weber
BRASÍLIA - O GLOBO

O Brasil foi reprovado no maior exame mundial de ciências para estudantes de 15 anos, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2006, divulgado parcialmente ontem. Os jovens brasileiros de escolas públicas e particulares ficaram na 52ª posição entre 57 países e territórios, com nota média de 390 pontos, na escala até 800. Dito de outra forma: o país teve o sexto pior resultado.

A Finlândia lidera o ranking. Dos outros cinco países latino-americanos incluídos — Chile, Uruguai, México, Argentina e Colômbia —, apenas a Colômbia ficou atrás do Brasil.

A prova é feita por amostragem. No Brasil, foram avaliados 9.345 alunos de 390 municípios, em todos os estados. O critério para participar é ter 15 anos e cursar pelo menos a 7asérie do ensino fundamental (8º ano, onde o ensino fundamental dura nove anos). Por causa de diferenças na amostragem, a margem de erro varia em cada país. A brasileira é de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos. Assim, o Pisa classifica o Brasil entre a 50ae a 54aposição.

Mesmo nações com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aparecem à frente do Brasil no Pisa 2006. É o caso da Indonésia, que ocupa a 107aposição no ranking anunciado esta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O IDH mede a qualidade de vida da população e, pelo primeira vez, deu ao Brasil o status de país de alto desenvolvimento humano, na 70ap os ição, entre 177 países e territórios. A Indonésia está no grupo de médio desenvolvimento.

— Não estamos bem, temos que melhorar.

Há muitos alunos atrasados no Brasil, mas isso não é desculpa. Ter alunos atrasados é um problema, e o Pisa capta isso — disse o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação, Reynaldo Fernandes.

Aos 15 anos, um estudante brasileiro deveria cursar a primeira série do ensino médio.

Mas, por causa da repetência e do abandono escolar, 32,7% dos alunos de ensino fundamental apresentavam atraso de duas séries ou mais em 2005, segundo o Inep.

— O problema é a formação de professores.

Temos uma deficiência grande em matemática, química, física e biologia. E a maioria das escolas não tem ou não usa laboratórios. O ensino se torna muito livresco e chato — disse o diretor de Popularização da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia, Ildeu de Castro.

Prova foi aplicada a 400 mil estudantes

De 149 mil escolas públicas de ensino fundamental no Brasil, apenas 6% tinham laboratório de ciências e 14% contavam com salas de informática em 2005.

— Se queremos entrar no mundo desenvolvido, não podemos ignorar a importância do aprendizado de ciências desde o ensino fundamental — diz o diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), Jorge Werthein, ex-representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Mais de 400 mil estudantes dos 57 países fizeram o Pisa no ano passado, com foco em ciências. O teste avalia também a capacidade de leitura e os conhecimentos de matemática — a cada ano, dois terços do tempo são dedicados a uma dessas disciplinas. Os resultados das outras provas serão divulgados na terçafeira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Pisa foi realizado pela primeira vez em 2000, com foco em leitura. A segunda edição, em 2003, teve ênfase em matemática. Apenas 42 países participaram, embora nem todos tenham sido incluídos no ranking. Em 2000, o Brasil ficou em último lugar nas três disciplinas, entre 31 nações. Em 2003, foi o penúltimo em ciências, à frente da Tunísia, entre 40 países.

No Pisa 2006, a Tunísia continuou atrás do Brasil. Os demais países que tiveram desempenho inferior eram estreantes: Colômbia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão. Apenas oito dos 57 participantes tiraram nota abaixo de 400 pontos. Na Finlândia, os estudantes atingiram média de 563 pontos, seguidos pelos de Hong Kong (542) e Canadá (534). As 57 nações participantes respondem por cerca de 90% da riqueza mundial.

O presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Arquimedes Diógenes Ciloni, defende a valorização da carreira de professor do ensino básico. Reitor da Universidade Federal de Uberlândia, ele diz que é preciso tornar o magistério nas escolas públicas mais atraente.

— Para recuperar a escola pública, temos que formar bem os professores. E pagar salários decentes — afirmou Arquimedes.

O Plano de Desenvolvimento da Educação lançado em abril pelo presidente Lula fixou metas até 2021. O objetivo é que os alunos brasileiros atinjam, às vésperas do bicentenário da Independência, o rendimento médio dos alunos da OCDE no Pisa de 2003.

Brasil está longe de cumprir metas de educação para 2015, diz Unesco

Segundo relatório, país tem 40% dos analfabetos da América Latina.

Marcia Carmo - BBC

O Estado de São Paulo

De Buenos Aires - A América Latina tem hoje 38 milhões de analfabetos, dos quais 15 milhões (cerca de 40%) estão no Brasil, segundo documento divulgado nesta quinta-feira pela Unesco em Santiago (Chile), Nova York (EUA) e Nova Délhi (Índia). Os dados incluem apenas os analfabetos com idade a partir de 15 anos.

A diretora da Oficina de Educação da Unesco para América Latina e Caribe, Rosa Blanco, e o coordenador do laboratório para avaliação de qualidade do ensino, Javier Murillo, disseram, por telefone, à BBC Brasil, que dificilmente o Brasil alcançará as metas estabelecidas para 2015.

"Primeiro, o Brasil aparece com alto índice de analfabetismo frente aos demais países da América Latina devido a sua enorme população", disse Blanco. "O Brasil tem avançado em algumas metas fixadas, mas este alto índice de analfabetismo, a falta de igualdade de gêneros no secundário, onde as meninas têm maior presença que os meninos na sala de aula, e ainda a repetição escolar colocam em risco o objetivo estabelecido", afirmou.

Murillo disse que a repetição escolar (27% entre 1999-2005) leva à deserção escolar antes da conclusão do primário no Brasil. "A repetição continua sendo um problema no Brasil."

Neste item, o país aparece junto com Nepal (37% de repetição entre 1999-2005), além de Burundi, entre outros, com mais de 30% de reprovação escolar.

"Na América Latina, a repetição no primário e no secundário representa um gasto de US$ 11 milhões anuais. Dinheiro que poderia ser usado, por exemplo, na contratação e qualificação de professores", disse Blanco. "Todos estes resultados ocorrem devido à ineficiência do sistema educativo."

No documento divulgado nesta quinta-feira, o Brasil é citado de forma positiva na parte de financiamento igualitário da educação nos Estados e ainda devido ao programa Bolsa-Família.

"Esse programa é uma forma de aumentar o acesso das crianças à escola", disse Blanco.

O plano de metas de educação da Unesco contou com a assinatura de mais de 100 países. Foi lançado em 1999 e será concluído em 2015.

O documento divulgado nesta quinta-feira, chamado de "Educación para todos: Reporte global de monitoreo 2008", mostrou que em 2007, na metade do caminho, muitos países já cumpriram as metas fixadas - caso de Cuba, por exemplo.

Outros países, como a Argentina e Chile, vão atingir os objetivos muito antes do prazo de 2015.

Para o Brasil, a meta da "universalização" das crianças no primário poderá ser concretizada. Mas o objetivo de aumentar em 50% o total de adultos alfabetizados corre risco de não virar realidade neste período.

O mesmo vale, segundo os especialistas da Unesco, para os índices de repetição escolar e para a quantidade de meninos que não estão inseridos no ensino secundário. BBC Brasil

Crescimento da produção surpreende em outubro

Cibelle Bouças - Valor

O vigor da atividade econômica surpreendeu em outubro. As previsões mais otimistas foram superadas e a expectativa dos analistas é que a produção industrial a ser divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na próxima semana aponte um aumento entre 8% e 10% sobre outubro de 2006 e uma alta entre 1,3% e 2,6% sobre o resultado de setembro. Esta expectativa levou analistas a projetarem para o ano um crescimento na produção industrial brasileira superior a 5,5%, o melhor resultado desde 2004, quando o crescimento ficou em 8,3%.


O ABN Amro Real projeta para o ano crescimento de 6,2%, tendo como base a estimativa de um crescimento industrial de 5,9% entre janeiro e outubro. Para outubro, o banco estima que tenha havido um crescimento de 10,2% (ou de 2,5% na comparação dessazonalizada com o mês de setembro). O cenário traçado, afirma Zeina Latif, economista-chefe do banco, levou em consideração o crescimento das importações de bens de capital registrado em outubro e a retomada na produção de bens intermediários, após um fraco desempenho em setembro. "O varejo registra um crescimento forte, as importações e a produção de bens de capital aumentam. A tendência é de retomada na produção", diz.


A economista também observa que este será o quarto ano consecutivo de crescimento na produção industrial - em 2006 foi de 2,8%; em 2005, de 3,1%; e em 2004, de 8,3%. "É uma seqüência de crescimentos razoáveis com aceleração no fim do ano. Em um contexto de redução dos ganhos com exportação por conta do câmbio, esse desempenho comprova que a demanda interna está mais forte", afirma Zeina.


A LCA Consultores estima para o ano crescimento na produção industrial de 5,8%, 0,2 ponto percentual acima da estimativa feita em outubro. O resultado é sustentado pelo bom desempenho nos setores automotivo e de bens de capital. Bráulio Borges, economista da consultoria, observa que a cadeia automotiva responde por quase 20% da produção industrial e a previsão é que as vendas para o mercado interno em 2007 sejam 27% maiores que no ano passado. "O desempenho do setor automotivo, sobretudo em outubro, foi muito forte e é o que explica a surpresa no setor industrial", afirma Borges. Ele pondera que os investimentos na formação de capital fixo também superaram expectativas, com incremento de 12% no ano, ante previsão inicial de 10%.


No mês de outubro o crescimento é estimado em 8,2%, comparado a igual mês de 2006, e em 1,3% na comparação dessazonalizada com setembro. O cálculo da LCA baseou-se na avaliação de indicadores antecedentes da produção industrial, como o consumo de energia, importações de matéria-prima e expedição de papel ondulado (ver gráfico).


Para 2008, a LCA prevê crescimento menor na produção industrial, de 4,6%, também em função do desempenho do setor automotivo, deverá crescer 11% em vendas no país, 16 pontos percentuais abaixo do registrado neste ano, segundo Borges. A taxa de juros (Selic) é projetada em 9,75% no fim de 2008, ante 11,25% neste ano.


A Tendências Consultoria também projeta para 2008 desaceleração na produção industrial, com crescimento de 4%, ante 5,5% neste ano, afirma a economista Marcela Prada. "A tendência para 2008 é de que haja desaceleração na geração de renda e na disponibilidade de crédito", diz. A consultoria projeta aumento de 4,4% no PIB do próximo ano, ante crescimento de 4,8% em 2007. Em outubro, o incremento é estimado em 9,3%, ou 1,9% sobre setembro (com ajuste sazonal). Um dos indicadores avaliados foi o aumento de 27% na arrecadação de IPI no país em outubro.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O melhor: O niguiri polifônico do maestro Jun

Melhor sushi - Jun Sakamoto

O Estado de S.Paulo


- Regra é regra: no Prêmio Paladar, é a comida que está em foco. O sabor em primeiro plano, textura, apresentação e outros parâmetros vêm depois e aí segue. Assim, por mais que o restaurante de Jun Sakamoto insista em ser econômico na simpatia e generoso nas idiossincrasias, é difícil não reconhecer seu talento com o niguiri (o sushi depeixe e/ou frutos do mar sobre bolinhos de arroz). Porque, excentricidades à parte, quando o sushiman começa a conduzir no balcão aquela sinfonia de pescados e lulas frescos, vieiras sem comparação no mercado, sempre com um arroz perfeito, não tem jeito. Por apreço às verdades gastronômicas, os votos foram para ele.

Para apreciar de perto a técnica do chef (e de seu sub, o Jura), no balcão, é preciso pedir o menu-degustação, que sai caro. Deixe-se, então, levar por um ritual bem roteirizado de texturas e sabores. Como um bom regente, Jun sabe usar fortíssimos e pianos e dosar momentos de delicadeza e pungência, até que você transcorra o recital de sushis e vá embora para casa impressionado com aquilo que comeu.

Onde comer

Jun Sakamoto - R. Lisboa, 55, Pinheiros, 3088-6019.
Menu-degustação: R$ 210 no balcão e R$ 195 na mesa

Aizomê - Al. Fernão Cardim, 39, Jd. Paulista, 3251-5157.
Menu-degustação completo: R$ 120

Hideki - R. dos Pinheiros, 70, Pinheiros, 3086-0685. Combinado: R$ 75

Original Shundi - R. Dr. Mário Ferraz, 490, Itaim-Bibi, 3079-0736. Combinado: R$ 65

os outros finalistas

Aizomê

No restaurante de Shin Koike, os jovens Sasaki e Taka servem sushis bem construídos e peixes de primeira linha, sempre com algum pequeno toque especial.

Original Shundi

Ainda em forma, o veterano Shundi Kobayashi apresenta ao cliente seu conhecido arsenal de iguarias, sempre com muito rigor na apresentação visual.

Hideki

Hideki Fuchikami tem evoluído nos últimos tempos e, além de grandes pescados, entre os melhores da cidade, apresenta sushis em franco processo de refinamento.

os votos dos comilões

ALESSANDRA BLANCO
Aizomê


Adoro sentar no balcão de restaurantes japoneses. Não sei por que as pessoas não fazem isso. Primeiro: é lindo ver o sushiman em ação. Aqui, os movimentos eram tão rápidos e delicados que fiquei imaginando se, quando ele dormia, não repetia os mesmos gestos, involuntariamente. Segundo porque o sushiman simpatiza com você, e aí é uma maravilha. O sushi de atum do Aizomê é um dos melhores sushis que já comi na vida: pouquíssimo arroz, mas muito saboroso, um pedaço lindo, generoso e divino de atum por cima, raiz forte já misturada ao arroz e na quantidade suficiente para "desentupir" o nariz. Depois, comi ainda sushis de garoupa, olho de boi, polvo e ainda de meca, esse rapidamente grelhado com um maçarico bem na minha frente. Fiquei extremamente em dúvida entre ele e o Jun Sakamoto. Nesse último, comi maior variedade de sushis, todos divinos. Mas o que não consigo deixar de pensar é no sushi de atum, simples, do Aizomê. Então, é para ele que vai o meu voto.

BRAULIO PASMANIK
Jun Sakamoto


Não há muito que dizer. Os sushis que saem das mãos de Jun são inigualáveis. Os peixes são os melhores que se pode encontrar por aqui. O arroz tem textura e sabor perfeitos. E Jun, controle de qualidade em pessoa, vai tratando de doutrinar seus clientes para que comam o sushi com a quantidade certa de shoyu, sem deixar parar no prato por mais de dois minutos. E ainda tenta explicar o que é tradicional no Japão: comer com as mãos, estendendo o prazer também ao sentido do tato.

JACQUES TREFOIS
Jun Sakamoto


Bons sushis, tanto o arroz como os peixes.

LUIZ AMÉRICO CAMARGO
Jun Sakamoto


Em certos momentos, os sushis do chef tiveram os adversários quase nos seus calcanhares, especialmente na qualidade dos peixes - foi uma felicidade provar ótimos atuns, agulhões, robalos em quase todos os concorrentes. Mas a casa de Jun Sakamoto sobressai pelo rigor na construção do niguiri, pelo arroz ainda superior e por vieiras e ostras realmente excepcionais, entre outras iguarias. Ainda que, em alguns casos, tivesse havido um exagero no wasabi.

LUIZ HORTA
Jun Sakamoto


Implico com o silêncio e a concentração do restaurante Jun, não é a minha graça em sair de casa, talvez porque já more num ambiente parecido. Sempre acho que vou fazer alguma coisa errada e ser banido por alguns meses, como num episodio de Seinfeld "no sushi for you!". Mas quando fui comendo aqueles sushis, fui me emocionando, como uma epifania, tive meu atalho para Damasco ali no balcão, com Billie Holliday cantando e rindo de mim: "You''''ve changed...". Mudei mesmo, entrei Saulo e saí Paulo, pedi mais um sushi de ouriço, outro de enguia, o polvo incrível, a lula com seu salzinho preto e um zest de citrino, vi onde a faca termina e o talento começa.

PATRÍCIA FERRAZ
Aizomê


Fresquíssimos, com elegância ímpar, os quatro sushis são acomodados num pratinho retangular. Pargo, torô, olho de boi e sardinha - aquilo que estiver mais fresco no dia. Exibem o equilíbrio perfeito entre o peixe, o arroz e o wasabi. Sublimes.

RICARDO FREIRE
Hideki


Nunca tinha pensado no Hideki como um "haut" japa. Sempre fui levado para lá para aproveitar o bufê do almoço, que é gostoso e honesto, mas é um bufê. Sentar-me no balcão e pedir a escolha do sushiman foi uma experiência surpreendente. O que eu mais gostei é que, com exceção do torô e de um ou outro peixe branco, todos os sushis levam alguma frescurinha que agrada em cheio àqueles que, como eu, não sabem fazer cara de conteúdo para avaliar o frescor do peixe ou a quantidade de saquê do arroz. Adorei do primeiro ao último sushi proposto.

ROBERTO SMERALDI
Aizomê


Requinte no preparo e qualidade de ingredientes o tornam uma experiência inesquecível. Um bom indicador é a recusa do pessoal no balcão para lhe oferecer aquilo que você solicita quando a matéria- prima não for fresquíssima. Tomara que continue assim para sempre.

ROSA MORAES
Jun Sakamoto


Consistência, elegância , sutileza. Arroz no ponto certo, peixes, crustáceos e frutos do mar fresquíssimos. Sofisticados sushis de vieira, marisco vermelho, carapau, cavalinha gorda, enguia, lula, ostra, ouriço, torô... um mais delicioso que o outro. Ainda por cima, estava no meu dia de sorte: comi um gordíssimo sushi de atum bluefin e um de caranguejo do Alasca, recém chegados dos EUA, trazidos por um cliente que veio direto do aeroporto para o restaurante!

SAUL GALVÃO
Jun Sakamoto
Jun Sakamoto, sem dúvida. Também o Hideki agradou demais.


SILVIO GIANNINI
Original Shundi


Apresentação impecável, a consistência precisa do arroz e o frescor dos ingredientes e algumas iguarias raras fazem deste o melhor sushi atualmente servido na cidade. A presença constante do sushiman, que trabalha atrás do balcão, faz a diferença.

Turismo bate recorde: "outubro é o melhor da história"

Quase US$ 1 bilhão no exterior

Cláudia Dantas - JB

Nunca os brasileiros gastaram tanto no exterior como agora. Só em outubro, as compras fora do país somaram US$ 915 milhões. De janeiro a outubro, o volume foi US$ 6,6 bilhões. No mesmo período do ano passado, as despesas chegaram a US$ 4,7 bilhões. Os turistas estrangeiros, por outro lado, deixaram no Brasil US$ 4 bilhões. No mesmo período do ano passado, foram US$ 3,5 bilhões.

Os números demonstram um forte aquecimento nas vendas de pacotes internacionais, impulsionadas pela queda do dólar. De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-RJ), a procura por destinos internacionais registrou alta de 15% em relação ao ano passado. Os cruzeiros marítimos são a grande revelação: mantêm alta de 30% por cinco anos seguidos.

O presidente da Abav, Luiz Strauss, confirma que o dólar baixo abriu caminho para a boa fase do turismo e sustenta que ainda há vagas nas operadoras, principalmente para destinos domésticos.

- Os cruzeiros já esgotaram, mas quem ainda planeja viajar no final do ano deve se apressar e optar por pacotes domésticos. Ainda há vagas. Já nas rotas internacionais mais procuradas é mais difícil confirmar a passagem de avião - disse Strauss.

As companhias aéreas também apostam no aquecimento do mercado e criam promoções especiais para o fim de ano e a temporada de férias. A Gol oferece até 31 de dezembro passagens a preços promocionais para 51 destinos em todo o Brasil. A compra é feita pelo site da companhia, o cliente combina preços promocionais com trechos e estes podem sair a R$ 0,50 ou R$ 50.

Já a TAM abriu ontem três vôos diretos de Congonhas para Ilhéus, Porto Seguro e Salvador e Cuiabá.

Para José Francisco Salles, diretor de estudos e pesquisas da Embratur, a oferta das empresas aéreas beneficiou bastante o turismo nacional, que se recupera da perda de assentos depois da saída da Varig no ano passado.

- Perdemos 1,4 milhão de assentos com a saída da Varig e isto pesou nos resultados de julho de 2006 a julho de 2007 - apontou. - Mas os números deste ano são a grande virada, pretendemos fechar o ano com 50 milhões de desembarques nacionais - estima.

O especialista acredita ser uma retomada do público viajante, pois desde de 2003 não se registrava um resultado de mais de dois dígitos. O mês de outubro, por sua vez, bateu recorde.

- É o melhor da história, obteve um crescimento de 27,8% em relação ao ano passado - revelou. (Com agências)

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Lascia ch'io Pianga na versão do filme Farinelli -


Aria da opera Rinaldo de Handel, que no filme é cantada por Ewa Mallas-Godlewska soprano, e Derek Lee Ragin contra-tenor. O filme Farinelli de Gerard Corbieau foi nominado no festival de Cannes em 1996 e a cantora ganhou o disco de oro no mesmo ano, após vender mais de 2 milhões de copias.

Vaidade

Gloria Swanson, por Edward Steichen
(© Condé Nast Publications Inc., cortesia George Eastman House)

Kathleen Gomes antecipou no P2 de ontem a exposição Vanity Fair Portraits que inaugura em Fevereiro do próximo ano, na National Portrait Gallery de Londres. A revista americana foi suporte de alguns dos mais icónicos retratos da história da fotografia e decidiu agora dar a ver as imagens que fazem parte dessa herança visual. Entre os fotógrafos representados há dois nomes que ressaltam: Edward Steichen e Annie Leibovitz.

Para ler o artigo do P2 clique aqui.

Hillary Swank, por Norman Jean Roy, 2005
(© Norman Jean Roy)

Vanity Fair Portraits: Photographs 1913-2008
National Portrait Gallery, Londres (de 14 de Fevereiro a 26 de Maio)
Scottish National Portrait Gallery Edimburgo, (de 14 de Junho a 21 de Setembro)

Etiquetas:

posted by Sérgio B. Gomes

Un vídeo contradice la versión policial sobre el accidente que originó los disturbios en Francia

Un vídeo contradice la versión policial sobre el accidente que originó los disturbios en Francia
Ampliar

Estado en el que quedó el coche patrulla tras el accidente.- AP


El País

Un vídeo aficionado contradice la versión de la policía sobre el accidente con un coche de policía que el pasado domingo causó la muerte a dos adolescentes en la localidad de Villiers-le-Bel, cercana a París, y que está en el origen de los disturbios que han sacudido las calles de algunas ciudades francesas. Según publica Le Monde en su edición digital, el vídeo demostraría que los desperfectos que sufrió el coche policial no fue causado por incontrolados tras el accidente, sino que quedó así como consecuencia del choque.


Según la versión de la Inspección General de la Policía Nacional, encargada de investigar las circunstancias de la colisión, las primeras imágenes del coche aparecidas en la prensa, en las que se aprecia que el coche tiene el parabrisas roto y el parachoques descolgado, fueron tomadas después de que el coche fuera apaleado con barras de hierro por incontrolados que acudieron a la zona del accidente. Por tanto, sostiene la policía que los destrozos no fueron consecuencia de la violencia del accidente.

Esta versión es uno de los argumentos policiales para sostener la tesis de que el coche circulaba a escasa velocidad y que fue embestido por la moto que conducían los adolescentes que fallecieron.

El vídeo, que han podido ver en la redacción de Le Monde, fue grabado, al parecer, escasos instantes después del choque y ya se pueden ver los destrozos del coche. Es decir, que ya quedó en ese estado tras el accidente, y no fue atacado por incontrolados. Las imágenes del vídeo muestran el coche seriamente dañado, que se corresponden con las imágenes publicadas en la prensa que la policía dice que fueron tomadas tras el supuesto apaleamiento del coche. Van en el mismo sentido que las declaraciones de testigos que aseguran que se protegió el coche para que no sufriera más daños, para facilitar una investigación.

El autor del vídeo, que se ha reunido con periodistas de Le Monde y que ha pedido permanecer en el anonimato, sostiene que fue alertado del accidente "pocos minutos después de los hechos". Así, salió de su casa hacia el lugar de los hechos y comenzó a filmar "muy poco después" del accidente. Los bomberos dijeron que se había producido a las 17.00, según la fiscal de Pontoise, y él dice haber empezado a grabar entre las 17.15 y las 17.20.

En las imágenes, además del coche, se ve a varios testigos que miran cómo los bomberos realizan masajes cardiacos a los adolescentes muertos, en presencia de policías. A los pocos minutos, se ve llegar una ambulancia que, según el servicio de emergencia, salió del hospital de Gonesse a las 17.08, a cinco kilómetros del lugar del accidente. Según el cálculo de Le Monde, respetando las señalizaciones, tardaía en llegar 10 minutos, por lo que estaría allí a las 17.18. En ese instante, el coche está a caballo entre el asfalto y la acera, y exactamente con los mismos daños con los que aparece en las fotos publicadas que la policía sostiene que fueron tomadas tras un presunto ataque.

Un ataque que sólo podría haberse cometido entre el momento del accidente y el comienzo de la grabación. Ahora bien, los policías afirman que nunca dejaron solos a los dos adolescentes accidentados. Dado que estaban presentes en el lugar, habrían sido testigos de los presuntos destrozos causados por los incontrolados, los habrían señalado en su informe, cosa que no hacen. Por tanto, si el presunto ataque al coche policial se hubiera producido antes de la llegada de los bomberos, implica que un grupo de jóvenes atacó el coche con barras de hierro mientras los dos adolescentes yacían en el suelo.

Sin embargo, lo que se ve en el vídeo es cómo los bomberos y los servicios de emergencias trabajan en un entorno de relativa calma, al menos en la primera parte del vídeo. Luego la tensión parece aumentar, pero no se cometen actos de violencia.

Pese a todo, la policía y el Ministerio del Interior mantienen la versión de la Inspección General de la Policía según la cual, el vehículo policial, "probablemente" fue dañado voluntariamente tras el accidente. Sin embargo, el informe policial no cita testigos directos de ese ataque contra el coche, pero se apoya en el testimonio de un bombero de Villiers-le-Bel, el primer responsable que intervino en el lugar del accidente, que sostiene que el coche no tenía tantos destrozos cuando él lo vio por primera vez.

El presidente francés, Nicolas Sarkozy, ha anunciado hoy una investigación judicial que arroje luz sobre las circunstancias del accidente.

Plano Condor: Ditadores argentinos nos bancos dos réus. E os outros?

Elevan a juicio oral la causa por el Plan Cóndor

El juez Torres ordenó elevar la causa a juicio oral. (TN)

1
09:24
El magistrado Sergio Torres dispuso que se juzgue a Jorge Rafael Videla y a otros 16 represores por delitos de lesa humanidad en el marco del acuerdo entre dictaduras latinoamericanas en los 70.

Comandante, ordene!

Lula: 'Quero ver todo mundo torcendo para o Corinthians hoje'

Obra dos Demos e tucanos: Região da Cracolândia aumenta e se espalha pelo centro da capital, denuncia o Diário de São Paulo


Clicar na imagem para ampliar

Cresce o turismo e Brasil é confirmado para o Conselho Executivo da OMT

O crescimento do turismo e do emprego e renda gerados pela indústria turística (no Brasil de 33% segundo a OMT citada pela Folha Online)) esteve no centro do congresso da Organização Mundial do Turismo (OMT). O Brasil foi eleito membro da executiva deste importante organismo.

Brasília (26/11) – O Brasil foi eleito, ao lado do México e de El Salvador, para o Conselho Executivo da Organização Mundial do Turismo (OMT), durante a Assembléia-Geral da 47ª Reunião da Comissão da OMT para as Américas, em Cartagena de Índias, na Colômbia – encontro presidido pela ministra do Turismo, Marta Suplicy. Como era o último ano do Brasil na presidência das Américas, houve escolha também de seu sucessor: a Colômbia.

O Brasil foi eleito para o mandato 2007-2011. México e El Salvador vão compartilhar a representação. Entre 2007 e 2009 assume o México. Entre 2009 e 2011 responde El Salvador pelo mandato no Conselho. A renovação no Conselho, neste ano, se deu em razão dos términos de mandato do Canadá e Peru. O anúncio oficial dos países eleitos para o Conselho Executivo será amanhã (27), durante a XVII Reunião Ministerial da Assembléia-Geral.

Este encontro da Assembléia-Geral discute também temas importantes para o setor, tais como Turismo e Mudanças Climáticas; Política de Qualidade dos Destinos e o Estabelecimento do Centro Mundial de Excelência dos Destinos em Montreal.

A ministra Marta Suplicy reafirmou na reunião da Comissão das Américas posição que havia apresentado em Londres, durante debate da OMT, sobre mudanças climáticas e turismo. Segundo explicou, a questão do aquecimento global é uma preocupação de todos os governos e têm profundo impacto para a atividade turística. Para a ministra “países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, vão continuar a dar importantes contribuições voluntárias aos esforços globais para a redução das emissões de gases do efeito estufa”.

Marta observou, porém, que o Brasil leva em conta o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Os países em desenvolvimento não podem ser tratados da mesma maneira que os países desenvolvidos, que acumularam riquezas à custa de um grande passivo ambiental para todo planeta. “O compromisso em relação à preservação do meio ambiente não pode ser colocado em contraposição à luta contra a pobreza e a exclusão social. O turismo é um importante instrumento para o progresso de países em desenvolvimento, que vão continuar trabalhando para atrair turistas de todo o mundo”, afirmou Marta Suplicy.

A posição brasileira recebeu forte apoio dos demais países na reunião da Comissão para as Américas. Está sendo preparado um documento para, em nome dos componentes da comissão ser apresentada à Assembléia-Geral da OMT, como uma posição coletiva. Em encontro com a ministra Marta Suplicy, a ministra de Turismo da Índia, Renuka Chowdhuri, reforçou que os dois países compartilham a mesma posição em relação às questões das mudanças climáticas e suas influências no turismo.

Uma boa notícia foi dada pela ministra do Equador, Maria Izabel Salvador Crespo, à ministra Marta Suplicy. Uma linha aérea equatoriana vai operar a ligação Quito/Manaus, a partir do ano que vem. O Equador é hoje o único país da América do Sul sem vôos diretos para o Brasil.

Sobre a OMT – A Organização Mundial do Turismo é a agência especializada das Nações Unidas para o Turismo. O Conselho-Executivo da Organização é o órgão responsável pela tomada de decisões para a implementação de suas próprias resoluções e recomendações da Assembléia-Geral, órgão supremo da organização. Ligadas ao Conselho, estão as comissões regionais, que neste encontro também vão eleger seus próximos presidentes e vice-presidentes para exercer mandato de dois anos. A Assembléia-Geral reúne-se a cada dois anos com o objetivo de analisar e informar sobre as ações realizadas pela OMT. Os integrantes também se encontram para eleger representantes do Conselho Executivo e para aprovar o programa de trabalho e o orçamento da organização. Fonte portal do Ministério do Turismo

Turismo continua em alta mas está sensível a crises, afirma a OMT

da Efe, em Cartagena

O negócio do turismo no mundo é um dos que apresentam maior crescimento e um futuro promissor, mas por suas características é também um dos mais sensíveis a movimentos políticos, crise econômicas e desastres humanos e naturais. É o que informa um relatório da OMT (Organização Mundial de Turismo) divulgado nesta quarta-feira.

A OMT está realizando a sua assembléia geral na cidade colombiana de Cartagena. O seu relatório de conjuntura até agosto apontou que os resultados preliminares de 2007 "confirmam a resistência da demanda contra os fatores externos".

Os problemas incluem "desde turbulências nos mercados financeiros até segurança e saúde, passando pela alta dos preços do petróleo e o aumento dos impostos sobre o transporte aéreo, os riscos inflacionários e a alta das taxas de juros".

Além disso, o órgão alertou que "esses fatores começam a afetar a confiança dos consumidores em alguns mercados, o que poderia se estender e afetar, em algum momento, a demanda global de viagens internacionais".

Estatísticas

O número de chegadas de pessoas em viagens internacionais, segundo o documento, cresceu entre janeiro e agosto deste ano 5,6%. Foram 32 milhões a mais que no mesmo período do ano anterior.

Nos primeiros oito meses de 2007 houve 610 milhões de chegadas internacionais, nove por cada 100 habitantes do planeta. Até dezembro, segundo a OMT, o número deve ficar entre 880 e 900 milhões. Seria o quarto ano de crescimento sobre a média dos últimos anos, de 4,1%.

O crescimento na Europa foi de 4%, um ponto percentual abaixo da média do ano passado. Nas Américas, também com 4%, a taxa foi o dobro da registrada em 2006, segundo o relatório publicado pela OMT.

O relatório de conjuntura destaca os números da despesa turística, que continuam aumentando. No Brasil, o crescimento foi de 33%, e na Argentina, 24%. Em seguida vieram Coréia (18%) e Rússia (16%).

O relatório da OMT afirma que os destinos emergentes da Ásia e Pacífico, África e o Oriente Médio foram os principais motores do crescimento neste ano.

Begin the Beguine - Eleanor Powell & Fred Astaire


Para continuar com o bom dia!

Evolução da renda real ajuda a reativar economia brasileira

Julio Gomes de Almeida diz que o crescimento do crédito não teve um papel isolado na reativação da economia brasileira. "É muito importante relevar a evolução da renda real da população. A razão disto é que esta variável constitui uma destacada condição de acesso das pessoas ao crédito".


Júlio Gomes de Almeida
Terra Magazine

Redação Terra

Consumo básico é proporcional à renda real da população. Apenas crédito bancário não sustenta o consumo



Muitos analistas destacam o crescimento do crédito ao consumidor como o determinante fundamental da intensa expansão da demanda por bens de consumo. Nenhum reparo deve ser feito a esse entendimento, pois, de fato, o crédito concedido pelos bancos às famílias vem crescendo nesse ano a uma taxa real próxima a 20% relativamente ao ano passado. Isso vem dinamizando setores industriais inteiros que, do contrário, estariam em situação muito difícil em razão da valorização cambial. Os recordes de vendas de automóveis, de produtos da "linha branca" e de móveis têm inteira correspondência com essa reativação do crédito.

Outros setores também se beneficiam como é o caso da construção habitacional. A ampliação dos prazos dos financiamentos já permite uma maior aproximação entre os valores dos aluguéis e das prestações dos financiamentos, o que concede ao setor um grande incentivo. Portanto, não deve ser subestimado o papel do crédito, especialmente para as famílias, no atual contexto de reativação da economia brasileira.

Porém, uma indagação muito importante diz respeito aos fundamentos desse processo. Nesse sentido é muito importante relevar a evolução da renda real da população. A razão disto é que esta variável constitui uma destacada condição de acesso das pessoas ao crédito, assim como o principal fator que evita a inadimplência nos financiamentos. Ou seja, o rendimento real é a condição para "entrada" e para a "saída" das pessoas ao crédito, amparando a sua reprodução.

É claro que o pano de fundo de tudo isso é uma maior disposição do sistema bancário em ampliar suas operações creditícias, já que nessa área, os retornos são especialmente atraentes, dado o elevado "spread" cobrado pelas instituições financeiras. Mas, tal desejo de ampliação esbarraria em limites cadastrais e em uma crescente inadimplência, caso não fosse acompanhado de um crescente rendimento da população. A renda real também é em si um determinante destacado do consumo corrente, pois define o poder de consumo que se dirige diretamente para a aquisição de determinados bens, notadamente os de "primeira necessidade".

Como está evoluindo o rendimento real médio das pessoas ocupadas? Um breve retrospecto do comportamento da renda do trabalhador mostra duas etapas muito claras nos últimos doze meses. Desde outubro de 2006, seu crescimento teve expressiva elevação que se sustentou por cerca de oito meses. Nesse período, o aumento situou-se entre 4% e 5% com relação ao mesmo mês do ano anterior. Dado um aumento médio do número de pessoas ocupadas em torno a 3%, isso permitiu que a massa real de rendimentos crescesse em termos também anuais entre 7% e 8,5%. Daí a base elástica do crédito a que nos referimos.

Uma observação relevante é que mesmo na ausência da forte ampliação do crédito, esta elevada expansão da massa real de rendimentos por si só já seria um condicionante do bom desempenho do mercado consumidor interno. Não é por acaso que certos segmentos industriais como alimentos, bebidas, e a indústria farmacêutica tiveram significativa aceleração de crescimento no decorrer de 2007.

Desde meados do ano, no entanto, esse quadro teve progressiva deterioração, com taxas cada vez menores de variação do rendimento real. Assim, de uma média próxima a 5% de aumento, o rendimento passou a crescer em torno a 2,5% em junho e julho, 1,2% em agosto, 2,7% em setembro e 1,2% em outubro, sempre na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Se tomarmos a média do último trimestre, a variação alcançou 1,6%, ou seja, cerca de um terço do que chegou a ser nos meses de maior evolução. Com isso, dado que o aumento do emprego se manteve na faixa de 3%, a massa real de rendimentos, vale dizer, a base do mercado interno consumidor e o pilar para a multiplicação do poder de compra através do crédito, cresceu em média 4,6%.

Este ainda pode ser considerado um índice bom, mas indubitavelmente é bem inferior ao que foi no passado recente. Mais importante, todavia, são os desdobramentos desse processo. O movimento é de queda, não havendo ainda sinais de que tenha chegado ao seu limite mínimo. Dependendo da evolução do rendimento real da população nos próximos meses, teremos uma visão mais clara das tendências do mercado interno consumidor. Por enquanto, não é possível afirmar categoricamente que a pujança do consumo familiar verificada em 2007 será repetida no ano que vem.


Júlio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Fale com Júlio Gomes de Almeida: jgomesalmeida@terra.com.br

O espantalho do terceiro mandato

Luiz Weis

O Estado de São Paulo

O terceiro mandato é uma invenção do PSDB. Serve para o partido empunhar a mais vistosa das bandeiras políticas - a defesa da democracia - a custo zero.

Se o presidente Lula for tomado por uma acesso de insanidade e, contra todas as evidências, embarcar nessa aventura que ele rejeita publicamente dia sim, o outro também, os tucanos terão um motivo real para fazer do que até hoje outra coisa não é senão a sua guerra particular uma legítima Batalha de Stalingrado pela santidade do princípio da alternância no poder. Já se a norma for mantida sem percalços, eles sempre poderão dizer que, não fossem as suas denúncias a tempo e hora, ela teria sido atropelada pelo chavismo da nação petista e do seu primeiro companheiro.

O PSDB começou a agitar o pano vermelho nos idos de janeiro, quando o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) ainda estava longe dos 15 minutos de fama com o seu nefasto projeto de emenda constitucional que daria ao presidente da República a prerrogativa de convocar plebiscitos sobre o que lhe desse na veneta, à revelia do Legislativo. Portanto, nove meses antes que saísse da obscuridade o "velho amigo íntimo" de Lula, como os tucanos e setores do comentariado político se apressaram a identificá-lo, foi posta a circular a versão de que o Planalto tratava de criar as condições para que o presidente começasse a "trabalhar por um terceiro mandato".

Naturalmente, era tudo muito iffy, como dizem os gringos. O motor começou a rodar não com uma acusação frontal, baseada em fatos, mas com uma especulação pontilhada de condicionais, que invocava a "lógica" - Lula não tem um sucessor natural capaz de herdar os seus 58 milhões de votos e tem toda a popularidade do mundo para fomentar um clamor popular pela re-reeleição, mediante um casuísmo que o Congresso não se furtaria a aprovar. Espantalhos não se fazem num dia, porém. Quanto mais gradual a sua montagem, maior o seu poder de assustar. Sem falar que teorias conspiratórias só têm compromissos com as intenções de seus autores.

O PSDB atou-se à teoria do terceiro mandato literalmente à falta de melhor. Seja para transformá-lo no mensalão do segundo - com a diferença de que o original foi um dado da realidade -, seja para mascarar o próprio apagão de idéias e ideais. Em agosto de 2005, quando Duda Mendonça, o marqueteiro do coração de Lula, contou ter sido remunerado com depósitos em conta secreta no exterior, faltou ao partido tutano para levar o presidente ao mata-mata de um pedido de impeachment. Faltou decerto porque um mês antes O Globo revelou os primeiros indícios do que ficou claro como o sol na semana passada - o mensalão tucano da campanha mineira de 1998.

Agora, trata de arar o terreno para a semeadura de uma crise mensalônica que poderia restaurar o seu patrimônio como oposição ao lulismo, dilapidado - desgraça pouca é bobagem - duas vezes. Na campanha de 2002, quando escondeu o presidente Fernando Henrique do horário eleitoral, e na seguinte, quando se envergonhou das privatizações no seu governo. Desta vez, é como se, perversamente, o PSDB desejasse que Lula incentivasse uma iniciativa terceirista, para armar o barraco. Mesmo sem isso, já faz desfilar a assombração no Senado, para impedir que alguns dos seus ajudem de caso pensado a aprovar a prorrogação da CPMF.

Curiosa família, a dos ranfastídeos. Tentam levar o povo no bico, apostando na sua proverbial desmemória. Fizeram em 1997 o que afirmam, horrorizados, que Lula quer fazer em 2007, apenas com um re a mais: aprovaram a emenda da reeleição, de quebra com uns votinhos comprados nos grotões, valendo já para o presidente de turno - senão, cadê a graça? No ninho, raras aves ousaram criticar a abolição da regra do impedimento com a bola rolando. Era para o bem, retrucavam os fernandistas no Congresso, na imprensa e na intelligentsia. Exatamente o que diriam os partidários do Lula-3. Eles existem, mas apitam o mesmo que aqueles poucos tucanos favoráveis à reeleição a partir de 2002.

O drama do PSDB, que deu no factóide que está aí, não tem mistério. O partido perdeu a pele social-democrata (leia-se: de esquerda modernizadora, à espanhola) com que veio ao mundo, em 1988, e a pele apefelada que a substituiu é o tipo da coisa fora de lugar diante desta sociedade que pode não ser mais justa, mas se "pensa mais justa", no fino registro do ex-ministro Delfim Netto, no Valor de segunda-feira. No mesmo jornal, a propósito, o repórter Caio Junqueira anotou dias antes as didáticas diferenças entre o primeiro programa tucano e o aprovado no congresso-convenção da última semana, em Brasília. O novo documento não contém nem o termo progressista, nem o nome Nordeste.

Mas o pior de tudo, como os tucanos só admitem na penumbra, é a sua respeitável dificuldade de combater um governo que cumpre essencialmente o seu, deles, programa. Assim como seria uma festa para o PSDB se Lula desse corda ao terceiro mandato - que não pegaria bem para ele nem no exterior, como sabe -, teria sido uma apoteose se Lula esquecesse o que assinou na Carta ao Povo Brasileiro, de junho de 2002 - e no ano seguinte entregasse as chaves do Planalto ao velho PT. Tendo os fatos transcorrido como transcorreram, o PSDB continuou no poder, como emanação doutrinária. Virou um autor à procura de um enredo.

Ainda mais depois da invertida que levou, em pleno convescote, do procurador-geral da República, que tirou o chão sob os pés do partido nascido do manifesto repúdio dos seus fundadores aos "métodos quercistas" de fazer política e governar. Hoje se sabe que também grão-tucanos são chegados à ética de resultados, como a companheirada da trincheira em frente. Restaram, no atacado, a apelação do terceiro mandato; no varejo, os constrangedores ataques pessoais de Fernando Henrique a Lula. O debate público nacional podia passar sem uma coisa e outra.

Luiz Weis é jornalista

Hilary Hahn toca o Adagio do concerto para violino no.1 de Paganini



Bom dia!

governo Lula: País tem resultados melhores entre emergentes que formam os Brics

O Globo

China e Índia estão abaixo na lista. Rússia, em posição melhor, teve queda no IDH

Martha Beck e Demétrio Weber

BRASÍLIA. O Brasil foi o país que teve melhores resultados no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os Brics — bloco de nações emergentes cujas economias têm potencial para dominar o mercado mundial em meados deste século. Embora tenham registrado crescimento no IDH superior ao brasileiro nos últimos 15 anos, Índia e China ainda estão bem abaixo no ranking. Enquanto o Brasil ocupa a 70aposição, a China está na 81ª, e a Índia na 128ª Já a Rússia está numa colocação melhor que a brasileira (67aposição), mas registrou queda no IDH. A mesma vantagem, porém, não é encontrada quando a comparação se dá com os vizinhos da América do Sul.

Enquanto o índice brasileiro relativo a 2005 foi de 0,800 (alta de 10,65% sobre 1990), no mesmo período, o da Rússia foi de 0,802 (queda de 1,6%), o da China, de 0,777 (alta de 22,56%), e o da Índia, de 0,619 (alta de 18,81%). Mantido o ritmo, porém, a médio prazo os asiáticos podem ultrapassar o país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que o Brasil está em melhor posição do que seus companheiros nos Brics e enumerou desafios para o próximo século: — Nós temos a China, com 1,3 bilhão de habitantes, que precisa incluir 1 bilhão na cidadania.

Nós temos a Índia, com 1 bilhão de habitantes, precisando incluir 700 milhões na cidadania.

Arrumar trabalho, escola, alimento, tudo isso é um desafio para o século XXI.

Em artigo para o relatório, Lula defende etanol Mesmo assim, o Brasil ainda é o mais desigual do grupo. A renda dos 20% mais ricos é 21,8 vezes maior que a renda dos 20% mais pobres. Na China, essa relação é de 12,2 vezes, na Rússia, de 7,6, e na Índia, de 5,6.

No entanto, o Brasil apresenta melhores indicadores de pobreza e de saneamento em relação a China e Índia.

Quando se considera o Índice de Pobreza Humano — que combina diversos indicadores essenciais à qualidade de vida — o Brasil vê em condições degradantes 9,7% da população, contra 11,7% na China e 31,3% na Índia. Já a taxa de saneamento brasileira está em torno de 75%, enquanto a indiana é de 33% e a chinesa, de 44%.

Outro sinal da desigualdade está nas taxas de mortalidade infantil e materna. No Brasil, a mortalidade entre menores de 5 anos é de 33 por mil nascidos.

Mas entre os 20% mais pobres esse número sobe para 99. Já a taxa de mortalidade materna é de 110 para cada 100 mil nascimentos, contra em torno de 20 a 30 nos demais países.

Pelo segundo ano consecutivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve participação especial no Relatório de Desenvolvimento Humano. No seu artigo, enumerou os esforços brasileiros para minimizar as alterações climáticas, criticou os programas de subsídios aos biocombustíveis americano e europeus e pediu a redução das tarifas de importação do etanol brasileiro.

Para ele, “o Brasil está preparado para apoiar esforços de países em desenvolvimento para identificar fontes viáveis de energia alternativa”. Seu artigo aparece ao lado de autores como o secretário-geral da ONU, Ban-Ki-moon, e o bispo sul-africano Desmond Tutu (prêmio Nobel em 1984).

É Guerra!


O Globo

SÃO PAULO. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), lançou o nome do ex-governador paulista e candidato derrotado à Presidência Geraldo Alckmin para concorrer à prefeitura de São Paulo, em 2008. O gesto, se formalizado no próximo ano, pode ameaçar a aliança entre os tucanos e o DEM, que espera ter o apoio do PSDB à reeleição do prefeito Gilberto Kassab. Também pode atrapalhar os planos do governador tucano José Serra de ter o apoio do DEM, caso dispute a sucessão presidencial em 2010.

Kassab foi o vice de Serra na eleição de 2004 para a prefeitura e o substituiu quando o tucano concorreu, e venceu, a eleição para governador.

— Acho que se o PSDB tem um candidato com chances de vitória, e tem, então o candidato à prefeitura é o doutor Geraldo Alckmin — disse Guerra, em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na noite de anteontem.

Guerra rejeitou a idéia de que a eventual candidatura de Alckmin vá minar a parceria com o DEM: — Vamos trabalhar para eleger nosso candidato, não para derrotar ninguém. Somos uma força política vitoriosa algumas vezes, e, além disso, nem sei qual é a posição do prefeito.

O PSDB ainda está à procura de um rumo



Editorial Valor

A semana passada seria a do PSDB. Pelo menos era o que o partido havia planejado, ao marcar suas inserções publicitárias na TV antes do 3º Congresso do partido fundado em 1988. A ofensiva de marketing desembocaria na reunião tucana, que decidiria pela "atualização" do programa partidário e seria encerrada com honras pelo seu maior cardeal, Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República por dois mandatos (1994-1998 e 1999-2002).


Como a realidade nem sempre coincide com o marketing, ainda nos jornais de domingo era possível perceber o estrondoso fracasso de público da semana tucana. As televisões veicularam as imagens da xerox com repetitivos textos de que o PSDB fez, o PT copiou, sem que se conseguisse sair do "passado glorioso" para apontar um verbo no futuro: o que fará o partido hoje com mais chances de eleger o sucessor do presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva? Os tucanos não conseguiram também responder essa pergunta no "manifesto de atualização do programa partidário", que professa o partido como "autenticamente nacionalista e moderno" (sem dizer o que vem a ser o autêntico, o nacionalista e o moderno) e prega um "desenvolvimentismo" que passa por uma opção por "mais governo e mais mercado", seja lá o que isso represente na literatura acadêmica que tanto FHC preza (um mistura e manda, ou copia e cola, do liberalismo com o keynesianismo?)


No encerramento do evento, o que ficou registrado foi o radical discurso do ex-presidente que, para atacar os que consideram o partido elitista e preconceituoso, deu mais munição aos detratores. "Há, sim, acadêmicos entre nós, e nós não temos vergonha disso. Há gente que sabe falar mais de uma língua, sim, mas também falamos bem a nossa. Queremos brasileiros bem educados e não liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria", disse o ex-presidente, que sequer precisou apontar o indicador para o atual, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, para que sua "insinuação" fosse entendida. Além da deselegância, que trai um orgulho ferido, o ex-presidente carimbou na testa do PSDB não o desprezo pela educação, mas pelo voto, que deu dois mandatos a Lula assim como elegeu e reelegeu o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Os eleitores certamente não têm vergonha de ter eleito um ou outro. Exerceram seu direito.


O Congresso e as máquinas xerox foram incapazes de dar um verniz a uma divisão partidária que se tornou uma doença crônica, motivada que é por ambições pessoais que dificilmente convergem para o coletivo e por uma enorme desorientação programática. Durante os governos FHC, um relativo consenso em torno da premência da estabilidade econômica e a existência de um elemento agregador, Mário Covas, deu alguma cola e substância aos atores que disputavam o poder internamente. Na oposição, o tucanato ficou sem norte no momento em que o PT optou por dar continuidade à política econômica ortodoxa de FHC e perdeu o rumo quando, depois de bater na tecla de que Lula abusava de uma política social paternalista e populista, engoliu nas urnas uma forte aprovação popular ao Bolsa Família. A partir de então, tenta emplacar um discurso do partido que inventou as políticas públicas que tiveram sucesso no atual governo. E não consegue sair disso - a não ser para renegar outras criaturas suas, como a CPMF, a Desvinculação das Receitas Orçamentárias (DRU), o valerioduto mineiro etc. A grita contra a carga tributária, aliás, é um capítulo à parte, já que ela é, hoje, a que se impunha aos contribuintes em 2002, menos as desonerações feitas no primeiro mandato de Lula.


A semana tucana projeta para 2010 uma legenda que tem os dois candidatos hoje com mais chances de êxito nas urnas, os governadores José Serra e Aécio Neves, nenhum programa e qualquer consenso interno. A educação per capita tucana, que FHC diz que não deve envergonhar os militantes, não foi suficiente para dar consistência programática e organicidade a um partido que corre o risco de voltar a ser governo em 2010 e precisa dizer a que veio - ou melhor, por que quer voltar.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

IDH: Brasil entra para o grupo de 'alto desenvolvimento humano'

O Globo e O Globo Online Melhoria na alfabetização infantil melhorou no país / Arquivo O Globo

BRASÍLIA - Favorecido em especial pelo aumento da renda, o Brasil entrou pela primeira vez para o grupo dos países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 70.º lugar, no ranking de 177 países avaliados anualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O IDH do Brasil subiu de 0,798 para 0,800 de 2004 para 2005, na escala de 0 a 1.

Apesar do aumento no índice, o Brasil perdeu três posições no ranking mundial em relação ao estudo anterior, caindo do 67º para 70º lugar. Além disso, outras sete nações conseguiram entrar para o grupo dos países desenvolvidos, que antes tinha apenas 63 integrantes.

Leia também: Clima ameaça desenvolvimento humano da América Latina.

De acordo com o novo relatório da Pnud, a Islândia, no noroeste da Europa, e Serra Leoa, na África, são a nova face da desigualdade mundial. O país europeu desbancou a vizinha Noruega e assumiu a liderança no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com 0,968, na escala de 0 a 1. Na ponta de baixo, Serra Leoa perdeu uma posição em relação ao ano passado e, com índice 0,336, tomou o último lugar do Níger.

Confira os ranking elaborado pelo Pnud

Ao nascer, por exemplo, um bebê islandês tem uma expectativa de vida de 81,5 anos. É quase o dobro do que sobrevive, em média, um cidadão de Serra Leoa: 41,8 anos.

O Relatório de Desenvolvimento Humano 2007, que usa dados de 2005, tem como tema o aquecimento global e seu lançamento mundial foi realizado hoje no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No texto , a organização defende o fim das tarifas de importação que os demais países impõem sobre o etanol do Brasil .

O presidente Lula disse nesta terça-feira que o Brasil estará numa posição ainda melhor no IDH no fim de seu governo. Segundo ele, quando o Pnud divulgar o relatório de 2012, que trará os dados de 2010, as condições de vida dos brasileiros estarão bem melhores do que em 2005, ano analisado no relatório divulgado hoje. Lula citou o Bolsa Família como um dos instrumentos que possibilitaram a melhora do país no índice da ONU .

- Todo governo que vier vai se sentir na obrigação de fazer o Brasil crescer um ponto no relatório - disse o presidente, que participou do lançamento do relatório de desenvolvimento humano 2007/2008.

Criado pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede a qualidade de vida por outros indicadores que não apenas o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país). Leva em conta renda (PIB per capita), saúde (expectativa de vida ao nascer) e educação (taxa de alfabetização de adultos e matrículas no ensino fundamental, médio e superior).

Renda ajudou país a subir no ranking de desenvolvimento

De acordo com o novo estudo da ONU, o PIB per capita do Brasil subiu de US$ 8.325 para US$ 8.402, entre 2004 e 2005, considerando a Paridade do Poder de Compra. O IDH da Saúde (expectativa de vida ao nascer) melhorou de 71,5 anos para 71,7 anos entre os dois anos. Com isso, nosso IDH subiu de 0,798 para 0,800.

Os dados de Educação _ taxas de matrícula no ensino fundamental, médio e superior combinadas _ ficaram inalterados em relação aos do ano anterior, mas devido a problemas na entrega dos números ao Pnud, atribuição da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), também um órgão das Nações Unidas. O índice atribuído foi de 87,5%. Isso pode ter prejudicado o Brasil na classificação, reconhece o Pnud.

O acréscimo no IDH foi suficiente para o país atingir o patamar de alto desenvolvimento humano, que vai de 0,800 a 1, mas não para subir no ranking. O Brasil deixou para trás a ilha caribenha de Dominica, que estava à frente no levantamento anterior, mas foi ultrapassado pela Albânia e a Arábia Saudita, que subiram respectivamente cinco e quinze posições.

Maior desigualdade do grupo entre ricos e pobres

Embora tenha passado a integrar o grupo de países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), onde já estão hoje Chile, Uruguai, Argentina e México, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para melhorar as condições de vida de sua população, de acordo com o assessor especial do Pnud e especialista em desenvolvimento humano Flávio Comim.

" O aumento de número de alunos matriculados em escolas foi o fator que mais contribuiu para a melhora do IDH do país no longo prazo "

Ele lembra que, quando comparado com os países que estão no mesmo patamar de IDH, o Brasil perde de forma significativa em, pelo menos, cinco outros indicadores: pobreza, desigualdade, saneamento, mortalidade infantil e mortalidade materna.

- Se eu tivesse que dizer se o copo está meio cheio ou meio vazio no caso do Brasil, eu diria que ele está meio vazio - afirmou Comim.

Quando se considera o Índice de Pobreza Humano, por exemplo, o Brasil tem um percentual de 9,7% (da população), enquanto no México esse valor é de 3,8%.

Nesse índice estão pessoas que costumam morrer antes dos 40 anos, não têm qualquer acesso a educação ou saúde e vivem em condições precárias de saneamento. Por exemplo, enquanto a taxa de saneamento brasileira está em torno de 75%, na Argentina ela é de 91% e no Uruguai, de 100%.

Comim destaca ainda o alto nível de desigualdade. A renda dos 20% mais ricos da população é 21,8 vezes superior à renda dos 20% mais pobres do país.

Outro indicador que mostra a disparidade está nos índices de mortalidade infantil e materna. No Brasil, a mortalidade entre as crianças de menos de cinco anos é de 33 para cada grupo de mil nascidos. No entanto, entre os 20% mais pobres da população, esse número sobe para 99. Já a taxa de mortalidade materna é de 110 para cada 100 mil nascimentos, sendo que nos demais países ela gira em torno de 20 a 30.

Revisão da metodologia é questionada

O IDH é um índice usado pela ONU para medir o desempenho dos países em três áreas: saúde, educação e padrão de vida. O índice é composto por estatísticas de expectativa de vida, alfabetização adulta, quantidade de alunos na escola e na universidade e o produto interno bruto (PIB) per capita.

O Brasil subiu não só devido a melhoras reais nos campos avaliados pelo IDH, mas também em função de revisões de estatísticas nos bancos de dados da Unicef e do Banco Mundial - órgãos que fornecem os números para o PNUD, normalmente baseados em dados produzidos pelos próprios países. Essa mudança de metodologia é questionada por alguns especialistas .

Por exemplo, uma recente revisão de metodologia do IBGE alterou para cima o crescimento do PIB brasileiro em 2005. Em vez de 2,9%, o IBGE declarou que a economia do Brasil cresceu 3,2% naquele ano.

Revisões estatísticas do IBGE também revelaram que os padrões de educação e expectativa de vida no Brasil aumentaram em 2005. A expectativa de vida média subiu de 70,8 anos, no relatório do ano passado, para 71,7 anos, e a porcentagem de alunos matriculados em escolas e universidades aumentou de 86% para 87,5%.

O Brasil vem melhorando em ritmo estável

De 2004 para 2005, o Brasil melhorou em todos os itens que compõem o IDH, com exceção da alfabetização adulta - que ficou estável em 88,6% da população com mais de 15 anos.

O desempenho econômico do país também contribuiu para melhorar o padrão de desenvolvimento humano. O PIB per capita anual aumentou 2,5% de 2004 para 2005, atingindo US$ 8.402 (por paridade de poder de compra).

De 1990 a 2005, o PIB per capita brasileiro cresceu em média 1,1% por ano, ritmo idêntico ao da Argentina, mas bastante inferior ao do Chile - que cresceu em média 3,8% ao ano.

O PNUD começou a divulgar o IDH desde 1990, mas traz dados para vários países retroativos a 1975. Desde então, o Brasil vem melhorando o seu índice de desenvolvimento humano em um ritmo estável.

Em 1975, o IDH brasileiro era calculado em 0,649. Desde então o Brasil vem mantendo uma média de crescimento de cerca de 0,050 no índice a cada dez anos.

Segundo o economista Flavio Comim, especialista em desenvolvimento humano e assessor especial para o PNUD, o aumento de número de alunos matriculados em escolas foi o fator que mais contribuiu para a melhora do IDH do país no longo prazo. Desde 1990, o índice subiu de 67,3% para 87,5%.

Subir no ranking de IDH tem importância 'simbólica'

Para Comim, a importância de entrar na lista dos países de alto desenvolvimento humano é "simbólica, mas significativa, pois abre espaço para uma agenda mais ambiciosa no Brasil".

Segundo ele, um dos motivos que faz o Brasil ficar em último lugar entre as nações de "alto desenvolvimento humano" no IDH é o fato de que os indicadores sociais brasileiros estão muito abaixo do nível de renda do país.

Comim identifica cinco áreas em que o Brasil ainda precisa melhorar para subir no ranking: combate à pobreza e à desigualdade, saneamento, mortalidade infantil e mortalidade materna. Nessas áreas, segundo ele, o Brasil está muito atrás dos demais países, mesmo os latino-americanos.

Comim afirma que, baseado em dados já disponíveis sobre 2006, o Brasil deve melhorar ainda mais o seu IDH no relatório do ano que vem. Entretanto, alerta que outros paises em desenvolvimento vêm obtendo resultados melhores .

E o turismo cresce, apesar da crise aérea

José Ernesto Marino Neto * - O Estado de S.Paulo


- Segundo previsões do estudo realizado neste ano pelo World Travel & Tourism Council (WTTC), o turismo no Brasil deve crescer 5,3% ao ano nos próximos dez anos, um ponto porcentual acima da média mundial, colocando o País atrás apenas do México no ranking dos países da América Latina.

Nem a crise aérea nem os problemas estruturais apresentados pelo País vão atrapalhar as possibilidades de investimento para 2008. Os grupos SuperClubs e Invest Tur acabam de anunciar investimentos de R$ 1,5 bilhão em megaempreendimentos que colocam, lado a lado, um resort com todos equipamentos de lazer e hotelaria e um condomínio de casas.

A curva ascendente do mercado turístico-imobiliário é um dos temas da XI Brazilian Hospitality Investment Conference, que vai reunir em São Paulo, entre quinta e sexta-feira, 500 executivos de bancos de investimento, fundos de pensão, instituições de crédito imobiliário e especialistas do setor.

O mercado brasileiro está preparado para o desenvolvimento de projetos. Hoje, os financiamentos imobiliários batem recordes de aplicações. Os compradores de segundas e terceiras residências são os melhores clientes: fazem aplicações, seguros e movimentações.

Outros temas que serão discutidos durante a conferência são a evolução da economia brasileira e sua maturidade, como agregar valor no mercado brasileiro e desenvolver projetos de baixo risco, além de condo-resorts, condo-hotéis e complexos de uso misto.

O painel sobre a economia brasileira, por exemplo, vai destacar o que falta para o Brasil conseguir o grau de investimento. Quando se atinge tal grau quer dizer que o risco é muito pequeno. Então, os grandes investidores institucionais começam a aportar recursos. A economia do México deu um salto gigantesco depois que o país conseguiu o Investiment Grade. Em 2008, teremos muito dinheiro chegando ao Brasil para o incremento do consumo e da produção.

O crescimento da modalidade condo-resorts também será tema do evento. Esse novo tipo de empreendimento surge como tendência para o mercado turístico, pois se verifica a crescente preocupação das pessoas com a qualidade de vida e a procura por um local de lazer tranqüilo para desfrutar de sua aposentadoria ou de momentos com a família.

Outra boa novidade será a participação, pela primeira vez no evento, de representantes dos maiores escritórios de advocacia do país. Durante o Meet the Law, eles ficarão à disposição dos participantes para discutir temas como opções de financiamento em operações imobiliárias. Destacamos, ainda, a realização inédita do Find The Money, espaço onde 11 instituições de financiamento e investimento estarão à procura de projetos para aportar recursos. Donos de projetos poderão falar com quem faz diferença, num mesmo lugar.

Como se vê, há bons motivos para esperar que a XI Brazilian Hospitality Investment Conference amplie as possibilidades de grandes negócios e de um profundo debate sobre o mercado turístico-imobiliário brasileiro. E o turismo certamente se beneficiará com os frutos.

* José Ernesto Marino Neto - Presidente da consultoria BSH International

É "correção" ou é "ladeira"?

VINICIUS TORRES FREIRE


Estresse financeiro cresce sem parar desde outubro, com agravantes, e já bate em vários mercados do Brasil

É UM risco-país mais alto aqui. É um financiamento de comércio exterior mais caro ali. Acolá uma dúzia de empresas desiste de ir à Bolsa, para vender suas ações. Ou empresas menores deixam de tomar dinheiro emprestado lá fora, pois as taxas aumentaram um tanto, o bastante para encarecer demais o dinheiro para companhias que não têm crédito nota 10 e/ou que são novatas nas ditas captações.
Não é nada dramático, ainda mais num país que já viu seu crédito ficar cinco ou dez pontos percentuais mais caro de um trimestre para outro. Agora se trata de deterioração menor que um ponto percentual, meio ponto, para usar um indicador popular como o risco-país.
Mas o "estresse" financeiro agora já pode ser sentido e ouvido em vários mercados brasileiros, os mais óbvios sendo o da Bolsa e o de câmbio, as trincheiras mais avançadas, sensíveis e voláteis. Diretores e gerentes de investimento dizem que, embora não seja momento de entrar em Bolsa, Bovespa e real não rolariam a ladeira, dadas as previsões de lucros das empresas para 2007, em linha com as deste ano, dado o superávit externo ainda resistente em 2008, dados a perspectiva de "investment grade", a inflação ainda abaixo da meta, o crescimento do PIB duas vezes maior que o do americano e mesmo apesar do risco de "surto desenvolvimentista" no governo (mais gastos públicos, menos superávit, mais "pressão" sobre a autonomia do Banco Central).
Seria interessante se o mundo funcionasse assim, em especial o das finanças, racionalmente, "olhando fundamentos". De resto, mesmo quem tem a obrigação de tranqüilizar o ambiente, como Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central, tem colocado suas barbas, ou melhor, seus cabelos restantes, de molho, em discursos cada vez mais cautelosos. Mas os indicadores objetivos de "estresse" no mercado financeiro global, embora sempre voláteis, estão em alta teimosa.
Os bancos assumem rombos cada vez maiores, o que mina sua capacidade de emprestar, e as taxas de juros interbancários estão renitentemente mais altas do que o normal e subindo, desde outubro, o que afeta as demais taxas. Os BCs de EUA e União Européia vão, de resto, colocar um dinheiro extra nos bancos a fim de "desestressá-los" um tantico.
A crise americana segue seu padrão "slow motion", mas segue, como uma enchente vagarosa. A cheia começou nos calotes dos imóveis vendidos para gente sem crédito e aguou os derivativos de crédito lastreados em hipotecas, daí afogou mercados de crédito de curto prazo para empresas e instituições financeiras, daí bateu no dinheiro que alavancava fusões e aquisições (e nas Bolsas do mundo rico) e já deteriora o crédito nos mercados de cartões e de empréstimos para compra de carros, o que estressa o consumidor e desanima o varejo. Enfim, o Dow Jones e o S&P 500, índices da Bolsa de Nova York, estão, em termos reais, zerados em 2007.
Os mercados brasileiros andaram descolando dos americanos neste ano, apesar de um ou outro tombo feio, mas até rápidos. Mas, mesmo que o "mau humor" não volte a ser dramático ou histérico, o "estresse" financeiro agora sugere uma crise de mau humor mais persistente.

Folha de São Paulo

vinit@uol.com.br

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Tucanos no foro intimo: "Por que no te callas!"



Depois da última arremetida de Fernando Henrique Cardoso tripudiando Lula pelo fato de não ter educação superior, cresce nas fileiras dos tucanos, especialmente entre os presidenciais, o apelo vibrante do rei da Espanha: "Por que no te callas!"

Brasil se rearma y refuerza la defensa de sus fronteras

É bom ficar alerta para evitar que a modernização urgente e necessária das Forças Armadas e de revalorização salarial de soldados e oficiais, não possa ser interpretado ou associado com qualquer ameaça aos países da região ou qualquer vocação de gendarme ou de super-potência. Este artigo do jornal El País é um alerta. A incitação da revista Veja, na linha do belicismo e outro sinal, grave.

As Forças Armada do Brasil devem estar a altura dos desafios de hoje e os militares devem ter sua carreira revalorizada e dignificada este é o sentido do esforço do presidente Lula, o resto é delírio de grande potência, que esconde a subordinação aos interesses norte-americanos na sua forma mais torpe, a do Bush. LF

El presidente brasileño, Luiz Inázio Lula da Silva
AmpliarEl presidente brasileño, Luiz Inázio Lula da Silva- REUTERS


EL PAÍS

El Gobierno de Lula aumentará un 50% el gasto bélico en 2008

J. MARIRRODRIGA - Buenos Aires - 26/11/2007


Más armas y de mejor calidad para tener más peso político en Latinoamérica. De este modo, Brasil ha optado por dar un giro significativo a su política de Defensa. El Gobierno de Luiz Inàcio Lula da Silva, junto a la cúpula militar del país, se encuentra elaborando un plan estratégico que verá la luz a comienzos de 2008, basado en el aumento hasta en un 50% de los gastos en material bélico, una reorganización de las defensas fronterizas y costeras y la asunción del papel de referente principal como árbitro en los conflictos que puedan surgir en el subcontinente.


Brasil tiene previsto gastarse en 2008 unos 4.600 millones de dólares (3.100 millones de euros) en compras de material para Defensa, sin contar los sueldos de los 310.000 integrantes de las Fuerzas Armadas, repartidos entre 190.000 militares del Ejército de Tierra, 70.000 de Aviación y 50.000 en la Marina. Una cifra que eleva en un 50% los 3.000 millones de dólares (2.000 millones de euros) presupuestados para este año.

Pero a diferencia de lo que han hecho otros países de la zona como Chile o Venezuela, los brasileños no emplearán la mayor parte de este dinero en compras en el mercado internacional de armas, sino que desarrollarán una industria bélica propia que, además de garantizar una menor dependencia de sistemas extranjeros, colocará a Brasil como referente para otros países a la hora de hacer sus propias adquisiciones.

Brasil intensificará la fabricación de aviones de combate y entrenamiento, sistemas antitanque, vehículos blindados, pequeños buques, electrónica, radares y munición en un ambicioso programa respaldado por capital privado nacional. En paralelo, ha comenzado el despliegue permanente de tropas en la frontera amazónica, con la construcción de una cadena de bases militares que vigilen la línea fronteriza más extensa de Suramérica.

Los motivos de este cambio han sido explicados por el propio Lula. "Las fronteras terrestres, las aguas jurisdiccionales y el espacio aéreo de las dimensiones de un país como Brasil demandan unas Fuerzas Armadas muy bien equipadas y adiestradas para la defensa de los intereses nacionales", ha destacado el mandatario. Además, para llevar adelante la reorganización, Lula puso el pasado julio al frente del Ministerio de Defensa a Nelson Jobim, un ex presidente del Tribunal Supremo que asumió su cargo una semana después de la peor tragedia aérea de la historia del país, en medio de una fuerte controversia sobre el control del espacio aéreo, donde los militares tienen un papel preponderante. En este tiempo Jobim ha sido muy directo al exigir una modernización del Ejército y reclamar a los empresarios privados que participen del proyecto.

Desde el punto de vista brasileño, la prisa está más que justificada. En 2008 habrá concluido el ambicioso programa de rearme chileno que incluye aviones de combate de EE UU, un centenar de carros de combate alemanes, fragatas lanzamisiles, submarinos y radares de última generación, entre otras adquisiciones. También Venezuela recibirá gran parte de las compras realizadas durante los años anteriores, entre las que destacan cientos de miles de fusiles de asalto. Ambos son los países de la región que más han gastado en armas en los dos últimos años.

Brasil es calificado habitualmente con el tópico de gigante latinoamericano y ahora importantes sectores del Ejército han comenzado a reclamar que el gigante comience a actuar. Según un sondeo publicado el sábado por la revista Veja, el 63,5% de los militares brasileños cree que es posible un conflicto armado con los países vecinos. En cambio, entre una muestra de población civil, el 57,9% no cree posible ese escenario. Sobre quiénes serían los enemigos potenciales, el 50% de los uniformados cree que serán Venezuela y Bolivia.

Algunas voces, no autorizadas pero significativas, han ido más lejos, y así el general José Benedito de Barros Moreira subrayó hace diez días que Brasil tiene que desarrollar armas atómicas para proteger su patrimonio. Y Moreira no es un general más, sino que es titular de la secretaría de Política, Estrategia y Relaciones Internacionales del Ministerio de Defensa. Moreira se suma, aunque probablemente pasándose de la raya, a la tesis de su ministro, que nada más anunciarse el descubrimiento de unas gigantescas reservas de gas y petróleo frente a las costas del país se expresó a favor de dar un giro a la política de Defensa. "El mundo carece de agua, energía, alimentos y minerales. Brasil es rico en todo eso", añadió Moreira para defender el argumento nuclear.

“LA ARGENTINA REAL NO ES LA DE LOS MEDIOS”

NOTA DE TAPA


Abrir esta nota en una ventana nuevaRecortar esta nota y guardarlaReportaje exclusivo a Cristina Fernández de Kirchner:
La presidenta electa adelanta las líneas políticas y económicas que definirán su gobierno. Revela nombres de embajadores, el rol de los ministros y cómo será el acuerdo social. Su mirada sobre la política exterior, el modelo económico, el Indec y las instituciones, en debate con la que ofrecen los grupos informativos.




http://static.pagina12.com.ar/fotos/20071125/notas/NA03FO01.jpg
En su casa de El Calafate, donde pasó el fin de semana en compañía del Presidente.
Imagen: Adrián Pérez



A dos semanas de asumir la presidencia, Cristina Fernández de Kirchner explica las políticas que aplicará durante su mandato, da a conocer nombres de embajadores y mantiene el suspenso sobre las segundas líneas. Define cómo será el acuerdo social que propugna y revela que difundirá a principios de 2008 un “relevamiento físico” de toda la Argentina, provincia por provincia, que será la base de los planes productivos y de infraestructura. Sus ideas sobre la oposición y el sistema político, la meneada política exterior, los cuestionamientos a los funcionarios y el Indec y, a todo lo largo del diálogo, su crítica a la mirada con que la mayoría de los medios muestra la realidad.

Por Ernesto Tiffenberg, Mario Wainfeld y
Fernando Cibeira

Cristina Fernández de Kirchner es una reporteada deseable. Es una protagonista excluyente, otorga todo el tiempo del mundo a la entrevista, en su casa de Calafate, en la tarde del viernes. Da la impresión de estar a gusto, contesta sin enfados, acepta y propone bromas y cuando se le agradece por el largo tiempo concedido comenta creíblemente que no le pareció mucho. Se interna en los temas, no regatea extensión, le gusta hablar de política, busca ser persuasiva. Al mismo tiempo, la presidenta electa es una entrevistada difícil. Cuestiona a menudo la pertinencia de las preguntas, de la narrativa que supuestamente las sustenta, remite a debates anteriores, no todos librados contra este diario. Recae con notable recurrencia en la polémica sobre la lógica de los medios o la de los periodistas, que la induce a numerosas digresiones. En esa dialéctica, la charla recorrió un largo camino regado con unas botellas de agua mineral y una oferta de pastelitos caseros. Néstor Kirchner estaba en la casa pero se retiró durante el reportaje. Sí asistieron el vocero Miguel Núñez, y Cleopatra, una amistosa caniche toy que aprovechó el reportaje para dormitar a gusto al lado de su dueña, la presidenta que viene.

–En uno de sus primeros discursos de campaña le dijo al presidente Kirchner que iba a intentar que no lo extrañaran demasiado, ¿por qué le gustaría que la extrañaran a usted?

–Ah, sinceramente preferiría que no me extrañaran porque el que viene después sea mejor que yo. Lo ideal sería que los recambios institucionales tuvieran una continuidad, más allá de las diferencias en el espectro ideológico.

–Y si no quiere que la extrañen, ¿cómo le gustaría que la recuerden?

–Primero, porque la primera mujer que fue presidenta le hizo honor al género. Siento que tengo una obligación con el género en cuanto a demostración de eficiencia y eficacia en gestión de gobierno. Es un pressing que una siente.

–¿Y en contenidos o políticas? ¿Qué meta le gustaría alcanzar?

–La profundización del proyecto que se inició en el 2003. Nosotros hicimos en esta primera etapa lo macro, que no fue poca cosa. Planteamos un modelo de acumulación económica basado en la industrialización, transformación, en el agregado de valor, frente a lo que había sido el modelo de transferencia de los noventa. También de inclusión social. Habría que profundizar eso. La anterior fue de mucha gestión, pero mucha gestión macro, la próxima será de mucha gestión micro, tendiente a identificar las actividades económicas en las cuales necesitamos mayor grado de inversión, de tecnología. O qué es lo que nos falta en donde somos más o menos competitivos.

–¿Cómo será el acuerdo social que viene proponiendo?

–Lo defino como un acuerdo de carácter estructural en el cual se definan metas, objetivos cuantificables y verificables, siempre basado en este modelo. Con acuerdos sectoriales porque no se puede hacer lo que se hizo en el pacto Gelbard, en 1973, referido nada más que a precios y salarios. No es ésta la idea que tenemos. Y luego de ese acuerdo estructural global, ir sectorialmente sobre cada actividad, porque no son las mismas necesidades ni posibilidades las de cada sector.

–¿Cómo se imagina ese acuerdo, será una reunión de las representaciones corporativas?

–No, nada que ver. Si fuera corporativo no serviría, en términos de representación únicamente de cúpulas sectoriales. Por eso digo que tiene que ver con las necesidades de cada sector. Hay una fuerte necesidad de articulación entre el sector público, privado y el representado por los trabajadores, y no con criterio corporativo sino por cómo se articula hoy en todas las economías desarrolladas del mundo. En Alemania hay acuerdos entre empresarios, sindicatos y Estado. El Pacto de la Moncloa fue un gran acuerdo en este sentido. A eso queremos apuntar.

–Avanzando un poco, ¿cómo sería la primera reunión, cincuenta representantes de distintos sectores o...?

–... bueno, no quieran saber todo lo que se va a hacer. Un poco de paciencia. Ya vamos a articular el diseño.

–De todas maneras, usted sugiere que los actores son los representativos de la sociedad, de la producción, del trabajo y no los partidos políticos. La Moncloa, en cambio, era básicamente un acuerdo entre fuerzas políticas.

–No hay que olvidarse de que el Pacto de la Moncloa viene después de cuarenta años de franquismo, en el gobierno de transición, luego tuvieron el Tejerazo. No me gusta decir “va a ser el Pacto de la Moncloa”, o va a ser tal otro acuerdo. Ninguna sociedad es igual a la otra, ni ningún momento histórico se repite. Tiene que ver esencialmente con un acuerdo muy estructural acerca de cuáles tienen que ser las metas, tiene que ver también con este modelo de perfil industrial, en qué sectores vamos a hacer hincapié, en qué sectores es más necesaria la inversión, en dónde la tecnología. No hay que imaginar esto como una gran ceremonia en la cual nos juntamos setenta o cien personas, a la manera de proclama constitutiva con aires fundacionales, olvídenlo, esto no es así. No funciona así en ninguna parte del mundo. A veces preguntan “¿qué planes, qué medidas?”, como si gobernar fuera lanzar cuatro medidas (un plan) y sobre eso, desarrollar una gestión. No es así. Gobernar es cosa de todos los días, con todos los sectores, todo el tiempo. Hoy se fija una política, mañana cambian las circunstancias internacionales y hay que volver a reunirse para fijar metas y objetivos. Es difícil traducirlo, pero esto es lo que sucede en la gestión de gobierno.

–Aceptando la idea y aceptando también que hay una tensión entre la idea del largo plazo y la planificación...

–... éste es el gran problema del país. Hemos carecido toda la vida de una mirada estratégica de largo plazo. Esto ha dado la imposibilidad de articular a largo plazo de todos los sectores, no sólo de una gestión de gobierno.

–El gobierno de Kirchner arrancó de la emergencia, cuya salida imponía una cantidad de tareas, por así decirlo, gruesas: bajar el desempleo, bajar la pobreza, mejorar las exportaciones. La necesidad de salir tal vez motivó que el elemento básico no fuera la planificación sino la direccionalidad general y una acción intensa en el día a día.

–No, hubo un plan. Si uno recorre los discursos de Kirchner durante la campaña, a él le gustaba hablar de neokeynesianismo, de un plan de obra pública que activara la rueda de la economía y la dotara de la infraestructura necesaria. La planificación no es algo hecho con un compás arriba de un tablero de arquitectura y presentado tipo mamotreto. Están las ideas directrices y se va trabajando toda la planificación en materia de obra pública. Se está trabajando en un plan desde hace dos años, que es un relevamiento físico de la Argentina, que posiblemente presentemos en enero o febrero, donde hemos relevado provincia por provincia, región por región, en cómo está conformada actualmente en sectores productivos, sectores de servicios, rutas. Hay que profundizar en esa dirección.

–En la campaña hubo una discusión económica en cuanto a si convenía seguir creciendo al nueve por ciento con riesgo de inflación, o si convenía bajar suavemente al seis por ciento por ejemplo y controlar mejor las variables.

–Como si fuera la temperatura del aire acondicionado. Sería fantástico si tuviera un aparatito como el de la calefacción y pregunto “¿Tenés mucho calor? ¿La pongo a diez grados, a quince?”

–No es simple, ni en eso se consigue consenso.

–(Risas.) Ningún proceso económico se puede manejar desde un control. Cada vez que nos dijeron eso, Argentina terminó en recesión. La economía es una ciencia profundamente social, tiene que ver con las expectativas de todos los actores: de los trabajadores, de los consumidores, de los usuarios, de los productores, etcétera. Todas las economías del mundo crecen en la medida de lo posible, es lo que necesitamos también nosotros. En definitiva, haber llegado al 8,1 por ciento de desocupación no es una cuestión que se haga diciendo “a ver si lo pongo a cinco o lo pongo a seis”. Los que teorizan de esta manera vienen de experiencias monetaristas, con el sector financiero.

–Más allá de si se puede establecer en un laboratorio cuánto va a crecer la economía, hay dos o tres indicadores controvertidos, en especial en este año. Uno es la inflación. También el nivel de gasto público y el superávit.

–Estamos exactamente en el nivel de superávit que hemos marcado presupuestariamente, llegamos a 3,15. El desempeño en materia de gestión del gasto público también tiene que ver con el desarrollo de la economía. No entiendo cuál es el planteo. ¿Tendríamos que bajar el nivel de inversión pública?

–La pregunta es: ¿la relación gasto-producto 2007 es la mejor que imagina la presidenta para el año que viene?

–Es la que está pautada en el Presupuesto. Es increíble escuchar a los economistas que toda la vida han administrado con un déficit estructural a la República Argentina –los representantes de sus escuelas o ellos mismos en algunos casos– cuestionar al primer gobierno que gestiona sin déficit. Parece que hubiera que dar vuelta cómo se administra. Los que te preguntan son los que administraron con déficit y endeudaron a los argentinos, los condujeron a una desocupación record y terminaron con la tragedia del 2001, corralito mediante. A veces no sé qué es lo que hay que hacer para ser valorizados desde los medios de comunicación, porque desde la sociedad ya lo fuimos.

–Hay economistas que no tienen una mirada muy diferente a la del gobierno nacional que plantean que habría que moderar el gasto con respecto a 2007. No es necesario proponer un modelo antagónico para preguntarse si son necesarios retoques a los números de este año para acrecentar la sustentabilidad futura de este modelo.

–Uno va siempre durante toda la gestión ajustando, viendo si falló algo o cómo se puede mejorar. Pero, más que observaciones, lo que uno siente es que se marca que se está desbocando el gasto público y entonces va a haber déficit. Siempre todo es extremo. A partir del tomate se construyó que venía una disparada hiperinflacionaria como la del gobierno de Alfonsín o como la que tuvo Menem en su primera etapa. ¿A cuánto está el tomate hoy?

–¿Qué rol debe tener el Estado en la redistribución del ingreso?

–Activo, absolutamente. Este gobierno ha mejorado la redistribución del ingreso –no todo lo que hemos querido y era deseable–, de aquella participación del 34 por ciento del PBI que tenían los asalariados en 2003, a un 41 por ciento. Y, por primera vez desde hace aproximadamente una década y media, hemos movido el índice de Gini.

–¿Cómo se expresaría el rol activo del Estado? ¿A través de una reforma impositiva, por ejemplo?

–No, en la profundización del modelo y en la necesaria negociación de los sectores involucrados en las cuestiones de la producción. Hemos negociado más de mil convenios colectivos por primera vez en mucho tiempo.

–¿Cuándo dijo “reforma impositiva no” significa que no hay ninguna perspectiva de reforma al sistema actual?

–Hemos hecho una modificación de bienes personales, creo que ha sido una buena medida. Si me hablan de una reforma tributaria general, no lo hemos pensado. El tema de que si se reduce el IVA se traduce en menores precios y por lo tanto en un mayor poder adquisitivo, no está verificado. Al contrario, creo que si se reduce el IVA el beneficio por ahí termina apropiado por cadenas intermediarias y no por el usuario o consumidor.

Dem & Pop

–Si en un seminario internacional le preguntaran cuál es el perfil político de este gobierno y del que viene, ¿cómo respondería? ¿Un gobierno progresista, socialdemócrata, nacional y popular?

–Popular y democrático.

–¿Nacional ya no?

–Me parece que no se puede ser popular sin ser nacional, soy muy jauretcheana. Profundamente popular y democrático, lo defino sin valerme de categorías europeas. Lo es por su impronta, por su modelo de acumulación, por su manera de interpelación, su modo de relacionamiento. Por eso causa escozor en otros sectores.

–Esas referencias aluden a su lectura de lo popular. ¿Y lo democrático?

–Uno de los caballitos de batalla de la oposición era la calidad institucional. Creo que, como nunca, en este gobierno las instituciones cumplieron su rol constitucional. Fíjese lo que es la Corte Suprema de Justicia. Mire el Senado. Fui senadora por primera vez en diciembre de 1995, un senado que se fue deteriorando cada día más hasta que terminó con el escándalo de los sobornos. Me voy de este Senado como presidenta. Daniel Scioli, Alberto Balestrini, Celso Jaque, Jorge Capitanich se van elegidos para gobernar sus provincias. De este Parlamento denostado por opositores y comunicadores se va, legitimado, el oficialismo, los que defendíamos públicamente al gobierno. El Parlamento real no tiene nada que ver con lo que dicen los medios. Disculpen si estoy monotemática...

–No nos habíamos dado cuenta...

–... pero creo que los medios ocupan hoy en la región un lugar que antes ocupaban otros sectores respecto de ser los que tratan de condicionar a los gobiernos de ciertos signos políticos, populares democráticos. No es una percepción exclusiva mía. Me contó Isabel Allende que los noticieros de una hora en Chile destinan tres cuartos a informar sobre hechos de violencia, a machacar sobre el tema. Hay una direccionalidad de la información sobre inseguridad. Escuché a un comunicador contar que una persona entrevistada le dijo a un encuestador “¿de qué me sirve ganar más plata si me van a matar?”. No importa tener gobiernos que consigan trabajo o que mejoren el poder adquisitivo de los trabajadores, lo importante es que den seguridad...

–Respecto de ese tema. Se ha criticado la unificación de Justicia y Seguridad, básicamente porque se juzga que sea el mismo ministerio el que se ocupe de los derechos humanos y de la policía. Una parte sustancial de la acción de los organismos de derechos humanos son denuncias y acciones sobre delitos, excesos y abusos policiales.

–Emilio Mignone, hace muchos años, hablaba de la tensión que hay en democracia entre el valor “seguridad” y el valor “derechos humanos”. Siempre existe esa tensión pero lo más adecuado es que la Justicia gestione ambos, retomando lo que fue habitual. Sí, me parece adecuado. No creo que la seguridad sea un problema en sí mismo, objeto de planes aislados separados del modelo económico social, de la educación.

–¿Tiene prevista alguna medida para acelerar o facilitar los juicios a los represores por violación de derechos humanos?

–Conozco un proyecto del radicalismo redactado por Ricardo Gil Lavedra, puede haber algún otro. Me preocupa que ese proyecto permita que se acumule prueba de otros expedientes sin que los acusados hayan podido controlarla. Puede afectar el derecho de defensa y colocarnos en horrible posición. No quiero, en ningún aspecto, afectar la legalidad de los juicios. La legitimidad de la lucha por los derechos humanos tiene mucho que ver con su legalidad. A los represores se les dan todos los derechos que consagra la Constitución.

–Así debe ser. Pero subsiste un problema, que se expresó en la trágica desaparición de Julio Jorge López. La repetición de la prueba genera una serie de dificultades para el avance de los juicios y de sobreexigencias (y peligros mayores) para los testigos.

–Sin lugar a dudas. Un camino puede ser unificar causas en función a los centros de detención, creo que hasta la defensa de Febres había propuesto algo así para justificar su conducta frente a la de sus jefes. Hay que ser muy cuidadosos, no hay que poner en tela de juicio al debido proceso.

¿Reforma?

–Trascendió que existe la intención, durante de su mandato, de promover una reforma constitucional.

–Ah, bueno... Le puedo dar un listado así de largo (lo grafica dejando un buen espacio vertical entre sus manos) de cosas que han trascendido.

–Hablemos mejor sobre si hay o no intención de reformar la Constitución.

–¿A alguien se le ocurre hablar de una reforma y yo tengo que salir a contestar? También dijeron que íbamos a sacar la sala de periodistas de la Casa Rosada.

–Por ahí ese cambio figuraba en la reforma constitucional.

–(Risa) ¿Por qué tengo que desmentir lo que inventan? No me parece una buena metodología.

–No le pedimos una desmentida, sino una respuesta. ¿Cree que éste es un buen momento para una reforma constitucional?

–No, porque nunca se nos ocurrió. No lo veo, por parte del Gobierno.

Moción para otro
reportaje y cierre

–¿Van a construir alguna estructura política para la Concertación plural y para otros eventuales aliados como socialistas o el Frente Grande?

–Eso debería ser motivo de un reportaje a Néstor Kirchner, que va a tener mucho tiempo y les puede dar pormenores. Quien tiene que conducir los destinos de todos los argentinos tiene bastante con ocuparse de la gestión del Estado.

–¿Su idea es que el Presidente...?

–... tengo que mantenerlo ocupado (risas).

–¿Es una ocupación útil o pura laborterapia?

–El es un animal político, toda la vida ha construido política, toda la vida ha participado. Lo va a seguir haciendo. Volviendo a la estructura, es difícil proyectar porque uno interactúa con montones de cosas. Son cosas que van confluyendo. Uno no puede sentarse y diseñar la política como si fuera construir una casa... Hay mucho de trabajo cotidiano. Sí creo que debemos reconstruir un sistema de partidos políticos, con partidos que tengan que ver con un proyecto y que no todo dependa de la voluntad de una o dos personas. Cuando explota el sistema de representación, especialmente el partido radical, no se ve cuál va a ser el desarrollo de la política en el siglo XXI.

–¿Cómo imagina ese desarrollo, cómo aspira a que sea?

–Imagino espacios populares y democráticos donde los partidos se reagrupen respecto de grandes temas: la distribución, el posicionamiento en el mundo, la interrelación con la región, el respeto irrestricto a los derechos humanos. El radicalismo se acomoda, en el siglo XX, en la lucha contra el “régimen falaz y descreído”, contra el fraude, por el sufragio universal. El segundo partido del siglo, el peronismo, se ubica en torno a la justicia social. El tercer partido fue el militar, que se encargó de representar a los sectores más concentrados, que no podían llegar al poder mediante el sufragio. El problema es cómo se agrupan los nuevos partidos en el siglo XXI, en relación a qué tópicos. Y lo que debemos preguntarnos es quién cumple ahora el rol de representar a los sectores más concentrados.

–¿Cómo responde usted esa pregunta?

–Para mí, está claro que nosotros (este espacio político que represento) nos estamos agrupando en torno a una mejor distribución del ingreso, la vigencia irrestricta de los derechos humanos. Y si uno escucha los discursos que se plantearon durante la campaña, no todos... No me gusta hablar de los dirigentes de la oposición. Sería bueno que fueran agrupaciones más orgánicas, no tan centradas en una figura y que propusieran algo más que slogans. Y asumir a quién representan. Cuando uno escucha críticas a las retenciones al campo o a los juicios a las violaciones de derechos humanos, está claro. No soy yo la que tiene que clasificar eso, sería una clasificación interesada. Pero no vi en letras de molde clasificaciones exactas que dijeran “quien tiene esa posición, normalmente, es de derecha”.

–Dentro de lo que se reconoce como centroizquierda o lo que usted define como espacio popular y democrático hay otras fuerzas que comparten en líneas generales ese ideario. Por ejemplo, podrían ser los gobernadores Hermes Binner o Fabiana Ríos. ¿Ustedes deberían darse una política especial respecto de ellos?

–Esa pregunta deberían hacérsela a ellos, no a nosotros. Nosotros hemos tenido, desde el principio, una política respecto de esos sectores, muchos de sus dirigentes ya están con nosotros. Jorge Rivas, Ariel Basteiro, muchos dirigentes de la CTA. Este espacio que afecta intereses minoritarios, pero muy poderosos, debe contar con mayor sustentabilidad política y social. No es casual el diseño que se dio en estas elecciones, convocando a hombres y mujeres del radicalismo (en especial el que gobierna provincias) y del socialismo.

–La representación republicana es muy compleja. Usted fue elegida por una amplia mayoría y, desde ese mismo momento, representa a todos los argentinos, incluyendo aquellos que no la votaron. Hay un 55 por ciento que no votó Frente para la Victoria. ¿Se le ocurre algo para decirles, especialmente a ellos?

–No me parece representativo, ni democrático, ni republicano intentar representar al cien por ciento. Es una de las principales cuestiones que se están planteando en Europa, la indiferenciación de proyectos incide en el desapego a la política. Hay un excelente libro, “En torno a lo político”, de Chantal Mouffe, que aborda esta cuestión. Institucionalmente represento a todos los argentinos, soy la presidente, es claro. Pero no voy a poder representar (hace comillas con los dedos índice y mayor de las dos manos) “lo que todos quieren” porque la representación de intereses no es lo mismo que la institucional. Sobre todo en economía, las decisiones en economía no son neutras. Si uno mejora la participación de los trabajadores en el PBI, el otro sector deja de percibir una parte. Lo que tengo que buscar son las decisiones para que la mayoría de los argentinos viva mejor porque, en definitiva, también los demás recibirán beneficios en otros aspectos, por ejemplo en la calidad de vida. La modificación de la distribución del ingreso puede restarles algo pero les conviene vivir en una sociedad integrada, sin ghettos, que es el paisaje que suele verse en otros países de la región y que no terminó de llegar a la Argentina. No aspiro a representar al cien por ciento de los argentinos pero sí a una enorme mayoría. Con un modelo inclusivo, con menores índices de pobreza y de indigencia, con mayores exportaciones, más industrial, casi todos mejorarían.

–¿Para qué le jugó o le juega a favor ser mujer? ¿Para qué le juega o le jugó en contra?

–No creo que me juegue a favor. Mejor le contesto esa pregunta en un tiempo. Michelle Bachelet tuvo esa experiencia y dijo que “se juzga distinto al hombre y la mujer. Si el hombre grita, es enérgico, tiene autoridad. Si la mujer grita no tiene control, es una histérica”. O sea, siempre es más difícil ser mujer. En el senado me pasaba argumentar algo y no me hacían caso, era como si pasara un carro. Un hombre decía lo mismo y lo aceptaban. Me daba una rabia. Vamos a tratar de quebrar la racha histórica de género.

–¿Hay contenidos específicos de género que está dispuesta a promover? ¿Salud reproductiva, aborto?

–Saben que no estoy por la despenalización del aborto. Respeto todas las opiniones, no me sumo a los que estigmatizan a nadie. Mis ideas pueden tener que ver con que pertenezco a una generación en la que la mujer estuvo a la par del hombre, ni por arriba ni por abajo. No creo en los avances individuales, etarios o de género por fuera o independientemente del modelo político. En las sociedades donde hay buena distribución del ingreso, protección de los derechos humanos hay mejores posibilidades de recolocación de género.